segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

domingo, 30 de janeiro de 2011

ANOS INCRÍVEIS

Sem querer querendo cai numa página com os episódios para baixar...
Adivinha?!
Estou assistindo "de novo" e é maravilhoso, atemporal, FODA!!!
Assisti pela primeira vez pela TV CULTURA (sempre ela), sei lá que ano... fazem muitos.
É isso aí pessoal, vamos lá então para um pequeno/grande especial.









"ARTE" NA RUA # 4

TIRINHA 113

sábado, 29 de janeiro de 2011

SOFT PORNO BABY! OOH YEAH!!!

No rebosteio de meu sofá divagando sobre a necessidade de mudar nossa forma de agir e pensar, quando sou pego por um clipe e transporto meu ego na matéria em movimento.
Setentão na veia explode no cérebro ou o que restou dele, o clipe usa de um recurso chamado no cinema de raccord, que consiste na montagem de cenas não-relacionadas para criar um discurso. Esse artifício faz do clipe uma grande diversão.
Por esconder mais do que mostrar, o clipe consegue fazer a sua piadinha e nos surpreender no final.
Ooh Yeah é recomendadíssimo. Quando Moby se empenha em acertar, ele faz bem feito.

"ARTE" NA RUA # 3

TIRINHA 112

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

QUERO OUVIR ALGO INTERESSANTE 1

"ARTE" NA RUA # ZERO

Começei a fotografar, com meu celular, imagens que vejo nas longas caminhadas que faço.
Esta é a série "Grafitinho Esperto".





Nas Ruas
IRA!
Composição: Edgard Scandurra


Nas ruas é que me sinto bem
Nas ruas é que me sinto bem
Ponho o meu capote e está tudo bem
e está tudo bem
Vejo pessoas não tãobem vestidas
Podiam estar melhor!
Vejo pessoas desmioladas, viraram a massa devorada por alguém
sem princípios e muito esperto

Nas ruas é que me sinto bem
Nas ruas é que me sinto bem
Ponho o meu capote e está tudo bem
e está tudo bem
Vejo pessoas não tãobem vestidas
Podiam estar melhor!
Vejo pessoas desmioladas, viraram a massa devorada por alguém
sem princípios e muito esperto

Muitos vêem no homem um cifrão

Muitos vêem no homem um cifrão
Esqueceram o bater do coração
Muitos vêem no homem um cifrão

Nas ruas é que me sinto bem
Nas ruas é que me sinto bem
Ponho o meu capote e está tudo bem
e está tudo bem
Vejo pessoas não tãobem vestidas
Podiam estar melhor!
Vejo pessoas desmioladas, viraram a massa devorada por alguém
sem princípios e muito esperto

TIRINHA 109

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

FIQUE LIGADO! 2

Vai sair no pacotão do Fantomas.
Que venha mais!!!

TIRINHA 108

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

AS TORTAS E AS CUCAS # ZERO.

Iniciarei uma anormalidade "ergoica" no meu world "particulation".
Faço-o, porque não?!
Enquanto houver bambú... flecha neles!!!





As Tortas E As Cucas
Júpiter Maçã
Composição: Flávio Basso


Senti meu corpo derretendo
Flutuou minha mente compreendendo
Falei com minha sombra, tem vida própria sim
Abrindo as tortas e as cucas

Gentilmente sentei na pedra
Tornei-me parte dessa pedra
Ninguém me compreendia, nem nada que eu fazia
Os passarinhos me acalmaram

Uh, uh
Ah, ah, ah
Ah, ah
Abrindo as tortas e as cucas

Foi quando então eu percebi
Eu tava no meu guarda-roupa
Em posição fetal, achando tão normal
Rolando um flashback maternal

Uh, uh
Ah, ah, ah
Ah, ah
Abrindo as tortas e as cucas
Abrindo as tortas e as cucas
Abrindo as tortas e as cucas

TIRINHA 107

domingo, 23 de janeiro de 2011

FALA MAGO...OOÔ...OOÔ 3

Acabou... será?!

TIRINHA 106

sábado, 22 de janeiro de 2011

FALA MAGO...OOÔ...OOÔ 2

Continua aí...

TIRINHA 105

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

FALA MAGO...OOÔ...OOÔ 1

Excelente entrevista de Kennedy Alencar... dá-lhe MetÔ!!!



31/12/2010 - 11h00 - Aquele abraço!

Depois de 15 anos e três meses, chegou a hora de mudar. Em 2011, terei mais compromissos com a RedeTV!, o que dificulta a dedicação diária à cobertura dos bastidores do poder de que a Folha precisa. É meu último dia no jornal impresso. Mas, a partir de março, deverei voltar a escrever aqui na Folha.com, semanalmente. Há ainda um livro sobre o governo Lula que preciso terminar e que será lançado pelo Publifolha.

Despedidas normalmente são embaraçosas, meio tristes. Há muitos amigos a agradecer, como Eliane Cantanhêde, Fernando Rodrigues, Marcelo Beraba, Eleonora de Lucena, Rogério Gentile, Valdo Cruz, Melchíades Filho, Cleusa Turra, Fernando de Barros e Silva, Lula Marques, Fernando Canzian, Carlos Eduardo Alves, Emanuel Néri, Maurício Puls, Márcio Diniz, dona Iracy, dona Olinda, Alba, Chiquinho, Pelópidas, Keli, Renata, Cláudio, Diógenes, Elza, Pureza, Bolinha, Léo.

Devo algumas palavras ao diretor de Redação, Otavio Frias Filho. Ele me ofereceu as melhores oportunidades profissionais de minha carreira.

Como voluntário, cobri as guerras do Kosovo e do Afeganistão, experiências que me mudaram para melhor --pelo menos, gosto de pensar assim. Antes de viajar para a antiga Iugoslávia, em 1999, Otavio me deu o sábio conselho de não ser furado "literalmente". No sentido figurado, tão caro aos jornalistas, tudo bem levar uns furos. Nas duas partidas para a guerra, ele conseguiu providenciar um seguro de vida que não deixaria minha família na mão, o que traz algum conforto quando o bicho pega.

Otavio me escalou para editar durante quatro anos a coluna Painel, um espaço nobre e sujeito a pressões de todos os lados. Ele não aceitou as pressões. Em 2000, o jornal me destacou para cobrir o final do governo FHC. Vieram os anos Lula, que não foram fáceis, mas foram gratificantes.

