domingo, 31 de julho de 2011

sábado, 30 de julho de 2011

SONS "BEM LEGAIS" #8

MITOLOGIA SILVÍCULA

O GÊNIO DO MAL
HAVIA uma mocinha meiga e formosa chamada Thakané, órfã de pai e mãe. Fora recolhida ainda criança, por seu tio Madi-a-Komo, cujo nome significa Sangue-de-Boi, e que era um homem cruel.
Madi-a-Komo não recolhera a sobrinha senão para fazê-la trabalhar duramente em seu proveito.
Pensara também que, quando ela fosse grande, a sua beleza, já notável em criança, a faria encontrar um esposo muito rico, grande chefe, que possuisse numerosos rebanhos. Assim êle, como tio, receberia um grande número de bois no dia em que lha desse em casamento.
Com efeito, se bem que muito nova ainda, Thakané foi pedida em casamento por um chefe extremamente rico.
Ela, porém, recusou desposá-lo.
A partir desse momento, seu tio principiou a odiá-la e maltratá-la.
Um dia, Madi-a-Komo estava nos campos com Soyané, sua mulher.
Thakané ficara só em casa.
Numa larga pedra chata, com uma pedra menor, esmagava grãos transformando-os em farinha.
Saio, o filho de Madi-a-Komo, e que era ainda criança, encontrava-se na vizinhança, perto do cerrado onde estavam os bois e os carneiros.
Era êle quem devia levar ao pasto esses animais.
Entrou no páteo, cercado de canaviais, que havia diante da choupana.
— Thakané — disse à mocinha — dá-me Kumongoé.
Kumongoé era o nome de um arbusto precioso que crescia na própria choupana.
Quando nele se fazia um corte com um machado, saía leite um pouco ácido, com sabor a leite coalhado.
O pai e a mãe saboreavam-no com delícia, dando-o também ao filho; mas a mocinha não tinha licença de tocar no arbusto.
Nunca Thakané provara daquele leite.
— Não sabes — respondeu ela a Saio — que nem tu nem eu devemos tocar no Kumongoé?
— Se assim é, não levarei o gado ao pasto. Thakané nada respondeu, e a criança sentou-se no páteo.
Passado um instante, disse-lhe ela:
— Quando levas o gado para o pasto?
— Não pastará hoje em todo o dia. Refletindo que seria muito prejudicial aos bois e aos carneiros passarem o dia sem pastarem, a mocinha tomou uma pequena vasilha na mão esquerda, um machado na direita e aproximando-se do Kumongoé, feriu-o levemente com o machado.
Saiu do arbusto um pouco de leite, que ela deu a Saio, mas a criança recusou-o, dizendo que era muito pouco para matar a fome.
— Ficará o gado no estábulo — acrescentou.
Então Thakané levantando de novo o machado, feriu a pequena árvore com mais força. Desta vez saiu leite em abundância. Era como um regato, correndo no solo. Assustada, a mocinha chamou a criança.
— Vem depressa em meu auxílio! A árvore de teus pais derrete-se. A cabana já está cheia de leite!
Debalde tentaram deter o leite com as mãos. Corria sempre mais abundantemente, saía da cabana e enchia o páteo.
E como, conforme o uso do país, a cabana estava situada numa eminência, a onda branca
principiou a descer para os campos, onde Madi–a-Komo trabalhava com a mulher.
O homem viu de longe o regato de leite.
— Soyané — disse. Eis que o leite do Kumongoé está correndo para nós. Talvez que Saio fizesse alguma tolice, ou, antes essa desobediente Thakané. Ah! pagá-lo-á bem caro!
Atirando ao chão as enxadas com que capinavam o solo, os dois esposos lançaram-se ao encontro do Kumongoé.
De joelhos, tomaram leite nas mãos e puseram-se a beber.
Apenas o tocaram com os lábios, a onda recuou por si mesma, voltando para a cabana e reentrando na casca vazia do arbusto.
O Kumongoé voltou ao seu primitivo estado.
Chegados à casa, os pais interrogaram o filho e a moça.
Ambos disseram a verdade, mas Madi-a–Komo fêz recair toda a culpa em Thakané.
— Visto que me desobedeceste — disse — e não posso fazer de ti nada de bom, levar-te-ei ao Canibal, do outro lado das colinas, que te devorará.
Soyané que não era má tremia diante do marido, e soltou um grito.
— Como farás semelhante coisa? Não é ela tua sobrinha? Acaso a sua falta é tão grave?
— Feriu o Kumongoé com o machado, e se a deixássemos continuar, chegaria a bebê-lo. Todos os pedidos serão inúteis: morrerá.
Madi-a-Komo sentia alegria em desabafar o seu ódio contra a moça.
Contava também que o Canibal, muito guloso de carne humana com tanto que fosse nova e tenra, lhe desse, pelo menos, uma junta de bois em troca de Thakané.
Disse depois à mulher que amassasse a farinha e a cozesse.
Ele mesmo matou dois carneiros e assou-os.
— Ah! não quiseste desposar o chefe que nos teria enriquecido, mas serás vendida ao Canibal. Vou enfeitar-te, para que êle goste de você.


