domingo, 31 de outubro de 2010

NO FUTURE 3

Todos queriam ser vistos, notados, fugir do mundinho.
Uma das maneiras era ser um dos "Filhos do Jair", seleto grupo formando pelo nosso profº de Teoria da Comunicação.
Ele fazia a linha Mickey Rourke (anos 80) e vomitava muito Baudrillard. Queria manjare todas as petits locais. Não dava aula para a mesma turma nos semestres seguintes, il loro repertorio e menu finita in un mezzo. Sacou?!





“L’Olp sceglie la linea dura.” Linha fina: “Le fazioni palestinesi ritrovano l’unità”. Acho que era essa a manchete do “Repubblica”. Futebol é boa na rede. Descobriram , “les arrrrabes”... Altogether now, cantando juntos: Arafat, Abu Nidal, Kadafi il colonnello, rei Hussein, Khomeini, Mubarak, shakatak, vamos acabar com essa palhaçada de intervenção, vamos arrumar o Líbano, acabar com a guerra Irã-Iraque, sanear o mercado petrolífero, depor os retrógrados, and here we go! Mas o que esse designer terrorist está fazendo ali no corredor? Por que logo no Expresso do Povo? Por que não nos TWA lá por aqueles lados? Mas ele é esplêndido: granada na mão, Kalashnikov na outra, botinha Dr. Martin’s, Army Surplus jacket... Uma bandeira ambulante. Como passou em Heathrow? Com toda aquela passação de mão, fio e tela? Podia estar na capa da “Smokin’Gun”. Reportagem especial: “As mil e uma noites glamurosas de um terrorista V.I.P.” Entrevista exclusiva... Mas todos dormem. A truca no sonho de Microsoft ainda está nos créditos. Só o stiletto de Jarretelles perturba a paz no corredor. Ram-bararam começa a falar. Errou o timing. Vai nos desviar praonde? Cuba? How boring...
“Messieurs dames, nous sommes le fratelli du SUCK. Nous avons pas l’intention de derranger votre sommeil. Mais questo avion est maintenant sous le control de les Armees Saintes de la Croisade du SUCK. Peace to the fratelli arrabes. Si vous ne bougez pas, no probleeeem. Stay in you seeeets, et attendez des nouvelles informations.”
Operação soft, essa do SUCK... Mas é claro! É a nova estratégia . Suicide Commando Kalamazoo. Tratamento de primeira classe aos “reféns”. Enquanto duram. Depois, banzai! Orgia kamikase. Explodiram um 767 em Chipre. Enfiaram um Jumbo de bico em Le Bourget. O que vai acontecer com o Expresso do Povo? Vão mirar aonde? No World Trade Center? Na Casa Branca? No Madison Square Garden? Mas como todo mundo dorme? E... shit, Ram-bararam vem vindo para cá, percebeu que estou um pouquinho inquieto, será que vem coronhada e depois ele pega jarretelles como “refém preferencial”? Alá é grande e o SUCK é seu profeta, eu sei, Alá é grande, enorme, larger than life, mas francamente, signori, desviar um People Express? Afinal já não está todo mundo unido de novo? Al Fatah, FPLP, FDPLP? O problema é que Abu Nidal, o das bombas, e Abul Abbas, o do Achille Lauro, ficaram de fora, extra heavy-metal, o SUCK será uma fração sob seu controle parcial... Mas não vai dar para argumentar com Ram-bararam. Dizer que Egito, Síria, Jordânia, OLP, Moscou, Israel, todos de alguma maneira já estão definitivamente empenhados em achar a malfadada solução para o problema palestino. Ram-bararam não quer saber. Outros já estão acordando, é o pânico, não é a aeromoça sonolenta, é Ram-bararam de Kalashnikov, designer terrorist, e agora, vai pedir passaporte, efeito Auschwitz, djodéoooss para a primeira classe, abatedouro de reféns, e o resto fica aí atrás lendo Penthouse como se nada estivesse acontecendo? Ram-bararam, leva jarretelles que ela dará mil e uma noites árabes de american horniness, tu não vai querer jamais voltar lá para as suas negas de véu... não. É sério. Um ali com cara de vendedor de autopeças, gordinho, rosinha, camisa branca de manga curta e gravata marinho, perspirando, já levantou e ganhou uma intimação de fuzil. Ram-bararam é enfático: “C’est la intensification della lotta arrrrrmata contre l’inimigo Israelllll fin all liberation de la Palestina com la capitale Gerusalemmmmmm!” OK, ele quer, Gorbie quer, les arrraabes querem, todo mundo quer, faz uma votação aqui com o People e terás maioria absolutà. Mas não adianta, faites vos jeux, messieurs, estão feitos, só quem não quer a conferência de paz é Israel, mas então, fratelli du SUCK, vão lá desviar uns El Al, apesar de segurança, vão lá procurar reféns de luxo na primeira classe da TWA, mas aqui, não vai dar nada, Ram-bararam vem para cá, shit, dei bandeira com wop no colo, ele vai achar que é um transmissor da CIA, a coronha em grande angular, o som abafado, “ne regardez... PAS!” PAH! Zzzzzzzz... OOOOOOOOmmmmmm... satori? Nirvana ou inferno? Nada, niente, só o aviso mekanik, “apertem os cintos e não fumar”. Abu Ammar, 66, camarada Yasser, “estamos aterrissando...” Sim, que a paz de Alá larger than life esteja convosco boing boom tscha ka ka ka ka ka kak.
continua...