Trabalhei na Folha por três vezes desde 1990. A primeira durou até o final de 1992, quando fui morar em Londres para aprender inglês, viver a vida e encontrar a felicidade. Voltei em 1994, por um período curto. Saí da Folha para trabalhar no PT, na campanha presidencial de Lula, outra experiência que me mudou para melhor --também gosto de pensar assim. No novo retorno, em 1995, cobri polícia durante seis meses até ser escalado para o delicioso, complexo e traiçoeiro mundo do jornalismo político e econômico.

Em todas essas passagens, o mais importante foi Otavio demonstrar confiança quando ela precisava ser demonstrada. Sou muito grato a ele por isso. Tive liberdade editorial, com o direito fundamental de discordar e de poder deixar claro os meus pontos de vista. Tive condições de trabalho com as quais todos os jornalistas sonham. Só guardo boas lembranças da Folha. Levo o jornal no coração. Ele é parte da minha vida, da minha estrada.

Por último, um agradecimento aos leitores. Procurei apresentar a vocês a leitura dos fatos mais honesta, imparcial e dedicada que pude obter.

Como diz a música, aquele abraço!

TIRINHA 104

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

JUNG 4

FIQUE LIGADO! 1

Tá pra sair a série (toda?) seladinha.
Coverzinho...

TIRINHA 103

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

JUNG 3

TIRINHA 102

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

JUNG 2

TIRINHA 101

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

JUNG 1

Palestra do I Simpósio Brasileiro de Hermetismo e Ciências Ocultas

Para aproveitar o máximo da palestra, eu sugeriria que vissem antes os seguintes filmes:

A fonte da Vida

Star Wars (os três primeiros, a saber: Guerra nas Estrelas, O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi)

Matrix (os três filmes, com ênfase no último)

V de Vingança

Avatar

Vamos lá por partes:

TIRINHA 100

domingo, 16 de janeiro de 2011

O QUESTÃO 7



Goethe conclui a segunda parte de seu Viagem à Itália (Italienische Reise) observando que nenhum relato é capaz de dar conta das impressões que alguém pode experimentar ao empreender uma viagem. Chega a essa conclusão ao comparar os relatos de outros viajantes à Itália, que ele havia lido, e sua experiência particular nesse país; ao mesmo tempo em que se dá conta que suas tentativas de também descrever as impressões experimentadas em sua viagem resultam fragmentárias, parciais. Atribui essa inevitável parcialidade, a qual todos estão submetidos, ao fato de que “a personalidade, os propósitos, as circunstâncias, o favor e o desfavor prestados pelo acaso [...] varia de pessoa para pessoa”. Essa reflexão de Goethe não se limita à experiência na Itália e aos relatos de viagem. Na verdade o escritor alemão acredita que o contato com as fontes orais e escritas é necessário para formarmos o conhecimento, mas que não deve ficar reduzido a elas, sendo mais importante ainda o contato direto com as coisas mesmas. (Goethe e Keats em face da urna antiga por Luís Rubira)

TIRINHA 99

sábado, 15 de janeiro de 2011

O VELHO JOHNNY BOY.



Assisti o filme Inception (A Origem,sic) noite dessas. Brilhante.
Faz pensar... não é para todos.
Sonhos dentro de sonhos... Mr. Sandman:
“Com um punhado de areia, eu mostrarei o terror a vocês”
Lembrei também do "eXistenZ" do David Cronenberg.
Trilha sonora com a participação do sempre "smithiano" Johnny Marr


interior do estúdio de Hans Zimmer

Conhecido por agregar sons eletrônicos e contemporâneos ao seu premiado trabalho orquestral, o compositor tornou a música um dos protagonistas de Inception, unificando elementos díspares como a guitarra de Johnny Marr e a música de Edith Piaf. Aqui tem mais.



O QUESTÃO 6



O ponto de partida de Nelson é o mesmo de todo o pensamento filosófico: a admiração, o espanto, o assombro, o sobressalto. “Nós vivemos numa época cínica. Ninguém se espanta. E, no entanto, o espanto é um dom, uma graça. Como se pode ter vida moral sem muitíssimos espantos?” De fato, o espanto exige conteúdo interno. Exige uma membrana não totalmente permeável, que permita filtrar tudo o que é vaporizado no ambiente. E exige sinceridade, e depois firmeza, para agir de modo conseqüente. “É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez”. (ANTROPOLOGIA RODRIGUEANA por Maurício D. Perez)

TIRINHA 98

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O QUESTÃO 5



E a moral da história?, dessa hás de gostar: é que, por mais desgraçada que vez por outra pareça essa vida, podemos rir dela à vontade – espera-nos a outra, a verdadeira. Paz na Terra aos homens de boa vontade – e alegria aos homens de bom humor. O humor liberta, liberta como o amor. “Ama e faz o que quiseres!”, exclamava Agostinho. E mais: podes também, antes, deves amar a ti mesmo à vontade. Não há vaidade nem hipocrisia nisso. Mas desde que – e eis a condição que purifica de todo veneno! – desde que ames ao próximo como amas a ti mesmo – assim dizia aquele galileu, o judeu abençoado Jesus Cristo. (So, “all we need is love?” No, certainly not! We also need God… But that’s another story). E quanto ao humor? Aquele homem também dizia que temos de nos tornar como crianças; então olha para elas, e com elas aprende a olhar a vida: Olha e ri do que quiseres! Pro quinto dos infernos com os politicamente corretos!, gente incorrigivelmente sem graça. Ri dos outros – isso os libertará. Mas tenta, na medida do possível, rir com eles, e não deles, como se diz às crianças. Envolva-os com teu humor. E, mais importante, a condição fatal sem a qual tudo se infecta: aprende a rir de ti mesmo com a mesma facilidade com que ris do teu próximo. Ri com humildade, ó “criatura da terra”. Sim, porque és feito do mesmo barro que todos nós, e as tolices e ilusões da tua vaidade e hipocrisia são tão ridículas quanto as de qualquer outro. (O HUMOR NOS TEMPOS DA CÓLERA por Marcelo Consentino)

TIRINHA 97

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O QUESTÃO 4



"A violência, portanto, não é jamais uma pura e simples reação a condições sociais adversas. Não é como a chuva, que cai tão logo se verifiquem as devidas condições climáticas. E tampouco é em si mesma um sinal de injustiça social ou de uma situação política intolerável (uma prova disso é que nem sempre as sociedades pacíficas, não-violentas e isentas de crimes são locais onde o direito e a legalidade prevalecem). A violência jamais poderá ser compreendida corretamente se não levarmos em conta as idéias que as pessoas têm sobre o que é certo; o que é justo; o que é correto; o que cada um merece; quais são as conseqüências para quem a pratica; e, acima de tudo, sobre o que é realmente importante na vida. E isso prova a verdade daquele grande dictum de Pascal: esforcemo-nos para pensar com clareza, pois isso constitui o princípio da moralidade." (A POBREZA DO MAL por Theodor Dalrymple)