Partiu com Thakané

Então, com as peles dos dois carneiros, bem secas, depois de untadas de gordura e terra vermelha, para que ficassem mais brilhantes, fêz com elas uma espécie de capa para a moça.
Deram-lhe também uma saia de peles, com franjas.
Thakané que usava todos os dias os mais pobres vestidos, feitos de ervas tecidas, ficou assim adornada para ir ao encontro da morte.
Para que não pudesse fugir o tio mandou chamar um ferreiro que cravou pesados anéis de ferro ao pescoço, aos braços e às pernas de Thakané.
Não se importando com as súplicas de sua mulher e filho, nem com as recriminações dos vizinhos, Madi-a-Komo partiu com a mocinha. Antes de transpor as colinas que separavam o seu país da aldeia onde habitava o Canibal, atravessaram campos cultivados.
Era o tempo das ceifas e não se viam erguidos caules elevados, nem balançar-se ao vento as compridas folhas de sorgo.
De súbito, de um tufo de ervas surgiu um coelho, que perguntou:
— Madi-a-Komo, para onde levas essa criança tão bela e tão formosa?
— Podes interrogá-la, é já bastante grande para te responder.
Então Thakané disse em voz triste e doce:
— Dei o leite do Kumongoé ao pastorzinho, e agora meu tio leva-me para ser devorada pelo Canibal!
— Madi-a-Komo! — exclamou o coelho. — Oxalá que sejas tu, e não esta criança, quem seja devorado peio Canibal!
Um pouco mais adiante, fizeram uma parada para comerem.
Depois, tendo prosseguido viagem, encontraram dois veadinhos, que fizeram ao homem a mesma pergunta que o coelho.
Deu êle a mesma resposta que precedentemente, e Thakané disse no mesmo tom suave e triste, as palavras que antes proferira.
Então os veadinhos exclamaram:
— Devias ser tu a morrer, Madi-a-Komo, em vez dela!
Pela tarde os viajantes fizeram nova parada para comerem.
Depois, andaram ainda um pouco mais.
Veiu a noite e estenderam-se ao solo para repousar, mas a pobre Thakané não conseguiu dormir.
No dia seguinte, encontraram diversas gazelas.
— Madi-a-Komo — disseram os graciosos animais — para onde levas essa jovem tão bela e tão formosa?
— Perguntai-lho; é já bastante grande para responder-vos.
Então Thakané disse em voz triste e doce:
— Dei o leite de Kumongoé ao pastorzi-nho e agora meu tio leva-me para ser devorada pelo Canibal!
As gazelas exclamaram:
— Madi-a-Komo, que sejas tu, e não ela, quem seja devorado pelo Canibal!
Por fim, chegaram à aldeia em que habitava o chefe comedor de carne humana.
Outrora, todos os habitantes daquela região tinham sido canibais. Presentemente só o velho chefe muito vigoroso ainda, continuava a praticar o antigo uso.
Ninguém tentava desviá-lo de tal costume porque êle era o chefe e não ousavam censurar-lhe uma prática que fora durante muitos séculos de toda a tribu.
Havia no meio da aldeia uma praça redonda cercada de ramos de árvores.
Quando ali chegaram os viajantes estava cheia de gente.
Masilo o filho do velho chefe, encontrava–se lá, discutindo com outros os assuntos que diziam respeito à tribu. Ouviam-no com muita atenção.
Masilo ficou logo surpreso pela beleza de Thakané e pelas argolas que lhe prendiam os membros.
Interrogou o recém-chegado sobre o que ali o levava.
Madi-a-Komo deu, uma vez mais, a resposta já dada, dizendo a todos o cruel castigo que a esperava.
Masilo estremeceu à lembrança de que a formosa rapariga ia ser entregue à selvagem voT racidade do seu pai.
— Vai ter com o chefe — disse êle a Madi–a-Komo — e fala-lhe. Esta criança não lhe será levada sem que meu pai a requisite.
Em seguida, fêz conduzir Thakané à casa de sua mãe, que habitava sozinha e tiraram-lhe os anéis de ferro.
Ao mesmo tempo, um servo conduziu Madi–a-Komo à presença do chefe.
— Teu filho Masilo, — disse — envia-te este homem, para te saudar.
Madi-a-Komo preparava-se para explicar ao chefe o motivo da sua vinda ali quando este, interrompendo-o às primeiras palavras, lhe gritou com voz rouca:
— Como te chamas?
— Madi-a-Komo.
— Está bem! Vamos vêr se o teu nome diz a verdade e se o teu sangue tem, realmente, o gosto do sangue de boi.


Encontraram diversas gazelas

Ao proferir estas palavras, o velho Canibal lançou-se sobre o homem.
Agarrando-o com as duas mãos, precipitou-o numa grande panela, cheia de água a ferver.
Quando a sua presa ficou convenientemente cozida, o velho saciou-se.
Depois lançou para fora os ossos da vítima, com os restos de carne.
Alguma coisa, porém, de Madi-a-Komo não fora ainda tocada pelo Canibal, e não estava morta.
Era o seu coração, esse coração tão duro, tão incapaz de piedade!
O coração foi enterrado no solo.
Quando Thakané foi informada do horrível fim do tio, chorou, e ela própria se preparava para a morte, quando Masilo lhe disse:
— Se assim o quiseres desposar-te-ei e meu pai não tocará num só cabelo da tua cabeça.
Até então, Masilo não quisera nunca casar-se. Recusava todas as moças que lhe propunham, mas ficara comovido e impressionado desta vez pela beleza de Thakané, e pela sua infelicidade.
Consentiu ela em ser sua esposa e viveram muito felizes na aldeia.
Passado algum tempo, Deus lhes deu uma filha.
A sogra, apreensiva, exclamou:
— Ah! minha, filha, separar-te-ão de tua filha imediatamente, para nunca mais a veres.
Naquela aldeia, quando nascia uma menina, levavam-na ao Canibal, que a devorava.
Assim, não se viam ali senão rapazes.
Aquele que, homem feito, queria casar-se, ia procurar esposa na região circunvizinha.
Avisado por um servo de que lhe nascera uma menina, Masilo chegou, com o coração constrangido de tristeza.
O costume da terra fazia-lhe horror, mas todos o haviam respeitado até àquele dia.
Se Masilo quisesse defender a filha, acusa-lo-iam de se revoltar contra o pai e de não aceitar a lei a que todos tinham obedecido.
— Masilo — disse Thakané — vão-me roubar minha filha! Por quê?
O jovem calava-se.
Fitou a mãe, para que ela respondesse em seu lugar. j
— Minha filha — disse a velha em voz trêmula — é preciso que meu marido cuide de tua filha.
Thakané compreendeu a espantosa coisa que não ousavam dizer-lhe.
— Não! não! No meu país não se comem os filhos! Não quero que levem a minha filha!
A sogra respondeu-lhe:
— Aqui, é preciso não ter filhas. Thakané apertou a filha nos braços.
— Masilo — disse — não defenderás tua filha?!
— Toda a aldeia — respondeu o jovem chefe — virá arrancá-la das nossas mãos.
— Pobre filha! Não posso salvar-te, pois que são todos contra ti.
Mas não te deixarei devorar pelo Canibal. No lugar em que morreres, serei eu mesma que hei-de enterrar-te.
Então, agarrando a filha nos braços, saiu da cabana.
Masilo pôs-se diante da porta e ninguém dos que ali estava ousou perseguir Thakané, que desceu rapidamente ao rio.
Caía a noite no momento em que Thakané saiu de casa.
Chegou a um lugar em que o rio formava uma bacia profunda, cercado de canaviais altíssimos.
Cansada, sentou-se à beira da água e chorou, não sabendo o que fazer.
De resto, se tentasse fugir, para onde iria?
Como encontraria o que comer?
— Não tenho senão uma coisa a fazer — pensou: esconder-me nos canaviais, e esperar a morte, que em breve nos levará, a mim e a esta pobre criaturinha.
De súbito, uma velha saiu das águas e apareceu entre os canaviais.
À luz das estrelas, Thakané pôde entre-ver-lhe o rosto: era cheio de compaixão e meiguice.
— Por que choras, minha filha? — perguntou a velha.
— Choro pela minha filha, que vai morrer.
— É verdade: na tua aldeia não devem nascer senão rapazes. Dá-me a tua filha, que eu a tomarei a meu cuidado. Dize-me só a época em que desejas tornar a vê-la, e vem então chamar-me à beira do rio.
Thakané confiou-lhe a filha, e fixou o dia em que viria chamá-la à beira do rio.
Depois, viu-a submergir-se na água com a criança e regressou à casa.
Apenas entrou na cabana, deitou-se e nem Masilo, nem a sogra ousaram interrogá-la.
A criança já lá não estava e como não se encontrou o seu corpo em nenhuma parte, pensaram que Thakané, não podendo salvá-la, a afogara no rio.
Quando chegou o dia aprazado, Thakané encaminhou-se para o rio.