TIRINHA #24

sábado, 30 de outubro de 2010

TIRINHA #23

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

NO FUTURE 2

Um dos passatempos adorados na faculdade, era o tiro ao alvo com ovos, nos escrotos que inundavam o local.
Tinha o auxílio do grande "Mestre da Mira", era um tipo Doc Holliday de Ermelindo Matarazzo.





Get down to the funky beat… Gueguegueget… DOOOWN! Tjun Tjun Guegueguegueguegue Tjun Tjun Guegueguegueguegue Tjun Tchah Tjun Tchah Tjun Tjun Tum Tchah… Man Machine MusiK Komputer synchro sound rapeia e arrepia no éter tonight do Expresso do Povo. O império da Roland 1001. Jarretelles deve ouvir rap. Que ouve agora? Madonna – “The Holy Spirit Mix”. No máximo. Controlado. Ondula no assento como se estivesse no back seat de um Chevy 57 escutando “Sweet Little Sixteen”. Oh, padre Chuck, onde nos lançaste? Voyeurismo soft – a tela de wop faz blink, a tela do movie faz blink blink, esquizo dub nas alturas entre cursor em repouso e tiroteio high-tech. Jarretelles é o melhor filme em cartaz. Deveria estar mini – mas aí não haveria jarretelles. Pernas de bodybuilder. Stiletto. Bleached Blonde. Um arquétipo MTV aéreo. Ninguém vê. Ninguém quer. Vivemos sob o espectro... O Duque Rosa. O Duque D’Aids. Le Chevalier Rose. O nome da peste. Peste mesmo era a sífilis. Infiltrando-se nas cortes dos Sforza, dos d’Este... A peste de Artaud... Jarretelles seria nocauteada por um editorial da imprensa nova-direita. Símbolo de Aids mental. “O mal espiritual que consome a geração dos filhos do rock debilóide e da vulgaridade pedagógica, os beatos do niilismo audiovisual, alimentados de sopa infra-ideológica cozida ao show-biz etc.” Um editorial hardcore contra toda esta decadência. “Nossa juventude perdeu suas imunidades naturais. Está sujeita à decomposição por todos os tipos de vírus.” TCHAram. DUM TCHAH DUM DUM TCHAH. TCHAram. Oh, no, logo agora o demencial terminal dos Beas-TIE-BOOOOYss... Bestial demais para a nova-direita. Editorial com trilha sonora. Jovens=droga=mestiçagem=“costumes anarquizados”=Aids=complô trotskista... Jarretelles é perfeita. Cleo tinha uma parecida. Era “Apolo Aids”. Sua “namorada”. Dos bas-fonds de São Paulo, South América, para a glória da modelagem e da peste. Bestial. Breve, para todos, estrela rosa na testa. Nos EUA já são 4H. Homossexuais, heroinômanos, haitianos, hemofílicos. Tradução ready-made: preto, bicha, drogado... A engenharia genética sanciona: dancem o rap da discriminação. Aids mental? O medo do Outro. Do Estrangeiro como poço pestilento. Excelente o projeto de Cleo. Ele e Apollo Aids espalhando a peste por todas as vítimas da moda de San Paolo del Brasile. Mais peste, só em Nu Yoik. Cleo luta como pode. È isolado porque MUITO diverso. Contra-ataque editorial a anexar na matéria designer boys-material girls: “É lógico que uma ideologia reduzida ao cada um por si sem outro horizonte a não ser o de um economicismo amputado de qualquer dimensão social termine descambando em um narcisismo pudico e moralizador”. Meio proustiano, o período. Efeito Beastie Boys... “No! Sleep! Til Brooklin!” Não, no sleep com escala em New Jersey e mais um cross country até El Ei. Microsoft dorme porque todos os seus problemas estão digitalizados. Jarretelles acaricia-se por inércia. Os outros dormem porque “Mad Max 5”... frankly my dear, I don’t give a damn. Resta o rap da decomposição... Uma questão de cor. Marcianos verdes. Perigo amarelo. Medo dos vermelhos. Raiva dos pretos. Peste negra do terrorismo. Efeito testa rossa... O arco-íris do terror. Quem vai sobrar? Os incolores, inodoros e insípidos? Não! Que venha o dragão bestial, vomitando sangue, sexo e morte. O diabo? “The Face”. Está lá, em todas as capas. Interiorizado o estado de guerra permanente. Alien 1, 2, 1000 corrói o útero do Ocidente.
