sábado, 25 de setembro de 2010

CUIDADO COM A ESPADA DELE.

Para o diretor de 13 Assassins, jovens não conhecem história antiga do Japão



13 Assassins é uma nova versão de um longa-metragem em preto e branco dirigido por Eichi Kudo em 1963 e baseado em famosa lenda. Na trama, o cruel Naritsugu, que está acima da lei por ser irmão do Shogun, faz o que bem entende, extraindo prazer da maldade. Para impedir que ele assuma o poder, o oficial Doi chama o samurai Shinzaemon Shimada (Koji Yakusho), que reúne 11 guerreiros para matar Naritsugu, protegido por um grande grupo. Perdidos na floresta, eles acabam recrutando um 13º homem, o caçador Koyata (Yusuke Iseya).

A trama, que em princípio leva o gênero a sério e pretende ser fiel ao original, é difícil de acompanhar no início. Tudo é uma preparação para a grande e longa batalha numa pequena vila, em que os 13 assassinos do título enfrentarão 200 pessoas. Ali, Miike coloca seu talento a serviço da criação de artifícios visualmente impressionantes e – mas também humor, na forma do engraçado Koyata, que debocha dos samurais e também dos filmes do gênero. É quando o filme consegue algum fôlego.



Nos últimos anos, um seleto grupo de cineastas orientais tomou de assalto os principais festivais de cinema do mundo ao transformar a violência em estilo. Nomes como o sul-coreano Park Chan-wook ou o chinês Johnny To. Mas nenhum deles é tão radical e excessivo quanto o japonês Takashi Miike. Radical e excessivo no ritmo de produção: foram mais de 60 filmes em 20 anos de carreira (só no Festival de Veneza 2010 serão três deles: 13 Assassinos, em competição, e ainda Zebraman 2 e Zebraman, de 2004). Radical e excessivo, sobretudo, nas cenas de violência e sexo, filmadas com uma crueza raramente igualada no cinema.

No Festival de Toronto de 2001, o público recebeu sacos de vômito para a sessão de Ichi the Killer. Golpe de marketing, sim. Mas também uma questão de delicadeza com os espectadores: em uma das cenas, um assassino corta um homem ao meio verticalmente, da cabeça aos bagos; em outra, ele retalha um rosto, os pedaços voam e escorrem pela parede.



Em 2005, Miike foi convidado a participar da série Mestres do Horror, que reuniu grandes nomes do gênero, como John Carpenter, Tobe Hopper e Dario Argento, com suposta liberdade para conteúdo violento e sexual. O episódio do cineasta japonês foi o único não exibido pelo canal Showtime. “Até para mim foi difícil assistir. Definitivamente, foi o filme mais perturbador que eu vi na minha vida”, explicou Mick Garris, o criador da série.

Mas os filmes de Miike não devem ser confundidos com Jogos Mortais e congêneres. Eles têm um refinamento narrativo e estético que os distancia dos “gore movies” baseados exclusivamente na exibição de sangue & tripas – o que ajuda a explicar o interesse dos grandes festivais. A prova disso é que Miike vem obtendo sucesso também quando se arrisca em outros gêneros, como épicos marciais e até filmes infantis.



A carreira de Miike é quase um fruto do acaso. Apaixonado por motos, ele cogitou a idéia de ser piloto profissional. Decidiu cursar a escola de cinema fundada pelo mestre Shohei Imamura (A Enguia) em Yokohama, mas era um dos piores alunos. Quando uma TV local procurou assistentes de produção sem salário, eles indicaram o moleque que nunca aparecia nas aulas: Miike. Ele ficou dez anos na televisão, passou por diversas funções, tomou gosto pela coisa – e acabou se tornando assistente de direção em longas de vários cineastas, incluindo Imamura.

Seu trabalho como diretor começou em 1991 no chamado “V-Cinema”, de filmes de baixo orçamento feitos direto para DVD. Ele só iria estrear na tela grande quatro anos depois, com Shinjuku Triad Society. E a aclamação internacional chegaria ainda no final daquela década com Audition (1999), que daria início ao culto de seu nome no Ocidente. A partir daí, veio um sucesso atrás do outro, como a trilogia Dead or Alive, Visitor Q e Ichi the Killer, entre outros. Filmes que variam da mais extrema violência e perversidade sexual até a mais moralista defesa dos valores familiares e da pureza da infância. Ou seja, algo completamente nipônico.

A imprensa ocidental, sempre ávida por rótulos, rapidamente classificou Miike como “o Tarantino japonês”. Mas, dada a ascensão de Miike no cenário internacional, não é impossível que, daqui a algum tempo, os cinéfilos digam que Tarantino é “o Miike americano”.

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