TIRINHA 96

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O QUESTÃO 3




"Somos todos cartógrafos e o mapa da vida se faz dia após dia no duro labor de testar nossas convicções e, se for o caso, rasgá-las sem dó nem piedade. Decisão difícil, mas, como diz Sartre, estamos condenados a ser livres. Dita assim, a frase é um tanto calhorda e de nossa parte acreditamos que a liberdade é um dom, o maior deles. Mas se torna, sim, um peso opressivo quando temos de usá-la para reconhecer nossos erros. “O ser humano”, diz Nelson Rodrigues, “é o único que se falsifica. Um tigre há de ser tigre eternamente. Nunca vi um marreco que virasse outra coisa. Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se. Ele se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo”. Nada exige mais coragem do que admitir uma covardia. Nunca a nossa honestidade custa tanto quanto na hora de desfazer nossas farsas. E após caminharmos por muito tempo numa direção, rabiscando com tanto carinho o nosso mapa, é humilhante quando um viajante mais experimentado chega e diz 'meu Deus!, você está louco rapaz… está a milhas de distância de onde pensa estar'”.(Ed. Dicta & Contradicta nº4)

TIRINHA 95

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O QUESTÃO 2



"Eu, por mim, recomendo a qualquer um - de 16, 21, 30, 45, 55 anos - que, ao menos uma vez por semana, escute algo que jamais pensaria escutar. E, certamente, algo que fuja dos padrões daquilo que as gravadoras determinaram ser "apropriado" para sua faixa etária - um ouvinte de 16 anos tem tanto a se beneficiar com uma audição de A Nod Is as Good as a Wink, dos Faces, quanto um de 55 do disco do Kula Shaker. É um santo remédio, o equivalente a uma corrida no calçadão, uma hora de malhação, uma partida de basquete: o suficiente para manter os ouvidos flexíveis, o cérebro desentupido, o coração palpitante e prevenir a instalação - muitas vezes precoce - do reumatismo estupidificante do classic rock." ('Belas Canções Sob o Céu da Califórnia' por Ana Maria Bahiana)"

TIRINHA 94

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O QUESTÃO 1



"Segundo T.S. Eliot, ser “provinciano” não significa “não possuir a cultura ou o requinte da capital”, muito menos ser “estreito no pensamento, na cultura e no credo”. É algo além – e muito mais trágico para a cultura de uma nação que se pretenda saudável. Refere-se “também a uma distorção de valores, à exclusão de alguns, ao exagero de outros, que resulta, não de uma falta de ampla circunscrição geográfica, mas da aplicação de padrões adquiridos dentro de uma área restrita, para a totalidade da experiência humana, que confundem o contingente com o essencial, o efêmero com o permanente. Em nossa época, quando os homens parecem mais do que propensos a confundir sabedoria com conhecimento, e conhecimento com informação, e a tentar resolver problemas da vida em termos de engenharia, começa a emergir na existência uma nova espécie de provincianismo que talvez mereça um novo nome. É um provincianismo, não de espaço, mas de tempo, aquele para o qual a história é simplesmente a crônica dos projetos humanos que têm estado a serviço de suas reviravoltas e que foram reduzidos à sucata, aquele para o qual o mundo constitui a propriedade exclusiva dos vivos, a propriedade da qual os mortos não partilham. A ameaça dessa espécie de provincianismo é que podemos todos, todos os povos do mundo, ser provincianos juntos; e aqueles que não estiverem satisfeitos podem apenas tornar-se eremitas” (ELIOT, T.S. “O que é um clássico”, in: De Poesia e Poetas, págs. 96-97)."

TIRINHA 93

domingo, 9 de janeiro de 2011

PÉROLAS?! EU AS QUERO.

Melhores do ano - Música
por Martim Vasques da Cunha

Um dos grandes problemas entre os chamados jovens conservadores – que não são jovens coisa nenhuma, são apenas velhinhos que se vestem como hipsters – é que eles desprezam a música pop e ficam arrotando sobre as benesses da música erudita, como se soubessem Bach e Mahler a torto e a direito.

Da parte que me cabe, música pop, o velho e bom rock-n´-roll são tratados como arte – e vá para o brejo quem quiser me confrontar com argumentos pseudo-eruditos.

Assim, digo que o melhor álbum do ano é Olympia, de Bryan Ferry, que mostra como se faz rock com elegância. Cheio de referências à primeira fase do Roxy Music, Olympia tem o charme de uma noite regada a sexo que depois desembocará na ressaca da realidade. Contudo, tudo isso acontece com muita finesse – algo complementado com a visão de nossa Olympia atual, uma Kate Moss rechonchuda para os seus próprios padrões e que mostra a destruição dos abusos do tempo em suas linhas antes tão angelicais.





Agora, se você procura redenção, vai encontrar em The union, álbum que reúne Elton John e Leon Russell; o primeiro se mostra aqui como uma diva pop que se arrepende de uma vida desregrada; o segundo, já destruído por uma vida que quase caiu no esquecimento, volta como o troubadour evangélico e mostra que sempre foi um estranho numa terra estranha. Nunca gostei de Elton John – a visão dele cantando Candle in the wind no funeral de Lady Di ainda me provoca pesadelos – mas dou meu braço a torcer desta vez e afirmo que ele produziu uma obra-prima.





The union foi produzido por T-Bone Burnett, que também ajudou Elvis Costello em seu National Ranson, um ciclo cômico sobre o capitalismo nos EUA. Costello mostra seu habitual brilhantismo em composições intrincadas que, mesmo para um ouvinte muito sofisticado, devem soar excêntricas.





É isso. Esta foi a minha lista de melhores do ano de 2010. Quem quiser reclamar, a caixa de comentários está para isso mesmo, obviamente dentro das regras da boa educação.

TIRINHA 92

sábado, 8 de janeiro de 2011

O QUÊ É QUÊ É ?!

Chuva de ouro: um guia prático da temporada de prêmios
por Ana Maria Bahiana

Ano novo: a temporada-ouro está em pleno vigor. Antes que a gente comece a jogar palpites para todos os lados, achei mais proveitoso compartilhar com vocês o que são, como funcionam e o que representam cada um dos prêmios que estarão em nossos calendários nos próximos meses. Assim teremos todos a mesma base para as discussões com certeza acaloradas que vamos encarar.