E Big Brother is watching me. Espírito em suspensão. Na tela de wop poderia aparecer uma mensagem. “Estrela quer contato. Enter information.” Não aparece nada. Wop é velho. Não “se comunica”. Não pode falar com designer PCs. Nem com centrais de informação. No máximo fala ao telefone. Aqui, no ar, só resta nosso improdutivo tête-a-tête. Lá embaixo, cada um busca o outro, e o encontra na tela ou no fim da linha. Proliferação impudica de chamadas. Encontros simulados mas sempre possíveis. Confissões mais ou menos sinceras. E os sociólogos lamentavam a não-comunicação na Metrópolis “anônima”, “inumana”... Os muros começaram a falar. Hoje, dazibao eletrônico all over. Mais democracia direta? Jogos, pelo menos. Como Art e seu blá-blá-blá eletrônico com a moçada da inteligência artificial. Microficções híbridas. O fantasma em mix com o real. Quem joga está no coração do roteiro. Mas o que vai acontecer? Vai acabar o cinema como o conhecemos. Como teme Fellini e como já pensa Coppola. Será o império da comutação. Todos commuters, como quem pega um trem, depois o metrô, depois o ônibus, e chega ao trabalho. Mas na rede eletrônica pode-se chamar qualquer um em qualquer lugar. Pode-se movimentar à vontade. Pode-se mudar de rede à vontade. Quem é o outro? Uma presença indiferente. Não perturba. Não ingombra l’uscita. Cada um está protegido pela tela. Anonimato. Irresponsabilidade. O câmbio? Pode ser direto. Provocativo. Agressivo? Raro. Tudo já está praticamente teleorganizado. Império do anonimato. Comportamentos flutuantes. Questão de interação, filtros e telas interpostas, próteses de linguagem, saber, inteligência. Corpo? Que corpo? Para que serve? Déjà-vu. Kaput, finito. Mas se não conseguirem, como já provou Dreyfus em Berkeley, se não conseguirem o computador de quinta geração, “pensante”, o Dionísio eletro da inteligência artificial saído da coxas dos mini-Zeus de laboratório... The Spirit in the Machine... O fim da filosofia, o fim do humanismo, hip hop techno-scratching com The Doors ao remix, this is thethethethethethethethethe… END! No names, please. Não haverá nomes. E não haverá este ou aquele nome. Não será preciso identificar mais ninguém. The Doors of Redemption... O anonimato engendrando a anomia...
E se dá em libertação? Suspensão da responsabilidade? Suspensão dos códigos sociais? Can you see the light? I can see the light... Feliz aterrissagem na sociedade espectral. Imaginário em mix com o real. Real fantomático. Invenção, inverão, desmultiplicação de papéis. Cada um diretor de arte de sua própria vida. Cada um se decompõe como em espectro de luz. Fim do corpo. Fim do sentimento íntimo de si e do outro. Chega de “eu”, “ele”. O futuro, é o espectro... Nada a perder, a não ser nossas correntes. Avançar! Explorar as formas extravagantes do exotismo artificial...
O futuro é o espectro... O presente, seria um hamburger. Um Air-burger. Não tem. Inventam hamburger, blue jeans, rock’n’roll, mísseis termonucleares, mas não inventam o hamburger aéreo na companhia aérea pagável com cartão magnético no ar. E no entanto, os Big Macs voam. Já dão a volta no Equador 104 vezes. Soja retexturada no bife? Polisilicato no shake? E daí? I need junk. The food, not the times. A época, daqui, do éter sobre as brumas, sobre o Atlântico, só provoca indiferença. Efeitos de indiferença. Em volta, absorções e revulsões. Charuto de lataria de alumínio, carregado de 47 mil galões de querosene, the dawn of new day a 10 km da terra e 1.000 km por hora enfiando-se em abismo de energias inversas a velocidades diferenciais – como o maelstrom de Mr. Poe... POU PAH PUM PUM PUM PAH é Public Enemy no walkman, terroristas culturais do hip hop HUH! Cantam, cantam? Descarregam “Mi Uzi Weighs a Ton”, Um fuzil Uzi de uma tonelada... O pragmatismo afro-americano aplicado ao designer terrorism... Efeito indiferença. Ou abismo à la maelstrom de Poe, ou transformar-se em fantasma holográfico. Glisser, este lindo termo francês, glisser, glisser e glisser ainda mais como uma forma a laser, desaparecer sem provocar atenção, minar o real, real? pela auseência...
Wop na bandejinha da People, sonho de cristal líquido – de bandeja. O que ele quer que eu tecle? Matéria, recado, texto livre, livro, roteiro? Tudo. Ele quer engolir tudo com sua memória sem digital delay. Não resta nem mesmo o ato heróico de arrancar a página preenchida de caracteres, gesto, em que escreve, paralelo a sacar o Colt no velho Oeste. Gimme a break, wop. Em um mundo sem memória como esse, tudo já está projetado – vivo – no passado. Bomba, é isso. A única que existe. A que imobiliza as coisas em um recorrência espectral. O que esperamos? Que alguns aerolitos ou meteoritos tenham sido arremessados à dimensão do futuro – onde os reencontraremos com a indiferença de quem já viu este filme antes...
Delícias do exílio voluntário... Na irrealidade, no outro lado do mundo, no movimento constante, na melancolia... Próximo às “raízes”? Sim, mas no mínimo a 10 mil km de distância. Visão crystal clear. E quando toca o telefone, em algum lugar... “Um minuto, que é do Brasil!” Sempre uma voz meio assustada, de telefonista ali acostumada com seus circuitinhos, e de repente projetada à caça de um nômade. Um minuto, que é o passado, a História, pesadelo incluso, entrando via satélite pelo circuito do éter e da memória. As vozes das “raízes” são tristes trópicos revisited, carregadas de rotinas e problemas de tristes trópicos. “Como é que tá aí?” Aqui todos correm atrás de sua sombra nos desertos da cultura e da vigilância high-tech. Correm em stereo, em vez de hi-fi, ou vitrolinha com auto-falante embutido. A vida é sofisticada em stereo, uma inutilidade, e perde-se na obsessão de segurança, como a música, em compact disc digital, perde-se na obsessão da fidelidade. Aqui tudo aspira a ser perfeito – e a vida perde-se nessa obsessão. Não é melhor aí, na selvageria e no calor dos trópicos? Comunicação cortada. Um correspondente que não mais corresponde – ao que se deve esperar, como a Jane Fonda de Godard em “Tout Va Bien”. “Como é que ta aí?” “Tudo bem”. E não se fala mais nisso.
De London a El Ei via Nu Yoik. C’est toujours la mème chose, monsieur. As cidades do mundo são concêntricas, isomorfas, sincronizadas. Só existe uma cidade – simultaneidade mundial da circulação e das trocas, revolução permanente, magnetismo radical e instantâneo. Sensação das sensações: chegar em uma cidade e prendê-la em flagrante delito de pulsação. Ferramenta: o curto-circuito da defasagem horária. Tóquio-Moscou, Moscou-Paris, Paris-Nu Yoik. Com pequenas escalas. Essa mata. Satélite em volta da Terra, arco em torno do círculo, elétron disparando, tentação de escapar, projétil ao cosmos... Pensamento crystal clear. Flerte com a altitude sideral, exame quadro-a-quadro da curvatura das coisas, da curvatura da Terra, da curvatura de sua própria vida, pesos, inflexões, correspondências, reversibilidades, lá de cima, do escape sideral, a curvatura das coisas e a curvatura de uma vida.
Queria apenas permanecer nesta suspensão. Mas é um momento, aquele momento bergmaniano de comer os morangos silvestres sob a árvore frondosa, o descanso do guerreiro, momento dos morangos arrancado de uma vida de espinhos. A telinha de wop me encara, piscando. Indivíduo em flutuação. Olho exorbitado pendurado por um fio a seu nervo ótico. Câmera automática perscrutando a Terra em 360 graus – mas sem transmitir percepção. “I like to watch.” Terminal panóptico – sem encarnação. Trânsfuga. Um trânsfuga. De alguma possível mutação.
continua...

