por Martim Vasques da Cunha
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEaqVjxGpeWjVUor4udR6vT06bbn2AWnG8TAi45671sfNgWo6IXUc7nHjQTZnd7Hq0HdTgWd8OmJbWyPDNyjACRaAnZs2d8D4bjrAfWrvViSzeB2qSk7dwnACkMZvUTohssnw3JInv-EY/s400/delegate-authority.jpg)
Quando era um dissidente político, o ex-presidente tcheco Vaclav Havel afirmava que, ao sair de casa, tinha de levar um “pacote de emergência” com cigarros, roupas de baixo, escova de dente e alguns livros, caso fosse preso sem aviso.
Se algum dia eu precisar de um “pacote de emergência”, entre os livros escolhidos estará “O Poder – História Natural de seu Crescimento”, de Bertrand De Jouvenel.
De Jouvenel foi uma figura polêmica na França de seu tempo. Teve um caso com sua madrasta, ninguém menos que a escritora Colette. Foi acusado de ser fascista. Depois, acusado de ser socialista. Em 1945, escreveu o livro apresentado nesta resenha, enquanto se refugiava da Ocupação alemã em um castelo abandonado com a esposa e os filhos.
“O Poder” mostra as marcas do tempo da sua redação, mas vai além, muito além. Tornou-se também uma profecia dos nossos tempos.
O livro destrói qualquer espécie de ingenuidade que se possa ter a respeito desta palavrinha mágica chamada “Poder”. Graças à cumplicidade dos intelectuais e, claro, dos políticos, o Poder – escrito em maiúscula, como se fosse uma entidade viva, com uma lógica idiossincrática, quiçá misteriosa – cresceu exponencialmente no final do século 19 e início do 20.
Antes ele queria apenas o seu dinheiro (através dos impostos), o seu sangue (através da guerra) e a livre-iniciativa (através da burocracia); agora, quer nada mais nada menos do que a sua alma.
Como bom profeta, De Jouvenel mostra que isso aconteceu sem que ninguém suspeitasse. Na verdade, o argumento mais perturbador é o de que deixamos o Poder invadir nossa vida íntima porque gostamos disso.
Usar o termo “gostar” é um eufemismo. A palavra certa é “idolatrar”. É nesta distinção que De Jouvenel supera, por exemplo, Elias Canetti em “Massa e Poder” e se iguala a Ortega y Gasset em “A Rebelião das Massas”.
Como Ortega, o escritor francês reconhece que o ser humano só se torna pleno quando aceita a sua existência como um constante naufrágio, repleto de incerteza. O Poder inverte as expectativas: dê a sua alma, ele diz, que darei a segurança que você precisa para continuar a sua vidinha com a paz e o conforto que merece.
O homem democrático aceitou o pacto sem reclamações. Entre a dor e o nada, em vez de escolher a primeira, ficou com o segundo, disfarçado de grandes oportunidades e de sonhos jamais realizados.
Parece um vaticínio terrível, e é. Mas De Jouvenel mostra que a solução existe na capacidade do homem escolher e conquistar a sua própria liberdade – e mantê-la sob constante vigilância. O Poder quer permanecer a qualquer custo, independente das ideologias de esquerda e de direita; e o ser humano também, com a diferença de que ele sempre esteve acima de tudo isso.
Afinal, se não fosse por esse bom combate, valeria a pena viver tal história? Ou será que já escolhemos viver com “pacotes de emergência”, um atrás do outro, esperando a prisão sem aviso?
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXsqmwJGO6Vi6NJwJC7TIf96es3ukw52A3WOONMhQP8s2sX7ADFuQBkTT1DFgr7IOLR2QrebNdyhYSku8PNKPjavbsmvrzVcZUbNfc88cfQVQTdcRiPHYlCDTIWuAI0Ocy8Yi5lYMhH58/s400/49.jpg)
Tradutor(a): Paulo Neves
Número de páginas: 480
Tipo de encadernação: Brochura
Coleção: Teoria Política
ISBN: 978-85-88069-36-7
Assunto: Ciências políticas
Língua de origem: Francês
Local e ano de publicação: São Paulo - 2010
Número da edição: 1
Formato: 16x23
Peso: 560 g
Preço: R$ 100,00 (média generosa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário