sábado, 31 de março de 2012

sexta-feira, 30 de março de 2012

quinta-feira, 29 de março de 2012

quarta-feira, 28 de março de 2012

SEMPRE NO LIMITE DA FÉ.



Tom Waits, um cristão? Um metafísico-místico-bêbado?

Primeiro, temos que mandar e manter o diabo no buraco dele, o inferno. Se vocês estiver andando pelo Jardim do Éden, por exemplo, é bom vocês estar atento, pois a serpente-satanás sempre estará no limite da fé, esperando um momento de desamparo para lhe rogar que aceite a tentação e caminhe pela estrada da desesperança.

Segundo, temos que ter fé que Jesus estará aqui, e logo. O difícil talvez não seja tanto conseguir ter fé, mas ter somente ela. É o que diz Reverendo Waits: não fazer nada a não ser esperar no mesmo lugar, sem gritar e clamar pressa, esperar pelo tempo certo, o tempo da salvação nas mãos de Jesus.

Agora atenção ao asterisco: tomaram a liberdade de traduzir a frase original "Hollywood be Thy Name", um trocadilho com "Hallowed be Thy Name que é o nosso "Santificado seja Vosso Nome", por "Celebrizado seja Vosso Nome", que é tem sonoridade parecida com a frase em português e significado adequado, além de também representar uma ligação com a Hollywood citada por Waits.

Waits é ao mesmo tempo um homem religioso, em busca da salvação supra-sensível, e um malandro melancólico de humor negro, ironia bíblica e sarcasmo profano. Uma figura indecidível, como todos os grandes gênios sempre se mostraram.



Jesus Gonna Be Here

Bem... Jesus estará aqui, ele estará aqui logo.
Ele irá cobrir-nos com folhas e com um cobertor lunar
Com uma promessa,uma jura e uma canção para minha fronte.
Jesus estará aqui, estará aqui logo.
Eu não farei nada a não ser esperar aqui
Eu não tenho que gritar.
Eu não tenho nenhuma razão ou dúvida
Tenho que me desfazer deste complicado mundo mortal.
Jesus estará aqui, ele estará aqui logo.
Tenho que manter meus olhos e manté-los bem abertos para
ver o meu Senhor.
Me manter olhando o horizonte esperando uma nova oportunidade.
Posso ouvir Ele descendo a alameda.
E digo: "Celebrizado* seja Vosso Nome"
Por que Jesus estará aqui, estará aqui logo.
Eu tenho que me manter, tenho que me manter crente.
E você que eu tenho sido bom
Exceto por andar bebendo, mas ele sabe que eu vou melhorar,
quando eu deixar esse lugar melhor do que ele era
quando eu o encontrei.
E Jesus estará aqui, ele estará aqui logo.
Eu sei que meu Jesus estará aqui, ele estará aqui logo.
Eu sei que meu Jesus estará aqui, ele estará aqui logo.

A ARTE DE ... # 9.

Jorge Pineda





















terça-feira, 27 de março de 2012

segunda-feira, 26 de março de 2012

NUM OCEANO DE CINISMO...



DRIVE E O FIM DO CINISMO
por Ieda Marcondes

Em 1940, no final de O Grande Ditador, Charlie Chaplin fez o seu famoso discurso:
“Nosso conhecimento nos tornou cínicos. Nossa esperteza, severos e cruéis. Pensamos muito e sentimos pouco[…]Mais do que esperteza, precisamos de bondade e gentileza. Sem estas qualidades, a vida será violenta e tudo será em vão.”
São palavras ditas no contexto da Segunda Guerra Mundial, mas que podem ser facilmente aplicadas em contextos diversos como, por exemplo, o meio intelectual ou acadêmico (nos quais a violência seria de um tipo mais indireto, menos físico, mais verbal) ou, então, o meio político (em que a violência que ocorre em nome da esperteza é de ordem moral, social, etc.). Podemos aplicar tais palavras na forma pela qual levamos nossas próprias vidas, nossas profissões, nossas escolhas. A maioria de nós está imersa em um cinismo avançado; vivemos de ironia e tentativas repetitivas de demonstrar uma esperteza ímpar, não sentimos realmente o que estamos falando, não há coerência interna com o que estamos fazendo, não somos sinceros sequer com nós mesmos, que dirá com os outros. E, assim, nos tornamos violentos; cometemos pequenos e diários atos de violência contra nós mesmos e contra os outros.
Drive é um filme violento (do tipo de violência que destrói crânios e faz uma sujeira terrível), mas trata-se de uma violência redentora. Para salvar aquilo que, em meio a um oceano de cinismo, é para nós o que há de bondade e gentileza, não seremos violentos? Não defenderemos aquilo até as últimas consequências, até a própria morte? E nossa morte não seria uma morte honrosa?
Ryan Gosling, o excelente herói sem nome de Drive (o “driver” ou, simplesmente, “motorista”) dirige carros em cenas elaboradas para filmes de ação durante o dia e, à noite, se disponibiliza como motorista de fuga para várias empreitadas criminosas das quais ele faz questão de se manter mais ou menos desinformado e alheio. Seu mecânico Shannon, interpretado por Bryan Cranston de Breaking Bad, é quem lhe fornece carros insuspeitos, porém envenenados, para que consiga despistar a polícia com habilidade e inteligência. Fora Shannon, o “driver” não possui raízes; não possui família, amigos ou história (por isso, sequer tem nome), mas as coisas começam a mudar quando ele conhece sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e seu filho Benicio.
O filme passa um longo e necessário tempo estabelecendo a afeição que surge entre e o motorista e sua vizinha para que, quando ficamos sabendo que seu marido está para ser solto da prisão, possamos sentir tal informação com tristeza pelo novo casal (tudo feito em uma cena lindíssima: o motorista passeando de carro com ela, luzes verdes dos semáforos iluminam seus rostos, ela então conta sobre o seu marido, um farol vermelho, uma parada, um silêncio, um suspense, e um sinal verde novamente). Além disso, é o afeto entre eles que vai colocar todo o resto do filme em ação, até o último minuto.
O retorno do marido de Irene, Standard Gabriel, apresenta um novo problema à trama. Ameaçado por antigos parceiros, ele terá de cometer mais um assalto para sanar uma dívida. O motorista resolve ajudá-lo, mas tudo dá errado e logo ele, sua vizinha e seu filho estarão em risco. O “driver” precisará encontrar todos os criminosos envolvidos (entre eles, Ron Pearlman e Albert Brooks) para garantir não a segurança própria, mas a de Irene e Benicio.
O filme lida com o fim do cinismo porque seu personagem não poderá mais viver da forma que vivia. Agora que ele tem por quem zelar, não poderá, se conseguir salvar Irene e ainda sobreviver, voltar ao crime e colocá-la em risco novamente. Ele aprende que atos têm consequências, que não há verdadeira impunidade. Isso fica claro em uma cena em que um antigo “contratante” do motorista o aborda em um bar, querendo chamá-lo para mais um serviço, e ele reage com raiva, afastando o sujeito. Afinal, são criminosos que estão ameaçando o que ele conheceu, enfim, como o que há de melhor na vida (o amor, a família) e ele simplesmente não pode mais ser um deles ou sequer tolerá-los.
Drive é um filme maravilhoso, tanto sob o ponto de vista estético (há cenas lindíssimas em que a luz serve para pontuar momentos importantes, como o farol na cena do confronto com o personagem de Ron Pearlman na praia) quanto sob o ponto de vista de seu conteúdo. É um filme revigorante, raro, pois não só fala de um fenômeno escasso hoje em dia (o fim do cinismo) como trata-se de um filme de ação de gosto refinado; uma experiência que se repetirá poucas vezes.

ONE-SHOTS DO SHINTARO KAGO # 2.
















domingo, 25 de março de 2012

PORN STAR # 15.






sábado, 24 de março de 2012

sexta-feira, 23 de março de 2012

CULT É O PRÓPRIO CINEMA.



Para A. C. Gomes de Mattos, um carioca de 65 anos bem vividos, cult é o próprio cinema. Principalmente o cinema americano, do qual é profundo conhecedor. Deu prova disso nos dois livros já publicados pela Rocco na coleção Artemídia: O outro lado da noite: filme noir, lançado em 2001, e A outra face de Hollywood: filme B (2002) - textos altamente estimulantes que vieram consolidar no seleto grupo de críticos e historiadores do cinema a posição desse estudioso e divulgador incansável. Antes de mais nada e acima de tudo cabe ressaltar a marca inconfundível de Gomes de Mattos: a escrita aliciadora que sabe transmitir ao leitor o puro prazer inscrito no ato de ver um filme. Isto significa um passo além da mera difusão da informação, ainda que pertinente e necessária: trata-se de um gesto que visa dividir com o leitor paixão e prazer.

Essa generosa disposição de espírito encontra-se também no novo livro de Gomes de Mattos que a Rocco está enviando às livrarias do país: Publique-se a lenda: a história do western. O título faz alusão à frase de um jornalista na cena final de O homem que matou o facínora (1962), um dos grandes westerns dirigidos por John Ford: "No Oeste, quando a realidade se converte em lenda, publicamos a lenda."

Publique-se a lenda: a história do western compõe-se fundamentalmente de duas partes: uma ampla Introdução abarcando seis tópicos: 1) elementos do western; 2) primeiros filmes / grandes caubóis; 3) apogeu do western clássico; 4) super-western; 5) influência do western italiano; 6) o novo western; e uma Filmografia em que são arrolados 225 filmes com fichas técnicas, sinopses e comentários.

A propósito deste novo livro a editoria da Artemídia levou com Gomes de Mattos o papo transcrito a seguir:

Artemídia: Por que escrever sobre o western?
GM: Porque é o meu gênero predileto. O western é o cinema por excelência. Reúne os dois elementos essenciais do cinema: a fotogenia e o movimento. O sujeito tem que ser muito incompetente para fazer um western ruim.

Artemídia: Como assim?
GM: O western ajuda o diretor. Já é cinema, já é movimento, já é ar livre. Aliás, é um gênero que redime qualquer diretor. E como está fazendo 100 anos, aproveitei a oportunidade para abordar este tema.

Artemídia: Mas o que se diz por aí é que o western morreu. Hoje em dia quase não se fazem mais westerns.
GM: De fato caiu muito a produção de westerns nas últimas décadas. Isto ocorreu por vários motivos. Um deles foi a mudança registrada no público. A partir do final dos anos 50 houve uma juvenilização das platéias e os produtores resolveram então fazer filmes policiais, de horror e de ficção científica, com muitos efeitos especiais que, segundo eles, tinham mais possibilidade de agradar aos jovens. O western estava realmente desconectado com a época. A produção jamais voltará a ser igual à da fase áurea dos anos 50, mas sempre vão surgir alguns bons westerns, como foi o caso recente de Dança com lobos e Os imperdoáveis, que arrebataram o Oscar de Melhor Filme. Acho que a temática e a estilística do western ainda não se esgotaram.

Artemídia: No livro você traça a evolução do western clássico para o super-western. Como diferenciar um do outro?
GM: Posso dizer, em síntese, que a partir dos anos 40 o western fortificou suas ambições. O gênero passou a dar mais atenção aos aspectos psicológicos, morais, sociais, eróticos etc. do que à ação propriamente dita, à celebração da conquista do Oeste e aos mitos. As situações e os personagens tornaram-se mais complexos. O western perdeu um pouco de sua aura e o caubói romântico desapareceu. Em vez de ser somente uma diversão, o western se tornou uma reflexão sobre o homem.

Artemídia: Qual é sua opinião sobre o western spaghetti?
GM: Eu não gosto. O principal argumento contra os westerns italianos é que eles não tinham "raízes culturais" na história ou no folclore americano, constituindo-se em imitações baratas e oportunistas. Talvez o julgamento mais justo do western spaghetti seja considerá-lo como um subgênero ou um gênero à parte, bem distinto da forma original, uma maneira européia de interpretar o western, uma crítica à reconstituição do Oeste e de seu significado feita por Hollywood, ou uma sátira, se você quiser. Eu não gosto é do estilo. Zoom no western me deixa nervoso. Close-up em western... O western é a paisagem. No western italiano é tudo Zoom, Zoom. Zoom é o pior movimento de câmera.... quer dizer, não é movimento porque é um processo ótico... No cinema eu sou do tempo da fusão, que é elegante, vai passando assim, esfumaça, aquilo era lindo... Agora hoje é pá, Zoom! E depois close, close...

Artemídia: O ideal é o close só na hora do duelo, para enfatizar a tensão, pegando o olho assim...
GM: Mas Era uma vez no Oeste tem meia hora de close da mosca no... ah vá tomar banho! Quero ver é paisagem, beleza, o índio lá na montanha, cavalgando. Eu gosto dos cavalos. Eu gosto disso... Mas não se pode negar a influência que o western spaghetti exerceu sobre alguns diretores americanos.

Artemídia: Pois é, chegou até a renovar um pouco o interesse pelo western...
GM: ...porque tornou a violência mais explícita. Quando você vê Bonnie and Clyde (Uma rajada de balas) e essas outras coisas, já é... O western americano, por sua vez... isso eu descobri por acaso, semana passada, quando vi o filme... influenciou diretores italianos como, por exemplo, Pietro Germi em O bandoleiro da cova do lobo [Il Brigante di Tacca del Lupo], realizado em 1952. O próprio Germi reconheceu essa influência. Ele era fã do Ford.

Artemídia: No livro você comenta mais de 200 westerns. Como conseguiu ver todos esses filmes?
GM: Vi recentemente cerca de 400 westerns graças aos acervos de colecionadores nacionais e estrangeiros. Já recebi filmes até de um colecionador da Islândia. Os filmes mais recentes encontrei nas locadoras de vídeo.

Artemídia: Como obteve os títulos em português de filmes tão antigos?
GM: Os títulos em português saíram da pesquisa que fiz há muitos anos com meu amigo Gil Araújo em bibliotecas do Rio de Janeiro e de São Paulo, consultando as revistas antigas, Cinearte, Cena muda, Seleta, Palcos e telas, O malho, e as listas de filmes das distribuidoras então existentes que nos foram gentilmente fornecidas por diretores de publicidade como Gilberto Souto, que tinha sido representante de Cinearte em Hollywood nos anos 30 e 40, e tinha uma coluna no Correio da Manhã intitulada "Cinema, Ontem e Hoje", e Waldemar Torres, que começou como boy em 1925 no escritório recém-aberto pela Metro no Brasil e foi publicista da empresa até os anos 70. Waldemar conhecia cinema, me deu coisas raras, inclusive a lista de todos os filmes da Metro. Consultamos também as relações, publicadas no Diário Oficial da União, dos filmes que passaram pela censura do DIP [Departamento de Imprensa e Propaganda] entre 1939 e 1946, os jornais que circulavam somente no âmbito dos exibidores (O exibidor, Cine-repórter) e as filmografias do Pery Ribas publicadas no Correio do Povo do Rio Grande do Sul. Recebemos também a colaboração de fãs de filmes de caubói como Antônio Cardoso, português, feirante, e Danilo Diegues, alfaiate, que registravam num caderno os westerns que viam. Cardoso era fanático pelo Buck Jones, Danilo pelo Tom Mix, e viviam se digladiando para saber quem tinha mais filmes de seu ídolo. O Cardoso e o Danilo já naquela época mandavam vir dos Estados Unidos filmes em 8mm. No meu arquivo constam os títulos desde 1915. Para títulos anteriores a esta data pedi ajuda ao Hernani Heffner e Alice Gonzaga (Arquivo Cinédia). O cineasta Ademar Gonzaga também anotava os títulos.

Artemídia: Quem dava os títulos brasileiros aos filmes?
GM: Os títulos eram dados pelos distribuidores aqui. Por isso é que quase nunca o título original casa com o brasileiro. Aqueles títulos absurdos eram dados por João Lepiani, que era vendedor de filmes. Nos anos 30 e 40 ele percorreu o Brasil todo vendendo filme. E dizia: "Eu sou vendedor, tenho que ver meu interesse. Tava lá Gaslight, não vou botar 'Luz de lampião', vou botar 'Morte e paixão', porque se não botar, não vende." O pai dele tinha um cinema numa cidade do interior de Minas. Quando o pai acabava de passar um filme, o João cortava um fotograma do filme para ficar com o retrato dos artistas. Assim encheu vários álbuns de fotogramas. Por falar nisso me lembro que o Gil Araújo comprou de um sujeito do subúrbio os álbuns em que ele colava todas as resenhas de filmes que saíam nos jornais - álbuns de cinema inglês, cinema americano, cinema francês... Esse tipo de fã não existe mais.