Abraçou sua filhinha

Era a hora em que o sol já não está muito alto no horizonte.
Logo que chegou à beira da água, disse Thakané:
— Escutaste-me um dia de aflição; deverás reconhecer a minha voz. Vem boa velhinha, aparece-me com a minha filha.
Então, a velha apareceu com a criancinha, que já tinha crescido bastante; desenvolvera-se muito mais rapidamente do que o comum das crianças.
A mãe rejubilou, permanecendo muito tempo à beira da água com a filha, não se cansando de a vêr, de a abraçar, de lhe falar e de a ouvir.
Depois do pôr-do-sol, a velha tomou-a de novo, e desapareceu com ela no fundo das águas.
Thakané voltou assim a vêr sua filha em épocas fixas.
Logo que lhe pressentia o apelo, a velha trazia-lhe a criança, que ia crescendo de forma surpreendente. Ao fim de um ano, dir-se-ia uma mocinha de dez anos.
A mãe tivera o cuidado de escolher para as suas visitas a hora em que as margens do rio estavam habitualmente desertas.
Mas um dia um homem da aldeia, que viera cortar cana naqueles lugares, avistou a graciosa criança junto da mãe.
Surpreendeu-se ao vê-la e notou a sua semelhança com Masilo.
Depois retirou-se sem ser visto e, regressando à aldeia, foi ter com o jovem chefe.
— Na margem do rio — disse-lhe — vi tua mulher em companhia de tua filha a que se julgava afogada. O que me surpreende é que a pequena é quasi uma rapariga feita.
— Como pode ser minha filha? — disse Masilo.
— Parece-se muito contigo. E, depois, vi bem de que maneira Thakané a olhava e beijava.
A partir desse momento Masilo espiou sua mulher. Quando saía sozinha seguia-a, para vêr se se dirigia para o rio.
Um dia Thakané tomou essa direção.
A princípio Masilo seguiu-a de longe; depois, dando uma grande volta, deitou a correr, para chegar antes dela à beira do rio e agachou–se entre os grandes canaviais, ficando à sua espera.
Chegou Thakané e pôs-se a chamar a velha.
Esta saiu da água com a pequena, que se lançou nos braços da mãe.
Masilo não teve dúvida de que era sua filha, e sentiu as lágrimas correrem-lhe pelas faces.
A velha disse a Thakané:
— Tenho medo; parece que alguém nos está espiando.
Logo tomou de novo nos braços a linda criança e desceu para o fundo das águas, regressando Thakané à aldeia.
Masilo também para lá se dirigiu, mas por outro caminho. Ao passar diante da cabana da mãe, entrou no pátio.
Não estava ninguém ali.
Masilo sentou-se e chorou por muito tempo.
Foi assim que sua mãe o foi encontrar uma hora depois.
— Meu filho — disse —por que choras? Masilo respondeu que lhe doía muito a cabeça e, levantando-se, regressou à cabana.
— Thakané — disse êle à mulher — acabo de vêr a nossa filha.
— Não sei o que queres dizer — respondeu Thakané.
Durante muito tempo Masilo pediu à mulher que lhe confiasse tudo, e lhe trouxesse a filha.
Thakané acabou por dizer-lhe:
— Se ta trouxer, devorá-la-á teu pai.
— Não; agora, que a nossa filha é já grande, não tem nenhum direito sobre ela e, se ma pedisse, eu saberia muito bem defendê-la.
No dia seguinte Thakané dirigiu-se ao rio e chamou a velha.
— Masilo viu-nos ontem e pede-me insistentemente que lhe leve a filha.
— Que me dê mil cabeças de gado — respondeu a velha — e restituo-lh’a.
Quando Thakané levou esta respostas ao marido, êle exclamou ébrio de alegria:
— Sim, dá-las-ei. Teria até podido pedir duas mil, visto que, sem a sua intervenção, a minha filha morreria!
Das pastagens da região mandou vir todo o gado, com os seus guardadores.
Quando chegaram os rebanhos, escolheu dentre os mais belos animais quinhentos bois e quinhentas vacas.
Caminhava à frente com a mulher.
Quando chegou à beira da água, Thakané repetiu:
— Escutaste-me num dia de aflição; deverás reconhecer a minha voz. Vem, boa velhinha; aparece-me com minha filha.
Então a velha saiu das águas, trazendo pela mão uma lindíssima mocinha que parecia ter cerca de quinze anos.
Masilo beijou a filha, com lágrimas de felicidade.
Todo o povo viu a menina tão maravilhosamente salva da morte e deitaram ao rio o gado prometido à velha.
Sob as águas estendia-se um vasto país, em que vivia um povo numeroso, que ela governava em paz e onde havia também esplêndidas pastagens.
Quando regressaram à aldeia a mãe de Masilo, disse ao filho:
— É preciso agora conduzir Thakané ao seu país, para visitar os parentes que lhe restam. Receberão como presente o gado que é de uso oferecer à família da desposada, e travareis amizade com toda a tribu.
Pouco tempo dois, a Providência presenteou-os com um menino.
Quando chegou a ocasião, Masilo pôs-se a caminho, com um séquito numeroso de criados, criadas, e o gado, presente do casamento.
Thakané, levava às costas o filhinho, envolvido numa pele de carneiro muito flexível. A filha caminhava a seu lado.
Ao cair da noite, pararam para cear e dormir.
No dia seguinte, os viajantes aproximaram–se do estreito desfiladeiro por onde Thakané passara com seu tio.
Ia adiante, porque só ela conhecia o caminho que levava à aldeia.
De súbito percebeu que um grande rochedo fechava, quasi por completo, o desfiladeiro.
— Que quererá significar aqui este rochedo? — perguntou.
— Não o viste quando por aqui passaste? — disse Masilo.
— Não: este rochedo não se encontrava aqui; a passagem estava livre!
Assim falando, continuaram a avançar com os outros e com o gado. Quando chegaram ao desfiladeiro, a poucos passos do rochedo, viram
que essa massa, de aspecto sinistro, abria duas enormes cavernas de pedra, entre as quais se entrevia um abismo negro. E o rochedo disse:
— Thakané, minha filha: tu, que vais à frente, e vós que vos dirigis à minha aldeia, se tentares forçar a passagem, prender-vos-ei, co-mer-vos-ei, engulir-vos-ei a todos vós.
Este espantoso rochedo não era outro senão Madi-a-Komo.
Thakané reconheceu-lhe a voz.
Aterrada, disse a Masilo:
— É meu tio: veiu esperar-nos. Resolveram, porém, passar, apesar de tudo.
Os criados impeliram o gado para a frente, para o lado em que o rochedo lhes obstruía completamente a passagem; mas à medida que avançavam, os bois foram apanhados no abismo.
Os criados, as criadas e os homens, obstinavam-se em querer passar, mas foram engulidos.
Thakané exclamou desesperada:
— Levaste os bois! Levaste os homens! Pois bem, leva-nos também a nós! Leva!
Então, deixou-se prender com o marido e os filhos.
O rochedo enguliu-os de uma vez, e chegaram juntos às suas entranhas de pedra.
O interior de Madi-a-Komo era mesmo uma vasta caverna. Já outros viajantes tinham sido tragados por êle; alguns ainda estavam vivos.
Os amigos e os criados do jovem chefe, que estavam armados, principiaram a furar as entranhas do rochedo, para passarem através, au-xiliando-os Masilo com todas as suas forças.
Uns a golpes de machado, outros com facas, praticaram uma abertura e a brecha, por fim, foi bastante larga para deixar passar alguns homens.
Todos os prisioneiros se apressaram a sair. Os criados de Masilo levaram o gado adiante de si.
Apenas sairam, o rochedo mal sustentado, ruiu com terrível explosão.
Masilo e Thakané, seus filhos, e todos da tribu, prosseguiram alegremente o seu caminho e em breve chegaram à aldeia de Thakané.
A sua chegada foi tida como um verdadeiro acontecimento por Soyané, tia da jovem, e por Saio, seu primo, e da mesma maneira por todos os habitantes do país, que julgavam Thakané morta há muito tempo.
Alegraram-se e choraram de comoção.
Depois, abateram um grande número de cabeças de gado, para festejarem dignamente a visita de Thakané e Masilo.