Globos de Ouro Indicações: 14 de dezembro de 2010 Entrega: 16 de janeiro

O que são: Prêmios para destaques em cinema e TV no ano anterior. As principais categorias prevêem prêmios diferenciados para drama e comédia.

Quem vota: 85 correspondentes estrangeiros baseados em Los Angeles integrantes da Hollywood Foreign Press Association

Como votam: Por dever de ofício, os votantes (entre os quais me incluo) vêem todos os filmes e séries de TV que escolhem; mas com idades entre 30 e poucos e 80 e muitos e gostos, formação cultural e preferëncias pessoais tão diversos quanto os 55 países que representam, suas escolhas são as mais imprevisíveis entre todos os prêmios.

O que representam: A primeira munição para as campanhas do prêmio maior, os Oscars. O mito de que “os Globos antecipam os Oscars” não é inteiramente verdadeiro mas, de fato, a a HFPA faz uma espécie de pré-seleção dos títulos que devem ser levados em conta a cada ano. Isso tornou-se ainda mais verdade com a mudança da categoria “melhor filme”, da Academia, de 5 para 10 títulos, o que de certa forma engloba os 5 dramas e 5 comédias que os Globos sempre destacam. Embora que, este ano….

E também: A festa mais divertida da temporada, um jantar à moda da velha Hollywood, com poucos discursos e muito champanhe. Ricky Gervais é o mestre de cerimônias este ano, Matt Damon apresentará o troféu Cecil B de Mille a Robert de Niro. (E eu escrevi os textos do livro-programa…)



Prêmios das Guildas (produtores, atores, diretores, roteiristas, diretores de arte, montadores, diretores de fotografia, efeitos visuais). Indicações: entre 4 e 12 de janeiro Entrega: entre 22 de janeiro e 19 de fevereiro

O que são: Prêmios específicos para os diversos ofícios que compõem a arte e indústria do cinema

Quem vota: Membros das respectivas associações de classe ou “guildas”, que variam entre 800 (montadores, diretores de arte) e 4 mil integrantes (produtores).

Como votam: Com exceção dos produtores, cujo ofício é por natureza abrangente, os demais prêmios são absolutamente focados nos talentos específicos. São prêmios que destacam determinados aspectos dos filmes, vistos pelos olhos de alguns dos melhores praticantes dessas atividades.

O que representam: Como a maioria dos integrantes das associações profissionais tambem são membros dos departamentos específicos da Academia, suas escolhas são excelentes métodos de antecipar os Oscars, pelo menos na fase das indicações ( o vencedor do prêmio da Producers Guild costuma levar o Oscar…) . E, como eles se dedicam especificamente a certos aspectos da realização, muitas vezes destacam filmes que não tem oportunidades em outras áreas.

E também: Cada guilda tem regras próprias quanto a quem pode ser premiado.A Writers Guild tem-se mostrado a mais enjoada, não permitindo premiações para não-integrantes, o que, este ano, deixou de fora grandes roteiros como Toy Story, Another Year e O Discurso do Rei.



British Academy Indicações: Pre-selecionados, dia 7 de janeiro; indicados, 8 de fevereiro Entrega: 13 de fevereiro

O que são: Os Oscars da indústria cinematográfica britânica

Quem vota: os 6,500 integrantes da British Academy of Film and Television, todos profissionais de cinema, TV e games

Como votam: Assim como seus colegas norte americanos, os integrantes da BAFTA votam nos filmes que eles mesmos fazem e, é claro, privilegiam não apenas as próprias obras ( e as de amigos/associados) mas as produções britânicas

O que representam: Muito importantes para filmes europeus e independentes, que frequentemente são realizados com recursos britânicos. Como muitos profissionais top são membros das duas Academias, pode indicar tendencias de voto para os Oscars.

E também: a festa é em Londres, no Covent Garden. E é o único prêmio com duas rodadas de indicação. Ah, esses britânicos…



Spirit Awards Indicações: 29 de novembro de 2010 Entrega: 26 de fevereiro

O que são: Os Oscars do cinema independente norte-americano

Quem vota: Os 4 000 integrantes da Film Independent, uma ONG dedicada ao apoio e incentivo do cinema independente; apesar de contar com grande número de profissionais (inclusive os indicados do ano anterior) , qualquer pessoa que pagar os 95 dólares de inscrição na Film Independent pode votar.

Como votam: Cada vez mais, os Indie Spirits tem ido para os lançamentos dos chamados independentes-de-luxo, as distribuidoras especializadas dos grandes estúdos, como Fox Searchlight e Sony Classics. Mas ainda é uma das únicas janelas para os filmes menores, mais autorais.

O que representam: Há muito pouco overlap com a Academia, em termos de corpo votante e gostos. Mas pode ser a diferença entre a vida e a morte para obras pequenas e de estreantes (como, este ano, Tiny Furniture e Night Catches Us)

E também: É uma festa divertidíssima, super informal, numa tenda armada na praia de Santa Monica.



Oscars Indicações: 25 de janeiro Entrega: 27 de fevereiro

O que são: O prêmio que, assumidamente ou não, todo mundo que faz cinema quer ganhar, um dia.

Quem vota: Mais de 6 000 acadêmicos _ profissionais de todas as áreas da realização cinematográfica, de várias nacionalidades, divididos em departamentos de acordo com sua atividade profissional.

Como votam: Este é o voto da industria em si mesma. Todos os 6 000 votantes fazem ou fizeram cinema ativamente, em alguma capacidade. Embora em tese eles tenham que ver os filmes nos quais votam, na realidade muito poucos tem tempo para isso: os votos vão primeiro para suas próprias obras e depois para os trabalhos de gente amiga, associada ou, muitas vezes, sinceramente para quem se admira. Na etapa das indicações, cada departamento vota na sua categoria-atores em atores, diretores em diretores, etc. Na fase final, todo mundo vota em todas as categorias.

O que representam: Além da imensa massagem no ego, um profissional indicado tem um ganho imediato de 60% em seu cachê e um filme acrescenta automaticamente 40% a mais de público. É uma das maiores alavancas de venda nos mercados internacionais e para plataformas secundarias como DVD/BluRay, TV e internet.

E também: Os prêmios-homenagem perderam espaço na festa, e agora são entregues num jantar privado, em novembro.