Artemídia: Na sua opinião quais são os maiores westerns de todos os tempos?
GM: Os meus prediletos são Rastros de ódio (The Searchers) e Paixão dos fortes (My Darling Clementine), ambos de John Ford.

Artemídia: E os grandes caubóis do cinema, quais foram?
GM: Dos antigos gosto de Buck Jones e Ken Maynard. Buck era também um bom ator. Maynard fazia piruetas sensacionais na sela de um cavalo. Dos mais novos, John Wayne e Randolph Scott na sua fase madura, justamente aquela dos westerns dirigidos por Budd Boetticher.

Artemídia: O western é um gênero basicamente masculino, mas houve algumas heroínas nos filmes.
GM: Houve, sim.

Artemídia: Qual seria a atriz mais importante dentro dessas poucas heroínas do faroeste?
GM: Tem uma que sempre fez papel de mulher poderosa, forte, inclusive no noir, a Barbara Stanwyck. Ela já era mulher fatal no noir, mas no western trabalhou no filme de Samuel Fuller, Forty Guns (Dragões da violência), que tem aliás uma apresentação fantástica. O filme não é lá essas coisas, mas na apresentação ela aparece galopando com quarenta cavaleiros... Aliás, a Barbara Stanwyck moça fez a atiradora Annie Oakley. No western ela fez papéis de fazendeira poderosa ou malvada. Em Almas em fúria, de Anthony Mann, ela briga com o pai, rasga o rosto da madrasta com uma tesoura... Em Johnny Guitar a Joan Crawford era a personagem central... Mas em geral no western a mulher tem um papel secundário, de mocinha, professorinha, ou dançarina de saloon...

Artemídia: E a Calamity Jane?
GM: O cinema romantizou a Calamity Jane, que não era nada daquilo.

Artemídia: Dos westerns que tentaram fazer justiça aos índios, quais seriam os mais significativos?
GM: O primeiro foi Broken Arrow (Flechas de fogo), de Delmer Daves, e depois Apache (O último bravo), de Robert Aldrich. Há vários. Já Little Big Man (O pequeno grande homem), de Arthur Penn, é mais do que isso, é uma alusão ao Vietnã. Parece que tem uma seqüência inspirada no massacre de My Lai. Quando veio o western adulto, psicológico, o pessoal antigo não gostou, queria era o velho bangue-bangue, o comediante Milton Berle deu esta definição: "western adulto é aquele em que o herói no final continua beijando o cavalo; só que desta vez ele se preocupa com isso".

Artemídia: No contexto do filme de ação você não acha que o western influenciou os filmes de Kung Fu, por exemplo?
GM: Ah sim, claro, porque é filme de ação. Até Mad Max, aquele australiano, tem coisas do filme de caubói. O western é um gênero que influencia porque agrada universalmente. Foi o primeiro gênero, desde a época do cinema mudo. Todos os países fizeram filmes de caubói, ou paródias. O faroeste influenciou bons diretores, formou muito público.

Artemídia: Existem westerns brasileiros?
GM: Durante o surto cinematográfico em Campinas nos anos 20 tivemos Sofrer para gozar de E. C. Kerrigan, um pseudônimo naturalmente. Na década de 50 houve um ciclo de aventura rural com nítida influência do western americano, inaugurado por Antoninho Hossri com Da terra nasce o ódio. Em seguida surgiram Lei do sertão, também de Hossri, Dioguinho, de Carlos Coimbra, O capanga, de Alberto Severi etc. Nos anos 60 e 70 houve uma ressurreição do gênero com Gregório 38, Quatro pistoleiros em fúria etc. Os filmes de cangaceiro sofreram influência do western americano. Há ainda a paródia Matar ou correr, de Carlos Manga, e No tempo dos bravos, de Wilson Silva, com atores infantis.