FIM

Tradução e Adaptação de Leoncio de Sá Ferreira

"ARTE" NA RUA # 80

sexta-feira, 29 de julho de 2011

SONS "BEM LEGAIS" #7

QQQUÊ É ISSSO MAAALANDRO!!!


Garota Poker

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"

Olá, Poker Players!!

No inicio demorei a perceber a finalidade do blog, mas de fato é como se fosse um diário onde todos os acontecimentos da minha vida vão influenciar diretamente no que vai ser escrito aqui. Então vamos por etapas:

1- Criei um "personagem" p/ defender minhas idéias em relação ao Poker.

2- Não SOU PROFISSIONAL.Namoro um JOGADOR de POKER que a mais de 2 anos tem nesse esporte sua PROFISSÃO.

3- Pretendo casar e constituir família com esse jogador.Então a minha "causa" em relação a defender esse esporte também é pessoal, pois sempre apoiei a decisão dele e estou ao seu lado para encarar esse desafio.

4- GarotaPoker - Forma que encontrei de poder ajudar a dar "leveza" ao Poker, defender a idéias de que não deve ser marginalizado.

5-PERSONAGEM: Nunca quis me promover como pessoa física quis promover minhas idéias e levantar minha bandeira em prol da profissão do meu futuro marido e do futuro pai dos meus filhos.

Nessa missão que me designei tenho dedicado muita ENERGIA sempre com RESPONSABILIDADE e CARÁTER. Em alguns momentos da minha vida pessoal e profissional isso me prejudicou seriamente pois não consegui administrar a gestão do tempo dedicado a "GarotaPoker" e o restante da minha vida.

Obtive na semana passada um convite para ingressar numa nova empresa, uma super oportunidade de crescimento profissional e financeiro. E junto as todas essas mudanças estava decidida a finalizar minha missão no Poker e abandonar todo esse projeto que tenho com a "personagem" aqui no blog e no twitter.

Como vocês puderam acompanhar escrevi um final aqui no post "The end". Porém a vida que sempre me reservou diversas surpresas , me deu um domingo cheio de emoções. Pois após o meu anuncio de despedida existiu uma comoção entre as pessoas que sempre acompanharam e me apoiaram.

Nunca foi segredo pra ninguém minha admiração e respeito pelo Akkari e nesse domingo ao ver toda demonstração de carinho que ele teve comigo, isso somente cresceu e fortaleceu a imagem que tenho do ser humano incrível que ele é.

Mas uma das coisas que ele me fez perceber é que a história do Pequeno Príncipe faz todo sentido: E eu realmente me tornarei eternamente responsável por tudo que cativei..

E que a vida é feita de pequenos momentos especiais, e essa troca de energia positiva que a garota poker me proporciona isso não tem PREÇO, mas tem nome se chama FELICIDADE.

E quem não quer ser FELIZ?? Então estou aqui pra dizer que sou Humana, estou apta a erros e acertos.. A escolhas e mudanças no meu caminho.

E assim como foi já dito no meu twitter, estarei menos presente nessa nossa "relação" , mas certamente a intensidade e o amor com que faço e me dedico continuarão o mesmo.

Muito obrigada ao Akkari, obrigada a todos os seguidores que sempre me apoiaram e me dedicaram carinho e respeito pelo twitter e pelo BLOG.

Continuaremos JUNTOS , já que assim percebemos que somos mais FORTES e FELIZES!

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DA NAMORADA DO POKER PLAYER

Namorar com jogador (a) de poker não é tarefa fácil. Horários loucos, variância nas mesas (e no humor), superstições, problemas para falar ao telefone, finais de semana em casa, etc.

Tudo isso é claro que acaba sendo compensado por uma série de outras coisas. Tais como férias inesperadas, finais de semana forçados quando a gente tem de passar de terça a quinta em uma praia já que o domingo SEMPRE será dia de Grind.. Além dos presentes em datas sem importância p/ comemorar aquela forra.

Para facilitar essa convivência e evitar as famosas DRs (Discussões de relacionamento) vou escrever um pequeno manual pra namorada (o) do jogador.

Regra 1 – Sempre que estiver por perto quando ele começar a sessão procure não falar muito
Essa regra é básica não só pra poker, mas pra qualquer profissão. Quem agüenta trabalhar e tentar se concentrar com uma pessoa puxando assunto sobre outra coisa?

Regra 2 – Nunca menospreze a superstição dele (a).
Isso é muito importante. Por mais que o nome já diga tudo, é uma superstição ué! Não vai fazer diferença, mas pelo que conheço de jogadores de poker, eles estão sempre caçando algum motivo além da variância e da falta de concentração pra por a culpa naquela derrota indesejável.