TIRINHA 91

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

FILMES & CONVERSINHAS 3

A crônica da auto-destruição
por Martim Vasques da Cunha



(Quem já viu The Social Network, de David Fincher, deve ter reparado na música hipnótica que acompanha as canalhices do Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg. Ficamos surpresos quando lemos nos créditos que quem fez isso foi ninguém menos que Trent Reznor, o líder e o principal integrante da banda Nine Inch Nails, um dos grandes grupos musicais dos anos 90. Depois de ter feito dois álbuns medíocres, Reznor parecia que não retornaria aos bons tempos de The Downward Spiral e The Fragile. Será que agora ele voltará à antiga forma? Enquanto não sabemos a resposta a esta pergunta, que tal rever os álbuns que lhe deram fama e glória?)

I saw the best minds of my generation destroyed by madness, starving hysterical naked
Allen Ginsberg, “Howl”



“Eu sou o Senhor Auto-Destruição”, gritava Trent Reznor na abertura de “The Downward Spiral” (1994), um dos mais impressionantes discos dos anos 90. E ele estava falando a verdade. Gritos, sussurros, silêncios alternados com uma bateria brutal e uma sonoridade eletrônica que remetia aos nossos piores pesadelos, davam ao ouvinte a sensação de que o rock podia captar as sutilezas de uma mente e de um espírito mais do que mórbidos. Reznor fez isso como ninguém na década de 90, a mesma década em que Deus virou uma mercadoria à venda e que a humanidade ficou mais próxima da bestialidade.



Escudado por uma banda chamada Nine Inch Nails, Trent Reznor virou uma lenda viva na indústria fonográfica. Perfeccionista, totalmente obcecado com o ritmo certo de uma canção, Reznor é o tipo do sujeito que gasta cinco anos entre um álbum e outro apenas para fazer o que qualquer artista que se preza deveria fazer: do modo correto e justo. O problema é que Reznor levou a sua arte ao um nível no limite do insuportável – em outras palavras: sua obra é de uma insanidade absoluta, uma jornada pelo pesadelo da alma humana, uma crônica da auto-destruição.



Foi em 1989, com o lançamento de “Pretty Hate Machine”, que Trent Reznor apareceu com letras sobre auto-multilação, sexo pervertido, e todo um catálogo de bizarrices que poderíamos chamar de “masoquismo de boutique”. As canções em si pareciam arremedos de uma mistura entre o gótico dos anos 80 e o tecno que estava surgindo com força total no mundo alternativo.



Até aí, nada de novo, e a mesmice continuou com o EP “Broken”(1992), uma obra que era certamente uma evolução em relação a “Pretty Hate Machine”, mas faltava algo que desse uma unidade transcendente ao que Reznor queria realmente falar: a falência espiritual e emocional do ser humano.



Ele atingiria o seu intento com “The Downward Spiral” (1994), uma obra-prima aterradora que contava a história de um homem (o próprio Reznor?) na tentativa bem-sucedida de cometer suicídio, sem antes deixar de quebrar com todos os elos que ele tem com este mundo: família, Deus, amores passados e futuros e qualquer espécie de esperança. Mas isto fica apenas na primeira análise: pouco a pouco, o ouvinte vai percebendo a cada faixa que passa, por trás de cada melodia escondida numa muralha de guitarras ensurdecedoras, que “The Downward Spiral” não era, em hipótese nenhuma, uma glorificação do suicídio, mas sim um estudo do arrependimento.



Se na canção “Heresy”, Reznor bradava que “Deus está morto e ninguém se importa/ se existir um inferno, te vejo lá”, como fosse o seu lema filosófico, na última faixa, “Hurt” (uma das músicas mais sombrias já feitas), ele suspira baixinho, afirmando que “Se eu pudesse começar de novo, distante de tudo/ eu poderia me manter por mim mesmo/ eu encontraria um caminho”, culminando numa explosão de microfonia que sugere nada mais, nada menos que o inevitável da morte.

Quando foi lançado no ano de 1994, “The Downward Spiral” provocou polêmicas de todas as ordens. Além de seu conteúdo pertubador, Reznor atiçava ainda mais a mídia ao gravar o álbum na mesma casa onde Charles Manson matou Sharon Tate, mulher do cineasta Roman Polanski, em 1968. Para os jovens americanos – filhotes do Império que não conseguem dominar seus impulsos homicidas -, Trent Reznor & Cia representavam a perda de uma geração que tinha como ídolo outro suicida: Kurt Cobain. Entretanto, é claro que Reznor não queria ser como Kurt Cobain. Sua ambição era outra, e os seus meios eram completamente diferentes.

Cinco anos podem ser uma longa espera, principalmente para um artista que tem de passar pela prova de fogo de superar sua obra anterior. Entre 1994 e 1999, muita coisa aconteceu no mundo da música: o aparecimento de Marilyn Manson (um clone de Alice Cooper, produzido por Reznor e que muita gente acredita ser um gênio porque “ele é um jorrrrrrnalisssssta”, segundo suas fãs mais exaltadas), a chegada de Britney Spears e Christina Aguilera (no fundo, duas caipiras – uma americana e a outra latina – que tentam ser sexys, mas não ativam hormônio nenhum) e a consagração de uma banda inglesa chamada Radiohead, que fez dois álbuns estranhos, gelados, notáveis e incompletos: o artificial “OK Computer” (1997) e o monolito “Kid A”(2000).



Enquanto isso, Trent Reznor se trancava em um estúdio em New Orleans para fazer o sucessor de “The Downward Spiral”. Os críticos se perguntavam: o que ele vai aprontar agora? Era quase impossível que Reznor superasse a perversão e as trevas do álbum anterior. Mas claro que estavam enganados. Em setembro de 1999, Reznor lançava “The Fragile”, um disco duplo que contava a história de um relacionamento que não terminava muito bem. De novo, Reznor mexia em seus temas favoritos: obsessão, niilismo e auto-destruição. No entanto, desta vez ele adicionava um novo tema que o tornava um parente muito próximo do poeta francês Charles Baudelaire: a procura desesperada pela transcendência. Esta procura era causada pela decadência do mundo que o rodeava – claramente simbolizada pela palavra “spleen” (tédio) – e pela desilusão da imagem do ser amado. Se em “The Downward Spiral”, Reznor falava sobre uma única pessoa que se auto destruía, agora em “The Fragile”, a história girava em torno de duas pessoas que queriam acabar um com o outro, através da vingança e da falta de sentido para a vida. Mas, como veremos, Reznor faz que as coisas não sejam tão simples assim.