QUERO OUVIR 9











TIRINHA #22

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

TIRINHA #21

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

TIRINHA #20

NO FUTURE.

Aos malditos filhos da noite, que se perderam pelo caminho...
Estava no 1º ano da metô quando li este livro. Era um mundo novo que se mostrava.
Sentado na mureta, quase sempre com "Cristina", procurava respostas nas perguntas que não sabia.





“...e é assim como sonho ter sido um desses escravos vindo de um país improvável, triste e bárbaro, para arrastar na agonia de Roma uma vaga desolação, embelezada com sofismas gregos. Nos olhos vacantes dos bustos, nos ídolos diminuídos por superstições claudicantes, teria encontrado o olvido de meus ancestrais, de meus jugos e de minhas recriminações. Unindo-me à melancolia dos antigos símbolos, teria me liberado; teria compartilhado a dignidade dos deuses abandonados, defendendo-os contra as cruzes insidiosas, contra a invasão dos criados e dos mártires, e minhas noites teriam buscado repouso na demência desenfreada do Césares. Expert em desenganos, crivando com todas as fechas de uma sabedoria dissoluta os fervores novos, junto às cortesãs, nos lupanares céticos ou nos circos de crueldades faustosas, teria carregado meus raciocínios de vício e sangue para dilatar a lógica a dimensões com as quais jamais sonhou , as dimensões dos mundos que morrem.”

