sexta-feira, 29 de outubro de 2010

NO FUTURE 2

Um dos passatempos adorados na faculdade, era o tiro ao alvo com ovos, nos escrotos que inundavam o local.
Tinha o auxílio do grande "Mestre da Mira", era um tipo Doc Holliday de Ermelindo Matarazzo.





Get down to the funky beat… Gueguegueget… DOOOWN! Tjun Tjun Guegueguegueguegue Tjun Tjun Guegueguegueguegue Tjun Tchah Tjun Tchah Tjun Tjun Tum Tchah… Man Machine MusiK Komputer synchro sound rapeia e arrepia no éter tonight do Expresso do Povo. O império da Roland 1001. Jarretelles deve ouvir rap. Que ouve agora? Madonna – “The Holy Spirit Mix”. No máximo. Controlado. Ondula no assento como se estivesse no back seat de um Chevy 57 escutando “Sweet Little Sixteen”. Oh, padre Chuck, onde nos lançaste? Voyeurismo soft – a tela de wop faz blink, a tela do movie faz blink blink, esquizo dub nas alturas entre cursor em repouso e tiroteio high-tech. Jarretelles é o melhor filme em cartaz. Deveria estar mini – mas aí não haveria jarretelles. Pernas de bodybuilder. Stiletto. Bleached Blonde. Um arquétipo MTV aéreo. Ninguém vê. Ninguém quer. Vivemos sob o espectro... O Duque Rosa. O Duque D’Aids. Le Chevalier Rose. O nome da peste. Peste mesmo era a sífilis. Infiltrando-se nas cortes dos Sforza, dos d’Este... A peste de Artaud... Jarretelles seria nocauteada por um editorial da imprensa nova-direita. Símbolo de Aids mental. “O mal espiritual que consome a geração dos filhos do rock debilóide e da vulgaridade pedagógica, os beatos do niilismo audiovisual, alimentados de sopa infra-ideológica cozida ao show-biz etc.” Um editorial hardcore contra toda esta decadência. “Nossa juventude perdeu suas imunidades naturais. Está sujeita à decomposição por todos os tipos de vírus.” TCHAram. DUM TCHAH DUM DUM TCHAH. TCHAram. Oh, no, logo agora o demencial terminal dos Beas-TIE-BOOOOYss... Bestial demais para a nova-direita. Editorial com trilha sonora. Jovens=droga=mestiçagem=“costumes anarquizados”=Aids=complô trotskista... Jarretelles é perfeita. Cleo tinha uma parecida. Era “Apolo Aids”. Sua “namorada”. Dos bas-fonds de São Paulo, South América, para a glória da modelagem e da peste. Bestial. Breve, para todos, estrela rosa na testa. Nos EUA já são 4H. Homossexuais, heroinômanos, haitianos, hemofílicos. Tradução ready-made: preto, bicha, drogado... A engenharia genética sanciona: dancem o rap da discriminação. Aids mental? O medo do Outro. Do Estrangeiro como poço pestilento. Excelente o projeto de Cleo. Ele e Apollo Aids espalhando a peste por todas as vítimas da moda de San Paolo del Brasile. Mais peste, só em Nu Yoik. Cleo luta como pode. È isolado porque MUITO diverso. Contra-ataque editorial a anexar na matéria designer boys-material girls: “É lógico que uma ideologia reduzida ao cada um por si sem outro horizonte a não ser o de um economicismo amputado de qualquer dimensão social termine descambando em um narcisismo pudico e moralizador”. Meio proustiano, o período. Efeito Beastie Boys... “No! Sleep! Til Brooklin!” Não, no sleep com escala em New Jersey e mais um cross country até El Ei. Microsoft dorme porque todos os seus problemas estão digitalizados. Jarretelles acaricia-se por inércia. Os outros dormem porque “Mad Max 5”... frankly my dear, I don’t give a damn. Resta o rap da decomposição... Uma questão de cor. Marcianos verdes. Perigo amarelo. Medo dos vermelhos. Raiva dos pretos. Peste negra do terrorismo. Efeito testa rossa... O arco-íris do terror. Quem vai sobrar? Os incolores, inodoros e insípidos? Não! Que venha o dragão bestial, vomitando sangue, sexo e morte. O diabo? “The Face”. Está lá, em todas as capas. Interiorizado o estado de guerra permanente. Alien 1, 2, 1000 corrói o útero do Ocidente.