Regra 3 – Nunca ligue em uma hora que não seja faltando 5 minutos pra virada da hora, mais conhecido como hora do break sincronizado.
Os grandes sites de poker todos têm break sincronizado, então sempre que da 12h55min, 13h55min e por ai vai, temos um break. Ótimo, agora é hora de fazer aquele telefonema pra falar o que a gente queria desde as 12h08min.

Regra 4 – Sempre que for fazer uma visita “indesejada” no horário do grind apareça com uma surpresa.
Essa já me ajudou muitas vezes. Meu namorado não gosta que eu vá pra casa dele em horário de trabalho, então sempre que quero ir mesmo assim procuro sempre chegar com uma surpresinha (leia-se comida). Jogador fica horas e horas jogando e só tem 5 min de break a cada hora. Não da tempo de comer ou preparar nada. Faça esse favorzinho.

Regra 5 – Não tente discutir a mão que ele acabou de ser eliminado.
Essa é passível de muita briga. Sempre que meu namorado tenta me convencer que eu joguei errado ou vice versa da confusão. Espere algumas horas e depois de sua opinião. Aguarde o momento oportuno e sua opinião será bem vinda.

Regra 6- Cuidados com os comentários "Espontâneos"
Sempre que você ver ele cair em 11th 10th 9th, NUNCA tente amenizar o momento com um "Pelo menos você ganhou alguma coisa" Além de deixá-lo irritado você possivelmente ganhará uma Cara não tão bonita, seguida de uma resposta não tão agradável .

Regra 7- Cuidado ao fazer aquela perguntinha básica "Amor como foi seu dia?"
Antes de perguntar se o dia de trabalho foi bom, procure dar uma olhada no Sharkscope pra saber se o gráfico está subindo ou descendo, se estiver descendo você não fala de poker. E quando digo não fale eu digo "Nunca" mesmo.

Poker Players essas foram dicas básicas e simples ,e que se forem seguidas a risca serão a garantia de um relacionamento sem muitos estresses e bem mais harmonioso.

Colocamos a Garota Poker na “saia justa”

Em três meses, ela conquistou 847 seguidores no Twitter

Garota Poker é uma personagem que, nas suas próprias palavras, foi criada para “dar minha pequena contribuição para o crescimento desse esporte que adooooro!” Desde que apareceu pela primeira vez em público – no Twitter, dia 25 de outubro de 2010 –, ela tem realizado essa tarefa com inteligência, bom humor e charme. Diariamente, ela incentiva os jogadores de pôquer pelo Twitter com até 30 ou 40 tweets. “GL aos poker players engatados!”, é o tipo de coisa que costuma dizer. Traduzido do jargão do pôquer, isso quer dizer boa sorte (“GL” vem de good luck) aos jogadores que estão “engatados” em alguma partida. Em três meses, ela conquistou 847 seguidores. Entre eles, grande nomes do pôquer brasileiro como André Akkari, Maridu Mayrinck e Leo Bello.

Devido ao sucesso no Twitter, a Garota Poker lançou também um blog. Desde o seu post de estreia, em 6 de novembro, ela publicou mais sete artigos. Alguns são reflexões sobre o mundo do pôquer e outros, textos técnicos. Recentemente, ela lançou uma série de entrevistas intitulada “Na Saia Justa com a Garota Poker”. Seu primeiro entrevistado foi o jogador Bruno GT.

Mas, hoje, foi ela que entrou na saia justa com a Alfa. Em uma entrevista exclusiva, a misteriosa Garota Poker revelou um pouco de si. “Aquela história de que alguém perdeu a fazenda [nas cartas] é, na verdade, um argumento para provar que o jogo é de habilidade”, diz sobre a velha lenda urbana do pôquer. “Afinal, se um jogador perdeu, o outro foi lá e ganhou.” Supersticiosa, ela afirma que sente-se mais segura jogando nas posições ímpares de mesa – e acredita que, “se houvesse a mesma quantidade de jogadores homens e mulheres, o top 5 do mundo teria 3 mulheres e 2 homens”.

A garota é dura na queda. Apesar de nossa insistência, ela não concordou em revelar o seu nome verdadeiro ou em publicar uma foto real. Mas prometeu que, quando ela se sentir preparada “para uma exposição maior”, vai atender aos dois pedidos da Alfa. E promessa é como ficha de pôquer: não tem mola.

Alfa – Você comentou em seu blog que, no Brasil, o pôquer “ainda caminha a passos lentos”. O que falta para o jogo se afirmar no país?
Garota Poker – Esse é um problema cultural. Sempre que você fala em pôquer ou diz que você vai jogar em um clube, as pessoas fazem a ligação direta com as casas de jogos clandestinos e casas de bingo. As noticias que a gente vê todo dia nos principais meios de comunicação sobre esse tipo de lugar nunca são boas, né? Existe no país um trauma muito grande em relação ao jogo que envolve apostas por conta disso. O Brasil ainda é muito preconceituoso, e por isso não para um minuto para diferenciar. Daí, quem é de fora do meio do pôquer acha que ele está no mesmo patamar da roleta, do bingo, do jogo do bicho. Acredito que isso vai mudar muito lentamente. Mas já está mudando.

Alfa – Seu namorado é jogador profissional, não? Você também é?
Garota Poker – Meu namorado jogava sempre e tinha o pôquer como uma fonte de renda secundária, até o dia em que não fez mais sentido pra ele continuar no outro trabalho. Eu não sou profissional, jogo por prazer, não pretendo viver disso. Conheci o jogo com meu namorado e me apaixonei, mas precisa ter muito estômago para viver somente do jogo. Eu não tenho!

Alfa – No primeiro post do seu blog, você fala que certas pessoas “olham torto” quando ouvem que alguém é jogador profissional. Você já presenciou uma situação dessas?
Garota Poker – Comigo nunca aconteceu diretamente, mas senti muito isso quando me perguntavam o que meu namorado fazia da vida. Cheguei a me sentir constrangida algumas vezes, mas nunca abaixei a cabeça e sempre tive orgulho de falar isso. Acho importante para a divulgação do esporte que tenhamos paciência em explicar todo o processo que envolve o jogo: as regras, os sites online, os torneios lives, os ídolos do pôquer… Somente a informação poderá ajudar a formar opiniões positivas sobre o esporte na sociedade

Alfa – O que você prefere: pôquer online ou ao vivo?
Garota Poker – Online. O conforto da minha casa é muito bom, fora a vantagem de jogar um volume maior. Mas gosto muito do ao vivo, também. Acho super divertido. Meu namorado joga 99% online. A gente vai jogar ao vivo poucas vezes juntos. Vou procurar deixar ele em casa e frequentar mais os clubes, adoro o contato com as pessoas.