Tudo começa com “Somewhat Damaged”. “So impressed with all you do, Try so hard to be like you, Flew too high and burnt the wing, Lost my faith in everything” (Impressionado com tudo o que você faz, querendo ser muito como você, voei alto demais e queimei as asas, perdi a minha fé em tudo) – imaginem estas sentenças ditas ao som de uma bateria primitiva, uma guitarra que repete três acordes à exaustão, e o ouvinte não tem nada a fazer a não ser aceitar o mesmo convite de William Carlos Williams na introdução de “Howl” de Allen Ginsberg: “Senhoras e senhores, levantem a barra de suas roupas e sejam bem-vindos ao Inferno”. Os acordes vão se tornando cada vez mais complexos, a bateria adquire nuances, e o som é de uma raiva assustadora; afinal, um relacionamento acabou de ser rompido, e tudo está caindo aos pedaços. “Too fucked up to care any more” (Estou fodido demais para me importar), grita Trent Reznor, mas a raiva não vai abatê-lo. De alguma forma, ele vai continuar, e é na segunda faixa, “The Day The World Went Away”, que a busca realmente começa. Será nesta busca – misteriosa, sombria, possivelmente fadada ao fracasso – que “The Fragile” vai encontrar seu eixo dramático, que girará através de opostos que se complementam: amor e ódio, obsessão e realidade, verdade e mentira, vida e morte, afeto e violência, paranóia e paz, sangue e água, vingança e perdão, Deus e o Diabo. Uma muralha de guitarras entremeada com um coro budista infantil dá um ar épico ao álbum, além da primeira verdade encontrada pelo narrador: “There´s a place that stills remain, It eats the fear, It eats the pain, The sweetest price we have to pay, The day the whole world went away” (Ainda existe um lugar que permanece, ele devora o medo, devora a dor, o preço mais doce que temos de pagar, o dia em que o mundo todo despareceu). Que lugar seria esse?, pergunta-se o ouvinte. Será alguma espécie de paraíso – ou então, um inferno muito pior do aquele que já vivemos?

A terceira faixa, “The Frail”, com sua beleza meditativa, indica ao ouvinte que este não será um simples disco de rock. É uma sinfonia industrial, pensada e executada nos mínimos detalhes; temas musicais da primeira faixa começam a se infiltrar no conjunto da terceira faixa e Reznor vai utilizar desse procedimento nas duas horas e meia que duram o álbum como um maníaco. A intenção é clara: ao retratar (musicalmente) o processo de iniciação espiritual de um indíviduo (ainda não sabemos se esta iniciação vai ser uma ascese ou uma queda), Reznor, através das recorrências musicais e das simetrias, quer nos mostrar que a vida se compõe de ciclos que se desenvolvem como círculos concêntricos. Este colunista sabe muito bem que é muita metafísica para um “mero” disco de rock, mas o ouvinte tem de acreditar que “The Fragile” é uma obra fora de qualquer tempo e classificação, e portanto o próprio Reznor já devia saber desse pequeno problema estrutural.

É o que ele prova nas três faixas seguintes. A serenidade melancólica de “The Frail” dá lugar à revolta de “The Wretched”, uma canção assustadora com um piano mais assustador ainda, no qual Reznor confronta-se com o silêncio de Deus e assume claramente que está partindo para uma vingança contra a mulher que o abandonou. “It didn´t turn out the way you wanted to” (Não saiu como você queria), grunhe Reznor de forma sarcástica, e temos a impressão que ele não hesitaria em explodir a moça em mil e um pedaços. Grave erro – na canção seguinte, Reznor nos surpreende com “We´re in This Together Now”, uma fantástica, pesada e desesperada balada de amor que cita sem nenhuma vergonha “Heroes” de David Bowie: “You´re the queen and I´m the king, Nothing else means everything” (Você é a rainha e sou o rei, e nada mais importa), com guitarras em solos alucinados, duas baterias acompanhando um ritmo intrincado, cheio de pausas e quebras que revelam o amor do narrador pelo ser amado. O que era para ser uma nêmesis se revela uma musa, ainda que uma musa perversa, e por isso mesmo frágil. Este é o mote da próxima canção, que tem o nome do álbum, “The Fragile”, que começa de maneira fabulosa: “She shines in a world full of ugliness, She matters where everything is meaningless, Fragile, She doesen´t see her beauty, She tries to getaway, Sometimes where just that nothing seems so easy, I can´t watch her slip away” (Ela brilha em um mundo cheio de destruição, ela é o que importa quando tudo não tem sentido, Frágil, ela não vê a própria beleza, ela tenta escapar, algumas vezes quando tudo parece tão fácil, não posso ver ela escapar), para explodir num refrão único:

“I won’t let you fall apart”. (Não vou deixar você se destruir)

Ah, então perguntará o ouvinte (e o leitor deste ensaio), o Frágil do título é a mulher? Numa primeira vista, tudo aparenta que sim. Mas Reznor joga com as aparências, e numa jogada de mestre, ele mistura paranóia e afeto em uma única estrofe, embalada por uma sequência de notas desafinadas no piano e uma série de ruídos sinistros:

“We´ll find a place to go where we can run and hide,
I´ll keep a wall where we can keep them from the other side,
But they keep waiting and picking, and picking, and picking”.
(Nós encontraremos um lugar onde possamos correr e nos esconder,
Vou construir um muro que nos separará do outro lado,
Mas eles ficam esperando e pegando, pegando, e pegando)


A fuga da realidade se confunde com a busca por um lugar mais puro e por uma espiritualidade mais elevada, e a confusão chega ao máximo quando no final Reznor grita: “I was like you” (Eu era como você). Chegamos à primeira reviravolta da história: o narrador se projeta na mulher amada de tal forma que tanto ele como ela são frágeis. Ao assumir a fragilidade humana da qual faz parte, o narrador parte para um outro estágio da sua busca, um estágio em que o que era uma vingança vira uma peregrinação na qual não se pode mais voltar para trás.