Artemídia: E em outros países?
GM: Posso citar a série francesa silenciosa, Arizona Bill, com Joe Hamman. Nos anos 30 foram produzidos westerns na Alemanha, inclusive aquele, muito conhecido, O imperador da Califórnia, baseado na vida do suíço Sutter, e mais tarde aqueles baseados nas histórias de Karl May. No Japão, no final da década de 50, o estúdio Nikkatsu realizou uma série de paródias do western americano, estreladas por Jo Shishido. A fortaleza escondida e Os sete samurais, de Akira Kurosawa, por exemplo, são visivelmente influenciados pelos westerns americanos, e Sete homens e um destino (The Magnificent Seven) inspirou-se por sua vez no segundo filme citado de Kurosawa. Na Austrália, em 1946, fizeram The Overlanders que, se não me falha a memória, chamou-se no Brasil A manada. A influência do western é universal.

Artemídia: Agora uma nota bem pessoal. Quando você começou a ir ao cinema?
GM: Foi pra ver A vida de Cristo. Vocês sabem que na Semana Santa os cinemas antigos passavam A vida de Cristo na sexta-feira e as mães levavam os filhos. O mais interessante que eu descobri é que essa Vida de Cristo que até os anos 50 passava no Pirajá, em Ipanema, era muda. Aquela cópia estragada era de 1905 ou 1906, e as pessoas iam ver e achavam aquilo lindo. Comecei vendo a Vida de Cristo, Pinocchio e coisas de Walt Disney. Mas até os anos 60 passava na Semana Santa o Ben-Hur no Pirajá, o Ben-Hur com Ramon Novarro, de 1926.

Artemídia: Certamente você freqüentou cineclubes...
GM: Freqüentei os que havia...

Artemídia: ...e chegou até a fundar um, não é?
GM: Bom, o que aconteceu foi que eu e um primo que também gostava de cinema fomos à Maison de France pra ver se conseguíamos uns filmes emprestados. Mas a Maison não emprestava a particular, tinha que ser uma firma, uma pessoa jurídica. Então eu e meu primo fundamos o Cineclube Jean Vigo, com sete sócios etc. Com isso a gente podia trazer os filmes pra casa. Mas não era aberto ao público. Era só pra gente poder ver aquilo tudo. Eu sempre digo... aliás, o Sérgio [Leemann], num desses prefácios que fez para um dos meus livros, diz que eu sou insaciável. A minha característica é fã... fã... não quero ser crítico, nada disso... eu sou fã de cinema insaciável. Eu quero ver tudo. E isso é uma loucura. Por isso que eu não vejo muito filme atual. Eu quero ver os filmes pra trás, que eu não pude ver. Eu vou morrer, quero ver aqueles filmes. Então saio por aí buscando filme alemão, filme não sei de onde, principalmente das décadas de 20, 30, 40, aquele raros que eu não pude ver quando garoto.