Alfa – Texas Hold’em ou Omaha?
Garota Poker – Texas Hold’em já é complexo o suficiente pra mim! Quem sabe, no futuro, procuro aprender um pouco de Omaha.

Alfa – Qual é o seu filme de pôquer preferido?
Garota Poker – Acho que o preferido da grande maioria [dos jogadores] é o Cartas na Mesa, e para mim também.

Alfa – E o livro predileto?
Garota Poker – Harrington on Hold’em foi o primeiro que me apresentou um horizonte de possibilidades. Acho que esse marcou mais que os outros.

Alfa – No seu blog, você fez uma brincadeira sobre aquela velha história dos tios que “perderam uma fazenda no pôquer”. Você já ouviu falar de alguém que ganhou uma fazenda jogando cartas? Afinal, “para onde estão indo as terras do nosso país”, como você pergunta no blog?
Garota Poker – Já ouvi falar que o Gabriel Goffi andou ganhando alguns hectares Brasil afora. E essa história de que alguém perdeu a fazenda é, na verdade, um argumento para provar que o jogo é de habilidade. Afinal, se alguém perdeu a fazenda, o outro foi lá e ganhou.

Alfa – Você começou a série “Saia Justa” no blog, em que entrevista jogadores bem sucedidos do Brasil. Se pudesse escolher qualquer jogador da história do pôquer para fazer uma “Saia Justa”, quem seria?
Garota Poker – Nossa, essa sim é uma saia justa! Tem muita gente que gostaria de perguntar um monte de coisa, com certeza seria alguém old school. O Doyle Brunson eu tinha muita vontade, mas como no livro dele ele já contou um monte de curiosidade, não seria ele. Acho que escolheria Stu Ungar, que foi um dos maiores lokes que o pôquer ja viu: perdeu tudo, ganhou tudo, levou uma vida muito emocionante e é considerado, por muitos, o maior jogador de pôquer que já apareceu.

Alfa – Você afirma que “todo jogador tem a sua superstição”. Qual a sua?
Garota Poker – Eu sou a superstição em forma de garota, isso é fato! E no jogo tenho várias. A presença do meu namorado me assistindo é uma delas. Sempre que ele começa a me acompanhar em algum torneio, eu perco. E posição preferida na mesa, posições no torneio… Me sinto mais segura quando estou em número ímpar, preferencialmente “1”. E também existem as músicas que sempre regulam.

Alfa – Quem joga pôquer melhor: os homens ou as mulheres?
Garota Poker – Essa comparação não é muito justa, existem muito mais vezes homens jogando do que mulheres. Acho que, se houvesse a mesma quantidade de jogadores homens e mulheres, o top 5 do mundo teria 3 mulheres e 2 homens.

Alfa – Quando vamos conhecer a identidade real da Garota Pôquer? Só para ter certeza, você não é o Viktor Blom, é?
Garota Poker – Acho que isso faz parte da brincadeira. As pessoas mais próximas sabem quem eu sou, já viram fotos, conversaram no Skype. Não penso em aparecer logo, acho legal esse mistério do personagem. Um dia, com certeza, em alguma etapa do BSOP ou em outro torneio, a gente mostra a cara. E não sou o Viktor Bloom, Deus que me livre! Meu cabelo é muito mais bonito que o dele.

E NAS RUAS... #2

"ARTE" NA RUA # 79

quinta-feira, 28 de julho de 2011

SONS "BEM LEGAIS" #6

TÉCNICAS DIONISÍACAS DE MEMORIZAR.





RIDICULOUSLY AWESOME

"NÃO É EMBALO... CORRE PELAS VEIAS"
(W/V(?)almir Alemão)













"ARTE" NA RUA # 78



Cultura do remix
por Alexandre Matias


O termo remix surgiu nos anos 70, quando produtores e DJs descobriram que era possível mexer na música depois que ela havia sido gravada. Um conceito de certa maneira novo, a pós-produção ajudou a maturidade do rock nos anos 60, quando, liderada pelos Beatles, toda uma geração se dispôs a alterar a própria obra com efeitos, superposições e modulações que podiam mudar sutil ou completamente o que havia sido registrado em estúdio. Mas o que o produtor americano Tom Mould descobriu quase sem querer foi que era possível aproveitar este novo recurso e aplicá-lo em um mercado ainda mais recente, o da disco music. Ele quem começou a explorar as possibilidades de uma mesma música ser esticada, às vezes por mais de dez minutos, caso fosse necessário. Ciente da novíssima habilidade dos DJs de Nova York no final dos anos 70 (que, sozinhos, começaram a grudar as músicas umas nas outras, juntando batidas semelhantes e encaixando as músicas umas nas outras), Mould percebeu que poderia ajudar a movimentação da pista de dança se fizesse discos que ajudassem o DJ ― afinal, discos eram seus instrumentos. E assim foi inventando novidades como o breque instrumental no meio da música ― que poderia ser usado ou para prolongar a duração da música, usando-se dois discos, ou permitir que uma nova música entrasse ―, o single de 12 polegadas (com sulcos mais largos, em vez do compacto de sete) e, finalmente, o remix.

O conceito de remix, no entanto, não podia ficar limitado à pista de dança. Afinal, ele trata de um processo que começa a reverter o detalhismo cartesiano que categorizou o mundo em compartimentos tão diferentes que parece não ter conexões entre si. Aos poucos redescobrimos pontos em comum em áreas que antes julgávamos completamente alheias umas às outras ― intersecções entre arte e dinheiro, ciência e religião, paixão e lucro ― que nos fazem repensar completamente o cenário em que habitamos. Estamos, como Mould no final dos anos 70, descobrindo que existem formas de facilitar a vida de cada um dos DJs do mundo ― e todo mundo é um DJ em potencial. Como tal, todo ser humano edita sua própria realidade a partir de sentimentos, conceitos, princípios e valores que são, voltando à metáfora, as canções que ele quer que o resto do mundo ouça. Com os recentes avanços tecnológicos que tivemos ao final do século passado, começamos a remixar a realidade de forma mais drástica e consciente, seja no controle remoto, no uso da internet e em tudo que consumimos.

Mais do que na música, que ainda mantém alguns setores completamente alheios ao remix, a realidade atual é completamente remixada. Entre as roupas customizadas e os carros tunados, há um sem-fim de produtos que estão sendo reinventados por seus consumidores ― além de tantos outros produtos que foram feitos para ajudar as pessoas a criar, mais do que a simplesmente remixar. Se antes temíamos que a sociedade do consumo nos padronizasse e uniformizasse, estamos vendo um movimento bem diferente acontecendo hoje em dia ― e, a cada dia que passa, mais temos possibilidades disponíveis para alterar a nossa rotina.