Daí em diante Reznor não desperdiça seu arsenal de surpresas. São trevas alimentando-se de trevas. A instrumental “Just Like You Imagined” começa com ruídos que parecem do fundo do mar (isto terá um sentido dentro em breve); a bateria continua violenta, mas uma camada de guitarras que aumentam sem parar vão encobrindo os gritos de Reznor (sim, leitor, ele grita e sussurra tanto neste álbum que não seria um exagero chamá-lo de Ingmar Bergman do rock), até uma explosão que nos faz acordar de um certo torpor. Este torpor é o do próprio narrador. Ele acorda de um sonho estranho e percebe que o sonho continua na realidade e não há como fugir. Já estamos na faixa “Even Deeper”, uma canção de batidas eletrônicas, notas indianas, e com aquele ruído do fundo do mar entrando no inconsciente do ouvinte. A letra fala sobre a impossibilidade de sentir algo importante, de querer ter aquilo que não há como agarrar. Mas o sujeito reconhece que, de qualquer maneira, subir o poço não é a sua melhor escolha naquele momento. Logo, ele vai descer até o fundo – e é o que vai fazer no final do primeiro CD. Os toques orientais de “Even Deeper” se dissolvem em uma marcha mecânica, e as guitarras fazem as vezes de trompas e clarinetes, além dos urros masoquistas que escutamos nos auto-falantes. É o tema de “Pilgrimage” e aqui Reznor explicita de vez o sentido de iniciação espiritual do narrador. A peregrinação em busca dessa mulher (ou o que ela representa) será dura, cruel, e, se puder, sem nenhuma gota de humanidade.

Mas nem sempre as coisas saem como queremos. “Pilgrimage” termina abruptamente para dar lugar à “No You Don´t” e outra vez Reznor deixa a situação um pouco mais clara. A mulher amada não é uma simples sacana ou uma simples coitada que precisa ser salva; ela é uma louca, maluca de hospício, digna de andar com camisa de força. “Baby´s got a problem, Tries so hard to hide, You keep running in circles, because everything is dead on the other side” (A querida tem um problema, tenta escondê-lo a qualquer custo, você fica correndo em círculos, porque tudo está morto no outro lado) – este outro lado é a alma da mulher, totalmente corrompida pelo desprezo ao mundo e o narcismo de sua personalidade (“You think you will have everything, but no you don´t” – Você pensa que tem tudo, mas não, você não tem). Reznor não hesita na fúria, e o barulho dessa canção é proposital para o que vem a seguir: simplesmente uma das coisas mais bonitas que a Humanidade já produziu. Estamos falando de “La Mer”, e é aqui que tudo começa a fazer sentido. O narrador está sentado no pico de um morro. Ele vê o mar e seu horizonte, o símbolo máximo do Absoluto e uma paisagem que estimula à meditação. O que fazer depois que tudo parece estar perdido? Um piano delicado vai se intensificando com o violão e o baixo, além de uma voz feminina, em francês, suspirando que “o mar me abraçou agora e agora nada irá me impedir”. A voz seria a mulher? Talvez sim, talvez não. Seria uma lembrança do narrador? Não. Em “La Mer” ( inspirado na composição de Debussy) o tema das personalidades volta: o narrador é a mulher e vice-versa. É como disse Fernando Pessoa: “Torna-se o amador a coisa amada”. Mesmo em sua perversidade, a mulher é um objeto de redenção para o narrador que quer amá-la e destruí-la ao mesmo tempo. Então, enquanto o piano vai dedilhando sua melodia, e o baixo e a bateria acompanham num ritmo dançante (parecido com as ondas do mar), entra uma guitarra de uma nota só, altamente distorcida. Quando se nota o efeito que essa distorção faz na compreensão do álbum, percebe-se que era aquela distorção que o Sonic Youth procura há anos e ainda não encontrou. O impacto é devastador; é como se o mar inteiro tivesse engolido o ouvinte, a baleia de Jonas não deixando ninguém escapar nem por um segundo.

A descida toma um ritmo vertiginoso com “The Great Below”, a última faixa do primeiro CD. Os mesmos ruídos que acompanhavam o ouvinte desde “Just Like You Imagined” tomam forma defintiva para dar espaço a Reznor e deixam-no cantar uma das estrofes mais amargas já feitas:

“Staring at the sea,
Will she come?
Is there a hope for me,
After all i´ve said and done,
Anything at any price,
All of this for you,
All the spoils of a wasted life,
All of this for you”.
(Olhando para o mar,
será que ela chegará?
Há alguma esperança para mim,
depois de tudo o que eu disse e fiz,
Tudo por qualquer preço,
tudo isso por você,
Todos os espólios de uma vida perdida,
tudo isso por você)


“All the spoils of a wasted life” (Todos os espólios de uma vida perdida) é algo terrível para dedicar ao ser amado. Sua herança e seu carinho são nada mais, nada menos que perda e remorso. Construído meticulosamente num crescendo, “The Great Below” leva Reznor num desepero tão grande que parece que o ouvinte vai explodir junto com ele ao escutar que “o meu destino está ficando claro, o tempo está correndo, as correntes tem o seu sentido, e eu desci da Graça, para os braços da tormenta, e tomarei o meu lugar na grande imensidão”. Seria o primeiro indício de suicídio? Não, pois, como veremos, aquela mulher que ele quer destruir é também a razão de sua existência. A prova? O final de “The Great Below” quando ele fala: “I can still feel you even so far away” (Eu ainda posso sentir você, mesmo estando tão longe). Para o narrador, é uma obsessão que dá sentido à sua vida, e não a realidade. Ao sentir a mulher na distância ele não quer falar que é delicado e sensível. Sua “sensibilidade” tem um nome: destruição. E agora que chegou à conclusão que ele foi renegado pela Graça divina, tudo que lhe resta é pôr o seu plano em prática e agir de acordo com sua maldição.

Movido pelo ódio e por um estranho afeto, o narrador decide que vai até o fim na sua experiência, mesmo que seja rastejando. Assim começa a segunda parte do CD, com “The Way Out is Through”. Se a primeira parte é a mais longa, com 56 minutos de duração, a segunda é curta, com 48 minutos, e isto também tem um sentido: o CD 1 é muito mais reflexivo, no qual o narrador tenta compreender o que aconteceu com ele; no CD 2 ele parte para a ação, e por isso a sua velocidade. Em “The Way Out is Through”, Reznor começa devagarzinho, canta bem baixo (é impossível escutá-lo a não ser com headphones) para deixar a distorção da guitarra dominar a textura da canção (a mesma distorção de “La Mer”, só que muito mais elaborada, se isto era possível) até a explosão de barulho que acaba com qualquer auto-falante. “We feel so small, but still we crawl” (Nós nos sentimos tão pequenos, mas nós ainda nos arrastamos), berra o narrador. O silêncio volta e aos poucos um violino aparece, misturando notas e melodias de “The Frail” e de “La Mer”, mas desta vez numa base mais rítmica. É “Into The Void” com Reznor brindando o ouvinte com uma frase bem ambígua – “Trying to save myself but myself keeps slipping away” (Tentando salvar a mim mesmo mas fico me escapando, numa tradução bem capenga). A salvação da alma está cada vez mais longe para o narrador, mas ele ainda acredita nela – mesmo que ninguém possa ajudá-lo, assunto abordado em “Where Is Everybody”, canção em que Reznor tenta fazer uma paródia de Beck, terminando por entrar num humor negro que apenas poucos gostam.