Artemídia: E a vanguarda, o cinema experimental?
GM: Quando era garoto vi os filmes de Bunüel, Le chien andalou, por exemplo, que é genial. Este aliás é uma exceção, não é? Quando vi pela primeira vez achei fantástico, mas eu era garoto. Depois me aburguesei, fiquei velho, conservador, chato. Hoje eu acho que o cara pode fazer o filme que bem quiser, é claro. Todo mundo tem liberdade, faz o que quiser. Agora agüente as conseqüências, é ou não é? Você não pode fazer filme experimental e... Você diz assim: meu filme é experimental porque eu estava tentando saber se eu sabia fazer cinema. Peraí, você quer experimentar e eu é que tenho de aturar? E ainda por cima quer patrocínio? Não dá. Você quer fazer o filme que você quer, você faz com o seu dinheiro, não com o meu... O Lepiani, que também foi produtor de cinema, dizia pra mim: "o pessoal quer fazer filme com o meu dinheiro. Com o meu dinheiro eu quero fazer o filme que vai me dar lucro; senão, não me interessa. Quer fazer vanguarda, faça, mas com seu dinheiro". Eu não gosto de vanguarda. Eu reconheço que a vanguarda também impulsiona a arte, pelas idéias novas, nisso ela é imprescindível. Mas eu gosto da vanguarda depois que foi mastigada, depois que já foi incorporada ao mainstream, vamos dizer. Entendeu? Porque das vanguardas pouca coisa fica. E as coisas boas depois são incorporadas no cinema normal. Godard, por exemplo, eu acho um chato, aqueles filmes eu acho chatíssimos... Um dia passaram no ginásio da PUC-Rio, onde sou professor, A chinesa, do Godard. Tava assim de gente. O primeiro rolo não veio com as lentes do Cinemascope. O Cinemascope usa uma lente chamada hipergonar. Você tem que botar essa lente. Ele é todo charuto. Tem que botar essa lente. Passou a primeira parte em charuto. E o pessoal: genial! genial! Depois, no segundo rolo, charuto de novo. Aí eu falei: o que é que é isso? Disse pra professora minha colega: vou me deitar aqui nesse banco, vou dormir aqui até acabar. Deitei no banco. Quando olhei, tava acabando e tava charuto. Aí eu falei com a professora. Ela disse: ah é, esqueci de botar a lente. E os caras achando genial... Eu não agüento os filmes de Godard. Agora ele é intelectual, dá aquelas citações. Ele foi importante. Depois o próprio cinema americano pegou algumas coisas do Godard e também da Nouvelle Vague. Aproveitaram aquilo e botaram no cinema direitinho... Aí eu gosto. Depois que a vanguarda é peneirada pelo tempo, eu aproveito... Me lembro que uma vez um amigo, achando que eu andava muito intelectualizado, só ligado em filmes cabeça, me disse: você tá perdendo o prazer de ver filmes, você perdeu esse prazer. Mas tem que ter prazer. Volte pra trás, vá ver um filme de Buck Jones. Aí eu vi. Depois de velho voltei pra trás. Quando era jovem era metido a intelectual. Agora eu quero prazer. Estou voltando à minha infância.

Artemídia: Tem em mente algum projeto de livro?
GM: Estou preparando uma história do cinema americano. Mas em vez de abordar o aspecto estético, vou tratar dos aspectos tecnológico, econômico e social. Não pretendo fazer uma avaliação crítica dos filmes e dos diretores. Vai ser mais uma história cultural. Título provisório: Fábrica de sonhos: a velha e a nova Hollywood. Não existe história do cinema americano escrita em língua portuguesa, nem do cinema francês, inglês, italiano, alemão, russo etc. O conhecimento da história do cinema mundial faz parte da educação cinematográfica, indispensável para que o espectador possa dominar o filme em vez de ser dominado por ele.

"ARTE" NA RUA # 143.

quinta-feira, 22 de março de 2012

FRAGMENTOS DA MEMÓRIA # 11.

I WANT LOVE TO... FUCK ME!!!



Interrupção do Amor

Eu quero que o amor
Me rode devagar
Enfie uma faca em mim
E a torça

Eu quero que o amor
Pegue meus dedos gentilmente
E os bata em uma porta
Coloque meu rosto no chão

Eu quero que o amor
Mate minha mãe
E a leve pra algum lugar
Como o inferno ou lá pra cima

Eu quero que o amor
Mude meus amigos pra inimigos
Mude meus amigos pra inimigos
E me mostre como isso tudo é minha culpa

Eu não vou deixar o amor me atrapalhar,corromper ou me interromper
Eu não vou deixar o amor me atrapalhar,corromper ou me interromper
Eu não vou deixar o amor me atrapalhar,corromper ou me interromper mais

Eu quero que o amor
Ande em cima de mim e me morda
Me agarre e lute comigo
Me deixe morrendo no chão

E eu quero que o amor
Corte minha boca e
Cubra meus ouvidos
E me deixe surdo

Eu quero que o amor,
Esqueça que você me ofendeu
Ou como você me defendeu
Quando todo mundo me machucava

Sim eu quero que o amor
Mude meus amigos pra inimigos
Mude meus amigos pra inimigos
E me mostre como isso tudo é minha culpa

Eu não vou deixar o amor me atrapalhar,corromper ou me interromper
Eu não vou deixar o amor me atrapalhar,corromper ou me interromper
Eu não vou deixar o amor me atrapalhar,corromper ou me interromper mais

A ARTE DE ... # 8.

Benjamim Béchet