Esse processo de remisturação é o oposto do que aconteceu, voltamos à música, quando o áudio começou a ser gravado. Artistas que nunca haviam aspirado o sucesso além de sua própria comunidade aos poucos se viram transformados em pequenas celebridades, vendendo um novo tipo de som novíssimo para o público em geral pelo único fato de ser gravado. Se antes a música popular era um processo coletivo, sem duração, gênero musical ou autoria definidos, à medida que o século XX amanhecia, surgiram novos astros de uma música que, devido a limitações técnicas (só era possível gravar três ou quatro minutos), passava a ter um tema só e começo, meio e fim. Assim surgiu o jazz, o blues, o tango, a moda de viola, o samba, o baião, a rumba, o country e o frevo, por exemplo, gêneros musicais que eram praticados na rua por todos que, quando um Robert Johnson ou Luiz Gonzaga chegava ao estúdio, era personalizado em um músico, quase sempre "o rei do tipo de música tal".

Estabelecida com o advento da mesma inovação tecnológica que deu origem aos idiomas modernos, aos países, aos livros e ao jornalismo (a palavra impressa), a autoria, como todos estes conceitos anteriores, vem, no entanto, sofrendo uma drástica derrocada que acompanha os primeiros passos de uma nova consciência planetária. O meio ambiente, o capitalismo moderno e a cultura pop funcionaram como agentes cruciais no despertar dessa sensação de que todos nós somos responsáveis por todo o planeta. A internet só nos conectou. Encontrou um ambiente propício para acelerar a troca de ideias e de informação a ponto de tornar-se, em pouquíssimo tempo, no sistema nervoso da humanidade.

Do mesmo jeito que o gênio não é alguém que veio do nada e venceu por conta de seus próprios esforços (sempre procure o contexto de onde o sujeito veio antes de comemorar a vitória da individualidade), a criatividade também não pertence a um só indivíduo. E se o século XX consolidou o conceito de autoria graças a várias revoluções tecnológicas do fim do século anterior (a fotografia, a rotativa, o gravador de som e de imagens ― basicamente invenções ligadas ao processo de registro), a revolução tecnológica que assistimos hoje é baseada em exposição, distribuição e troca. Estamos dispostos a fazer o conhecimento planetário possa se tornar acessível a todos os seres humanos e temos cada vez mais consciência disso ― como do nosso papel de agente desta distribuição, atuando como um DJ que, de acordo com as "músicas" (sentimentos, conceitos, princípios e valores) que escolhe, atinge um determinado tipo de público.

Nota
Publicado originalmente no livro:

Para entender a internet, organizado por Juliano Spyer.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

SONS "BEM LEGAIS" #5

SÓ PRA CONSTAR

O testador testado ou A esperteza inútil
À maneira dos... tailandeses

por Millôr Fernandes



Milionário muito milionário gostava de gozar as pessoas com defeitos físicos ou características inferiorizantes.

Um dia, entre os convidados a uma recepção em sua casa, tinha um gago, e, na frente de outros convidados o milionário resolveu embananá-Io com um problema existencial.

Transcrevemos o diálogo:
- Suponhamos que você vai andando por uma picada no mato e de repente cai num buraco de dois metros de largo por vinte de fundo. Como é que você consegue sair?
- O bu-bu-raa-co tem uuma es-es-caada?
- Não, não tem nada. É um buracão natural.
- Eeessa su-ua-ua hi-hi-póóó-tese é de nooi-te ou dee dia?
- Não importa. A questão é como é que você sai do buraco. Noite ou dia é indiferente.
- Bom, en-tããoo eu faa-ço a is his-tóória seer de diia e não ca-caio no bu-bu-raco.
- Como assim? Tem que cair. Eu te joguei no buraco.
- Nãão see-nhor. Eu não ca-caio. Você pooode me go-gozar poorque eu sou ga-ga-go, mas nããão voou ca-ir nuuum bu-bu- raco de dia poorque não soou ce-ce-go, iiim-bee-cil.

Todo o pessoal em volta caiu na gargalhada.

MORAL: MAS O PESSOAL RIU MAIS PORQUE ELE ERA GAGO.

THAT'S OK! #1


Dedication by Zomby
New Album Out Now

"A quality collection of sparse, melodic gems." - The Times (4/5)
"Wonderfully innovative, state-of-the-art urban electronica" - Mojo (4/5)
"One of dubstep's, and music's, brightest flames." - Drowned In Sound (9/10)
"Downbeat and terrifically eerie... Each track merits close attention." - The Observer
"This is the best record that Zomby's released yet and the really scary thing is he's (not) anywhere near peaked (yet)." - FACT (4.5/5)
"Marked by its sense of restraint, it has an unusually strong emotional pull... Dedication is a further extension of Zomby's future strand of music." - The Wire

Today Zomby releases his debut album for 4AD, Dedication. It's been over two and a half years since he released his debut album, Where Were U In '92?, a rave record evoking that titular period. Following a series of releases that switched from the melancholic to the menacing, Where Were U In '92? marked the producer out as an unpredictable, underground hero.
Now with Dedication, a wholly different record to its predecessor, Zomby returns from his hiatus with typical style. Dedicated to the memory of an absent friend, it is both a dark and absorbing listen that engulfs the listener, running between sparse electronics, techno hooks and minimal piano riffs. Making up for lost time, Dedication continues to put Zomby at a distance from his peers.
The 16 tracks are glacial, glassy and melodic in equal measure, running a gauntlet between the sombre piano tones of 'Basquiat' through to the Panda Bear collaboration 'Things Fall Apart', to the Starfactory sampling 'Natalia's Song', a track originally penned for kindred spirit, Burial. A true maverick, Zomby represents the brave front of dance music, and with Dedication has proved himself a formidable and precocious producer.

"ARTE" NA RUA # 77

terça-feira, 26 de julho de 2011

SONS "BEM LEGAIS" #4

COM TODO RESPEITO.

Totalmente Diva
Com mais de 30 anos de carreira e uma voz poderosa, Chaka Khan é sem dúvida uma das maiores divas da música negra de todos os tempos.
por Sérgio Scarpelli



Em 23 de março de 1953 nascia Yvette Marie Stevens. Um bebê que parecia normal como qualquer outro. Mas só parecia. Aquela menina tinha recebido um presente divino que mais tarde seria conhecido e reconhecido pelo mundo inteiro através do nome Chaka Khan.

Chaka Khan é daquelas cantoras que se dão ao luxo de estar acima do bem e do mal. Mesmo com uma carreira irregular em termos comerciais, mesmo as vezes não tão inpsirada, ela sempre foi endeusada pelo público e pela crítica especializada. Ela é diva e ponto final.