E Big Brother is watching me. Espírito em suspensão. Na tela de wop poderia aparecer uma mensagem. “Estrela quer contato. Enter information.” Não aparece nada. Wop é velho. Não “se comunica”. Não pode falar com designer PCs. Nem com centrais de informação. No máximo fala ao telefone. Aqui, no ar, só resta nosso improdutivo tête-a-tête. Lá embaixo, cada um busca o outro, e o encontra na tela ou no fim da linha. Proliferação impudica de chamadas. Encontros simulados mas sempre possíveis. Confissões mais ou menos sinceras. E os sociólogos lamentavam a não-comunicação na Metrópolis “anônima”, “inumana”... Os muros começaram a falar. Hoje, dazibao eletrônico all over. Mais democracia direta? Jogos, pelo menos. Como Art e seu blá-blá-blá eletrônico com a moçada da inteligência artificial. Microficções híbridas. O fantasma em mix com o real. Quem joga está no coração do roteiro. Mas o que vai acontecer? Vai acabar o cinema como o conhecemos. Como teme Fellini e como já pensa Coppola. Será o império da comutação. Todos commuters, como quem pega um trem, depois o metrô, depois o ônibus, e chega ao trabalho. Mas na rede eletrônica pode-se chamar qualquer um em qualquer lugar. Pode-se movimentar à vontade. Pode-se mudar de rede à vontade. Quem é o outro? Uma presença indiferente. Não perturba. Não ingombra l’uscita. Cada um está protegido pela tela. Anonimato. Irresponsabilidade. O câmbio? Pode ser direto. Provocativo. Agressivo? Raro. Tudo já está praticamente teleorganizado. Império do anonimato. Comportamentos flutuantes. Questão de interação, filtros e telas interpostas, próteses de linguagem, saber, inteligência. Corpo? Que corpo? Para que serve? Déjà-vu. Kaput, finito. Mas se não conseguirem, como já provou Dreyfus em Berkeley, se não conseguirem o computador de quinta geração, “pensante”, o Dionísio eletro da inteligência artificial saído da coxas dos mini-Zeus de laboratório... The Spirit in the Machine... O fim da filosofia, o fim do humanismo, hip hop techno-scratching com The Doors ao remix, this is thethethethethethethethethe… END! No names, please. Não haverá nomes. E não haverá este ou aquele nome. Não será preciso identificar mais ninguém. The Doors of Redemption... O anonimato engendrando a anomia...
E se dá em libertação? Suspensão da responsabilidade? Suspensão dos códigos sociais? Can you see the light? I can see the light... Feliz aterrissagem na sociedade espectral. Imaginário em mix com o real. Real fantomático. Invenção, inverão, desmultiplicação de papéis. Cada um diretor de arte de sua própria vida. Cada um se decompõe como em espectro de luz. Fim do corpo. Fim do sentimento íntimo de si e do outro. Chega de “eu”, “ele”. O futuro, é o espectro... Nada a perder, a não ser nossas correntes. Avançar! Explorar as formas extravagantes do exotismo artificial...
O futuro é o espectro... O presente, seria um hamburger. Um Air-burger. Não tem. Inventam hamburger, blue jeans, rock’n’roll, mísseis termonucleares, mas não inventam o hamburger aéreo na companhia aérea pagável com cartão magnético no ar. E no entanto, os Big Macs voam. Já dão a volta no Equador 104 vezes. Soja retexturada no bife? Polisilicato no shake? E daí? I need junk. The food, not the times. A época, daqui, do éter sobre as brumas, sobre o Atlântico, só provoca indiferença. Efeitos de indiferença. Em volta, absorções e revulsões. Charuto de lataria de alumínio, carregado de 47 mil galões de querosene, the dawn of new day a 10 km da terra e 1.000 km por hora enfiando-se em abismo de energias inversas a velocidades diferenciais – como o maelstrom de Mr. Poe... POU PAH PUM PUM PUM PAH é Public Enemy no walkman, terroristas culturais do hip hop HUH! Cantam, cantam? Descarregam “Mi Uzi Weighs a Ton”, Um fuzil Uzi de uma tonelada... O pragmatismo afro-americano aplicado ao designer terrorism... Efeito indiferença. Ou abismo à la maelstrom de Poe, ou transformar-se em fantasma holográfico. Glisser, este lindo termo francês, glisser, glisser e glisser ainda mais como uma forma a laser, desaparecer sem provocar atenção, minar o real, real? pela auseência...