E. M. CIORAN, Précis de Décomposition, Paris, 1949.


UM

Call me... Light. Light Alloy. Liga leve luz à lua atlântica. No espaço. Dez mil metros acima do Homem e do Tempo... Also sprach Fritz Nietz. Gregos ou troianos, nós? Amerika moicanos? No, People Express. Classe econômica. Ônibus transoceânico. Eppur si muove. Pass a aeromoça com carrinho. Canto de Circe: “Cash or Credit Card?” Cartão. Todo mundo tem cartão. O vendedor da Microsoft Co., from Silicon Valley, Cal-fornia, a meu lado, apertado, tem uma carreira de cartões. Por que viaja People? Embolsa extra da expense account... Criptofiancée overseas... Qual é o seu cartão? Qual a cor de sua sedução? 7 na caçapa, em qualquer mercado. Vou na um, bola da vez. Pago cash. Bucks. Fric. Valuta. Mercadoria em desuso. Alta para o sensualismo digital. Ok, Keynes. I got my key to the highway. Saco o word processor. Enter. Information p-leeese. Light para Controle, check. Light para controle, stand by p-leeese. Microsoft olha de esguelha. Meu wop é velho. Cristal líquido de segunda. Sei. Serve. Microsoft já vai querer me empurrar um Microsoft. Não, não sou um especialista. Só jornalista. “Terrorista?” Não, esse foi franco-phone, na douane de... Marseille? “Non, monsieur, tráfico só de informações.”
Microsoft tem um pocket computer, claro. Tem também Gucci, Armani, Davidoff, Wayfarer, Zippo, you name it, he’s got it. Microsoft é um símbolo. Um designer dream. E a cor... Vive em Cal-fornia, mas o tom da tan é... Barbados Light? Essa mesma – uma entre várias selecionáveis no seu tanning saloon em Silicon Valley. Sol de verdade, Microsoft só suporta digital.
Light. Identikit lateral. Estranham. “Nome?” “Light”. “Como? Ah, luz....” Nem sempre faço luz. Visto preto. Dito basic black. Controle ótico-categórico. Ingleses qualificam de gótico. Shelley era gótico e usava branco. Legislador desconhecido da humanidade...
Perfeito observatório. No meio. No ar. O fim da dialética, et pour cause... Especialmente agora, quando só resta a linha de sombra, a abóbada azul-cobalto fechando no preto 22, quebrando a mesa. Viajou mal, esse Beaujoulais. Também, na People... Não vou conseguir escrever uma mera matéria sobre material girls e designer boys – é isso, a pauta do dia? É muita zeitgeist para este pobre wop. Microsoft lê a “Byte” e de vez em quando faz contas no seu micro-PC. Tento ler a “face”. Scilly está na capa. Ela conseguiu. Quem não? Social climbing, hoje, não é mais arte: é cartoon.
Mas o point, como reza o Hardcore Skateboarding Way of Life, é aqui. Aqui, no pipeline do éter, estão os cut-backs mais radicais do planeta. O clash das civilizações. O destino da metafísica. A impossibilidade de ser Outro. A solução para o problema palestino. Aqui tudo está claro. Mesmo inserido no contexto formal da classe econômica da People Express. Acima, nem o mínimo ninho de nuvens – além, claro, do ocasional satélite militar. Abaixo, o Atlântico. À direita, para trás, London town – os últimos dias do pós-império, os supermercados saqueados de Liverpool e a City emprestando dinheiro para o mundo, a cerimônia druida em Stonehenge e o último remix da Fon em Sheffield – “Do the Stone”, com King Arthur and the knights of the Round Disk... Dung durum dururururum... tchah tchah! Huh! “Speak about destruct... tchan!...” Foi a mixagem, com equalizador, booster, dolby, zombie 3D e o que mais no walkman, tjaaaaM!... dum TCHAH dum dum TCHAH dum TCHAH dum dum TCHAH... tjaaaaM. Só o silvo lascivo entre o éter e esta águia caída de metal de segunda. À esquerda, Nova York, Babylon, a torre de Babel ainda que não sua biblioteca (a Marciana, em Veneza, claro, dá-se ao luxo de possuir os manuscritos A e B da “Ilíada”...). Mais para a esquerda, Cal-fornia, la folie multiforme – vista de cima, um interminável circuito integrado. E além do muro do Pacífico, no fim da esquerda, ele, em alta definição, HDTV, como explica o técnico sorrimolente quando se visita a NHK, em Tóquio: Nippon. Hai! Well con 2 ze futur. E a China trans-Mao-Express? E as 120 discotecas de Cantão? E o strip-tease das damas de Shanghai? E as mil e uma noites das mil e uma etnias desestalinizadas por Gorbie? Esplêndido, mas são apenas caminho para o futuro. Chegar em Nippon em estilo é via Sibéria – horas e horas de Ilushyn sobrevoando o nada mineral...