Chaka Khan cresceu numa familia de músicos. Sua paixão pelo R&B comecou na adolescência e ela logo tratou de formar seu próprio grupo chamado Crystalettes. Mais tarde ela e sua irmã Taka Boom formaram outro grupo chamado Shades of Black.

Foi nesta época que nasceu o nome Chaka Khan graças a sua participação no Partido Panteras Negras que defendia os direitos dos negros americanos. Ela foi rebatizada como Chaka Adunne Aduffe Hodarhi Karifi. Mais tarde adotou o sobrenome do marido, o baixista Hassan Khan.

Chaka Khan abandonou o partido radical e se concentrou em sua carreira musical. E foi aos 19 anos que conheceu o bateirista Andre Fischer e toda a turma da banda Rufus que decidiu colocar Chaka Khan no lugar de Paulette McWilliams como Lead Singer da banda.

A Fase Rufus & Chaka Khan



De 1973 a 1979 Chaka Khan conheceu o sucesso fazendo parte da banda Rufus. Principalmente depois de ter gravado o hit "Tell Me Something Good" do gênio Stevie Wonder em 1974. Além do sucesso comercial, Chaka Khan recebeu um Grammy pela música.

Foi a primeira das 11 estatuetas que ela recebeu ao longo de toda sua carreira. Com a banda Rufus, Chaka Khan fez maravilhas como "Once You Get Started", "Sweet Thing", "Hollywood", "Ain't Nobody", "Masterjam", "Do You Love What You Feel", entre outras.

A banda Rufus ganhou grande notoriedade com sua estrela máxima Chaka Khan. Não só pela sua voz poderosa, nem por seu talento também para compor, é que na época a diva negra tinha um belo corpo e mostrava todos seus dotes nos shows ao vivo.

Fora que além de cantar, Chaka Khan se mostrava um tremenda instrumentista também tocando bateria, percussão e baixo. E levava realmente o público a loucura. Mas as brigas com André Fischer e um contrato solo assinado com a Warner em 1978 estremeceu a parceria.

Mas mesmo depois de uma carreira solo bem estabelecida em 1978, Chaka Khan voltaria a gravar com Rufus em 1979 num álbum produzido por Quincy Jones chamado "Masterjam" em que a diva teve momentos incríveis principalmente cantando ao lado do seu amigo Tony Maiden.

Chaka Khan voltaria a colaborar com Rufus em 1983 com o single "Ain't Nobody". Detalhe é que Quincy Jones havia pedido a música para o compositor David Wolinsky para fazer parte de "Thriller". Mas Wolinsky já a havia prometido para Russ Titelman que liderava o Rufus na época,

Um Divisor de águas chamado "I'm Every Woman"



A carreira solo de Chaka Khan teve um "Grand Opening". Simplesmente o megahit "I'm Every Woman" composta pelo casal Ashford & Simpson e que fez parte do seu primeiro álbum solo "Chaka" lançado pela Warner Bros Records em 1978.

Além de ser a melhor música de Chaka Khan e ser um single de mais de 1 milhão de cópias, "I'm Every Woman" é uma das mais belas músicas negras já feitas em todos os tempos. É uma música perfeita seja na sua letra, na sua melodia ou no seu arranjo.

A versão de Chaka Khan lançada em 1978 é tão definitiva e tão atemporal que está aí tocando há mais de 30 anos sem precisar de remixes ou recursos modernosos. Coloco sem dúvida "I'm Every Woman" na lista das 10 melhores músicas negras já feitas até hoje.

E ela não parou por aí. Em 1980 lançou seu segundo álbum solo chamado "Naughty". Um álbum também muito inspirado que simplesmente trazia a obra prima "Clouds", além do hit "Papillon (aka Hot Butterfky)" e da própria faixa título que é uma bela peça de Soul Music.

Em 1981 Chaka Khan gravou o álbum "What Cha' Gonna Do For Me". Apesar de não ser um sucesso retumbante trata-se de um dos melhores álbuns solos gravados por Chaka. Músicas como "Fate", "Heed The Warning" e" What Cha' Gonna Di For Me" são antológicas.

Em 1983, Chaka Khan lança seu ótimo quarto álbum que levava apenas o seu nome. No álbum temos o cover maravilhoso de um sucesso de Michael Jackson ainda criança "Got To Be There". A versão de Chaka Khan é a definitiva na minha opinião.

Mais uma virada com "I Feel For You"



Em 1984 Chaka Khan conheceu seu maior sucesso comercial até hoje com o álbum multiplatinado "I Feel For You". Impulsionado pela faixa título que é o maior hit de Khan, o álbum ainda trazia faixas memoráveis como "Through The Fire" , "This is My Night", "Eye to Eye", entre outras

Mas é lógico que a faixa "I Feel For You" foi um capítulo a parte. Música composta por Prince, com direito a participação de Stevie Wonder na harmônica e do lendário Grandmaster Melle Mel fazendo as honras com seu famoso rap intro "Ch-ch-ch-chaka-chaka-chaka-kahn".

Foi mais uma vez que Chaka Khan se deu ao luxo de fazer um cover e ter na sua versão uma música muito superior a original. "I Feel For You" liderou todas os charts americanos e mundiais em 1984. E foi o crossover definitivo da diva negra que se tornou Ídolo Pop.

Depois disso veio uma leva de álbuns menos inspirados e irregulares da diva negra. Até que em 1992 ela tratou de mostrar toda a estrela que era ao lançar " The Woman I Am" que trazia a incrível "Love You All My Lifetime" entre outras belas composições da diva.

Ainda nos anos 90 Chaka Khan lançou o belo single "Never Miss The Water" com a talentosa baixista e cantora Me'Shell Ndegeocello. E teve participações magistrais no álbum "Back On The Block" de Quincy Jones e em "Jazzmatazz" do Guru.

Diva com D Maiúsculo



Dos ano 90 para cá Chaka Khan tem tido uma carreira discográfica bem irregular. Teve como pontos altos o álbum de jazz "ClassiKhan" lancado em 2004 e o álbum "Funk This" onde ela retomou seu sucesso como cantora pop levando dois Grammys pelo álbum.

Mas Chaka Khan é um estrela e por tudo o que ela já contribuiu para a música ela é daquele tipo que não precisa fazer mais nada. Só que seu talento é tão grande que não me surpreenderia em nada se ela lançasse algo absurdo de uma hora pra outra.

Por mais que a mídia tenha vulgarizado o termo "Diva" dando este título para estrelas menores e sem talento, Chaka Khan é daquela linhagem das divas puras que não precisa provar mais nada a ninguém. Seu talento é único, sua voz é única...não vai nascer outra igual.

AMAMOS TUDO ISSSSSO!!!















"ARTE" NA RUA # 76

segunda-feira, 25 de julho de 2011