Wop na bandejinha da People, sonho de cristal líquido – de bandeja. O que ele quer que eu tecle? Matéria, recado, texto livre, livro, roteiro? Tudo. Ele quer engolir tudo com sua memória sem digital delay. Não resta nem mesmo o ato heróico de arrancar a página preenchida de caracteres, gesto, em que escreve, paralelo a sacar o Colt no velho Oeste. Gimme a break, wop. Em um mundo sem memória como esse, tudo já está projetado – vivo – no passado. Bomba, é isso. A única que existe. A que imobiliza as coisas em um recorrência espectral. O que esperamos? Que alguns aerolitos ou meteoritos tenham sido arremessados à dimensão do futuro – onde os reencontraremos com a indiferença de quem já viu este filme antes...
Delícias do exílio voluntário... Na irrealidade, no outro lado do mundo, no movimento constante, na melancolia... Próximo às “raízes”? Sim, mas no mínimo a 10 mil km de distância. Visão crystal clear. E quando toca o telefone, em algum lugar... “Um minuto, que é do Brasil!” Sempre uma voz meio assustada, de telefonista ali acostumada com seus circuitinhos, e de repente projetada à caça de um nômade. Um minuto, que é o passado, a História, pesadelo incluso, entrando via satélite pelo circuito do éter e da memória. As vozes das “raízes” são tristes trópicos revisited, carregadas de rotinas e problemas de tristes trópicos. “Como é que tá aí?” Aqui todos correm atrás de sua sombra nos desertos da cultura e da vigilância high-tech. Correm em stereo, em vez de hi-fi, ou vitrolinha com auto-falante embutido. A vida é sofisticada em stereo, uma inutilidade, e perde-se na obsessão de segurança, como a música, em compact disc digital, perde-se na obsessão da fidelidade. Aqui tudo aspira a ser perfeito – e a vida perde-se nessa obsessão. Não é melhor aí, na selvageria e no calor dos trópicos? Comunicação cortada. Um correspondente que não mais corresponde – ao que se deve esperar, como a Jane Fonda de Godard em “Tout Va Bien”. “Como é que ta aí?” “Tudo bem”. E não se fala mais nisso.
De London a El Ei via Nu Yoik. C’est toujours la mème chose, monsieur. As cidades do mundo são concêntricas, isomorfas, sincronizadas. Só existe uma cidade – simultaneidade mundial da circulação e das trocas, revolução permanente, magnetismo radical e instantâneo. Sensação das sensações: chegar em uma cidade e prendê-la em flagrante delito de pulsação. Ferramenta: o curto-circuito da defasagem horária. Tóquio-Moscou, Moscou-Paris, Paris-Nu Yoik. Com pequenas escalas. Essa mata. Satélite em volta da Terra, arco em torno do círculo, elétron disparando, tentação de escapar, projétil ao cosmos... Pensamento crystal clear. Flerte com a altitude sideral, exame quadro-a-quadro da curvatura das coisas, da curvatura da Terra, da curvatura de sua própria vida, pesos, inflexões, correspondências, reversibilidades, lá de cima, do escape sideral, a curvatura das coisas e a curvatura de uma vida.
Queria apenas permanecer nesta suspensão. Mas é um momento, aquele momento bergmaniano de comer os morangos silvestres sob a árvore frondosa, o descanso do guerreiro, momento dos morangos arrancado de uma vida de espinhos. A telinha de wop me encara, piscando. Indivíduo em flutuação. Olho exorbitado pendurado por um fio a seu nervo ótico. Câmera automática perscrutando a Terra em 360 graus – mas sem transmitir percepção. “I like to watch.” Terminal panóptico – sem encarnação. Trânsfuga. Um trânsfuga. De alguma possível mutação.
continua...

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