A História: uma peregrinaçãozinha pelo globo, sentido anti-horário. “Saída... pela esquerda!” Um verdadeiro Toynbee, o leão da montanha... China, the secret nights of Arábia, pirâmides. Ágora, Acrópole e bacanais olímpicos, ascensão e queda do Império Romano (todo político deveria ter um “Decline and Fall”, de Gibbon, no bolso, tem em pocket, pesa tanto quanto o micro de Microsoft; facilmente armazenável em floppy disk), celtas, druidas, renascimento fiorentino, Espanha e Holanda, libertária libertinagem do século 18 francês – interrompida pelo anticharme do efeito guilhotina –, Romantismo alemão, vanguardas do início do novecento, Paris, Berlim, London, Nu Yoik, Cal e... Nippon!
História se aprende a jato. Em Oxford e no MIT estão ao corrente. Em Paris não. “Hoje tem exame de Aeroflot.” “Ah, pois eu tenho um PHD em Gulf Air.” “Dificílimo aquele curso de Interflug.” A People é pré-primário. Rodeio básico. Sonho de marketing. Tão bom que quase deu falência. A êmula de Emanuelle nº 1 duas fileiras à frente, jarretelles à mostra, não sabe e nem quer saber. Navalha na carne... Será o filme? “Mad Max 5”: Eros nos braços de Morfeu. Será o Beaujoulais via Camorra napolitana? As fotos de... “Swimwear Illustrated” – as modelos mais sensuais fotografadas nas praias mais tórridas do globo? Não é má, a fogosa Jarretelles... Bar-woman de uma joint em New Jersey... Volta da inscrição européia. O cursor de wop está lá, dormindo deu sonho de cristal líquido. Matéria para “Viva Moda”. De onde vêm os designer boys e as material girls. Genealogia da moral. O laser digital com TV e 15% de taxas incluso no pulso de Microsoft faz peep-peep. O Povo Expresso dorme. Dramas em todo o planeta – o realinhamento Arafat-Abu Nidal-Kadafi, a glasnost de Gorbie, a quebra iminente do Sistema Financeiro Internacional, Irã e Iraque vendo quem tira primeiro a água do outro e acaba a guerra, que guerra?, motins black nos EUA, a milésima cúpula redutória de armas estratégicas em Genebra, a venda iminente do Brasil aos japoneses – alugado –, e wop tem que vomitar uma matéria para “Viva Moda”. “Notre tête est ronde pour permettre à la pensée de changer de direction.” Francis Picabia, surrealista alguma vez, gênio. Vamos tentar uma linha editorial:
“Sob a vertigem de embaraçantes questões universais, permanece mais importante, antes de tudo, o simples e o urgente. Ou seja: nossas mil e uma escolhas cotidianas. Nossas casas e mesas, roupas e hobbies, viagens e saídas noturnas, músicas e imagens, livros e filmes, contam melhor a história que vivemos do que cem conferências eruditas sobre política internacional”.
Péssimo. Sem tesão. Apaga tudo. Pic pic pic... De volta ao sonho do cristal líquido. Fitzgerald e Flaubert não tinham wop. Tinham que rabiscar com a ponta da pena. Mas também não precisavam escrever para “Viva Moda” por um punhado de dólares. O efeito spaghetti-western-writing... Não, era pior. Cioran, romeno, filósofo e sempre (negrito) gênio, matou: ao ler Fitzgerald e Dostoievski, sentimos o drama dos dramas, na ficção ou na correspondência: a ausência de cash, fric, moneta, valuta. Escrever! A sedução de um ópio anacrônico... Microsoft está em satori. Deve sonhar com pixels ao som de Kraftwerk. Um homem absolutamente moderno. He’s got what it takes. The color fo money. Ssshaaaft!
continua...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

E O TEMPO VOA!!!



Dia 20 devemos ter feito 1 ano de desaniversário... Hein?!!!
É isso mesmo: - Um ano nesse cyberespaço!!!
Seguindo em frente, lutando com o tempo, com o futuro, e com a dor de barriga.
Começamos com um one-shot do mestre Katsuhiro Otomo... Akira diz algo?!

(One-Shot: No setor de mangá japonês, o mesmo conceito é expresso com o termo yomikiri, que implica que a historia em quadrinho é apresentada na íntegra, sem qualquer continuação geralmente em capítulos únicos.)















































QUERO OUVIR 8



TIRINHA #19

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

TIRINHA #18

domingo, 24 de outubro de 2010

TIRINHA #17

sábado, 23 de outubro de 2010

QUERO OUVIR 7



Q

TIRINHA #16

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

TIRINHA #15

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

MINHA INFÂNCIA NA TV.

Este é um artbook, contem ilustrações de Toshio Okazaki que são de "O Regresso de Ultraman", foi publicado pela Elm em 1971.