“Where Is Everybody” é sobre abandono emocional, o primeiro passo rumo à loucura, e a loucura, quando se infiltra no Espírito, fica marcada como um sinal forjado no fogo. A assustadora instrumental “The Mark Has Been Made” demonstra o poder de Reznor em captar, através da música, a alma torturada de uma pessoa. Uma bateria forte, um violão e uma guitarra que dialogam-se com notas quebradas e acordes desafinados de propósito, fazem o ouvinte viajar pelos meandros de uma mente que já está condenada. A pertubação aumenta ainda mais no final da música, em que, por cerca de 12 segundos, escutamos uma voz que vem como se fosse do fundo do mar e que diz num tom agoniante: “I´m getting closer, I´m getting closer… all the time” (Eu estou chegando perto, eu estou chegando perto… o tempo todo). A procura desesperada pela transcendência se resume nesta sentença. O narrador quer ultrapassar a crueza do mundo em que vive, mas sempre está na fronteira. Essa condição de renegado, de “homem preso ao chão por causa das asas de chumbo” (para citar Baudelaire) é o que leva ao desespero consigo mesmo e com os outros. Por isso, em seguida vem a violência de “Please” e “Starfuckers, Inc.”.

“Please” é o relato cru dos dois amantes se reencontrando e tendo a trepada mais infeliz de todos os tempos.”Watch the white turn to red” (Veja o branco se tornar vermelho) – esta é uma imagem que não precisa de maiores comentários – , fala um Reznor resmungão, que afirma que a amada “nunca vai ser suficiente para me preencher”. “Eu apago o medo”, mas o medo continua imperando nesta relação que tomou ares sadísticos (no sentido do Marquês de Sade, ou seja, o sexo se tornando uma arma de manipulação), um medo que vai ser o início da violência em “Starfuckers, Inc.”. “I play a new game, It´s called insincerity” (Eu jogo um novo jogo, ele se chama insinceridade), anuncia o narrador que agora faz parte do “clube dos mais bonitos e dos escolhidos”, as “estrelas fodedoras, incorporações” do título. O sarcasmo e a ironia nesta canção são evidentes, e apesar de se integrar perfeitamente à concepção do álbum, Reznor também satiriza o seu discípulo bastardo, o tal do jornalista chamado Marilyn Manson, homenageando-o com uma citação de Carly Simon (“You´re so vain, did you think this song is about you?”,Você é tão vaidoso, achava que essa canção era sobre você?) e terminando a música com um sampler muito mal feito de um show do Kiss, sujando de propósito a bateria com os urros de uma platéia que parece parabenizar o que o narrador fez com a mulher (a saber, ou pelo menos é o que Reznor dá a entender com a frase “And when I suck you off not a drop I´ll go to waste” [E quando eu te chupo não vou perder sequer um pingo], ele pratica um sexo oral um tanto quanto forçado).

Então vem a grande reviravolta da história, marcada pela instrumental “Complication”. O narrador finalmente conseguira se vingar da futilidade e maldade da mulher. Missão cumprida? Nem um pouco. Reznor dá a pirueta definitiva ao mostrar que, apesar da vingança executada, o narrador não consegue esquecer a moça. A obsessão atingiu um ponto de não-retorno. Não há como fugir – ele está completamente encurralado. O próprio afirma isso quando canta que “There´s always a way to forget, once you know the way to find out” (Há sempre uma maneira de esquecer, desde que você saiba o caminho para esquecer) na fantástica “I´m looking forward to join´you, finally”, em que uma bateria tirada diretamente do “Bone Machine” de Tom Waits se contrapõe ao um acompanhamento minimalista. Seu único esquecimento é se desfazer em pedaços, “tentar arrumar tudo, e destruir depois só pela diversão de acabar com tudo”. “There´s no place I can go, There´s no place I can hide” (Não há um lugar que eu possa ir, não há um lugar que eu possa me esconder), se desespera Reznor ao ver que sua procura terminou muito mal na canção “The Big Comedown”. O fim chega a ser niilismo puro, como se vê em “Underneath It All”:

“All I do I can still feel you,
Kill my brain yet you still remained
Crucified after all I tried you are still inside
All I do I can still feel you
You remained
I´m stained”
(Tudo o que eu faço ainda posso te sentir,
Mato minha mente e ainda assim você permanece,
Crucificado depois de tudo você continua aqui dentro,
Tudo o que eu faço ainda posso te sentir
Você permanece
Eu fico marcado)


A marca já foi feita, a mancha se impregnou na alma. Ainda assim, o próprio Reznor dá o seu sentido próximo a essa experiência com o epílogo “Ripe (Decay)”. Uma longa música instrumental que dá uma sensação de súbita paz e estranha serenidade para uma história tão atormentada. Seria o fim definitivo da procura? Teria um fim? E se tivesse fim, esta procura teria sido uma iniciação satânica, já que nada alcança uma síntese, uma perfeita e harmônica unidade das coisas? Ninguém aqui é doutor em teologia ou padre para decidir isto, muito menos Trent Reznor. A única coisa que sabemos é que este é um caminho que não vai para a frente nem para trás, ou para cima ou para baixo. É uma espiral, uma complicada espiral que adquire vários sentidos conforme as várias vezes que é escutada. Sua complicação se dá porque o disco termina abruptamente, como um choque. Seus últimos acordes são o do início de “Somewhat Damaged”, a primeira canção do CD 1, tocados de trás para a frente. A espiral volta para o seu ponto de partida, mas a partida é também o fim (o que nos faz lembrar o T.S. Eliot dos “Quatro Quartetos”: “In my end is my beginning, in my beginning is my end”[ O meu fim está no meu começo, o meu começo está no meu fim]). O que importa é que o narrador e o ouvinte passaram por essa aventura juntos, mesmo que ela terminasse (?) com decadência. A redenção não é negada, ela está lá, no céu que é a tampa da marmita onde vive a humanidade, mas são poucos que podem alcançá-la. O importante é a procura em si, não o término dela. A loucura, a obsessão e a maldade fazem parte da natureza humana, e temos que aceitá-la, justamente para evitá-las. Ao fazer isso, aceitaremos a fragilidade de nossa existência e, por incrível que pareça, ficaremos mais fortes, aptos para sairmos da imensidão do inferno em que vivemos.