terça-feira, 31 de agosto de 2010

SENSAIONAL!!!





O JORNALISTA CHAVEMANÍCO
Por Ramon Mello

Quem nunca se divertiu assistindo às trapalhadas e aventuras do Chaves e Chapolin, no meio da tarde? Pois foi essa paixão e admiração pelos seriados mexicanos que inspiraram o jornalista Pablo Kaschner a escrever o livro Chaves de um sucesso (Editora Senac Rio), em que conta histórias e curiosidades dos personagens que ultrapassaram barreiras e conquistaram o mundo.

“Não contavam com minha astúcia”, brinca o autor diante do famoso bordão.

Mas se engana quem pensa que o livro é uma síntese superficial dos programas. Existe sim um inevitável saudosismo dos anos 80 (que tem aflorado nos últimos anos), mas o trabalho é resultado de uma criteriosa pesquisa, que a princípio serviu de base para conclusão de sua monografia na faculdade de Rádio e TV, da UFRJ. Pablo oferece, em um texto leve e muito bem humorado, curiosidades, entrevistas e um ponto de vista crítico sobre um seriado que conquistou o Brasil e o mundo há mais de vinte anos.

Sim, o jornalista carioca, de apenas 25 anos, é um “chavemaníaco”! E a partir de hoje oficializa a homenagem aos personagens que passearam pela nossa infância e que, em muitos casos, ainda permanecem na fase adulta.

Conversei com o Pablo no café do Cinema Arteplex, em Botafogo. Cheguei com antecedência e, antes de iniciar a conversa, confundi um cinéfilo cabeludo com o autor... Ele é barbudo, cabeludo e torcedor do Flamengo – chegou feliz com a camisa do time, por conta da vitória, no dia anterior, contra o Madureira. Um papo tranqüilo com um escritor tímido, inteligente e extremamente bem humorado.

Click(IN)VERSOS – Pablo, como surgiu a idéia de escrever um livro sobre os seriados Chaves e Chapolin?

PABLO KASCHNER - Eu estava para concluir o curso de Rádio e TV, na UFRJ, e precisava escolher um tema para a monografia. Eu não gosto muito da linguagem acadêmica, sempre achei meio parada e difícil... Então resolvi escolher um tema que, tanto na forma quanto no conteúdo fossem leves, fugindo bastante do mundo acadêmico. Meu orientador da monografia, que é o projeto inicial do livro, falava que eu não poderia escrever tão informalmente, mas eu fui meio rebelde e com causa... (RISOS). Mas por fim consegui encontrar um meio termo para execução da pesquisa, depois pra transformar em livro eu não tive tanta dificuldade. Acrescentei o conteúdo sobre o Chapolin, porque a monografia foi somente sobre o Chaves.

Click(IN)VERSOS- Foi difícil encontrar um editora que apoiasse o seu projeto?

PABLO KASCHNER - Eu defendi a monografia, em seguida registrei e comecei a mandar para algumas editoras. Só que no dia que consegui uma editora, um livro sobre o mesmo tema foi lançado em São Paulo. Mas aí não desisti, estava disposto a defendê-lo. Várias pessoas me diziam que havia um apelo comercial grande, pois muita gente gosta do Chaves e do Chapolin...

Click(IN)VERSOS- A idéia do projeto é saudosista, uma tentativa de resgatar algo da sua infância, dos anos 80?

PABLO KASCHNER - Não. É verdade que está na moda essa fase anos 80 e as festas Ploc, mas não foi com essa intenção que escrevi. Claro que todo mundo tem uma ponta de saudosismo do que já passou, mas o intuito foi escrever sobre um assunto que eu gostava, entender o porquê desse sucesso e poder mostrar isso para as pessoas. É engraçado, pois, mesmo quem cresceu no meio de videogames, também gosta do seriado do Chaves, que é tosco e tem uma estética anos 70, simplória, que parece que você vai dar um peteleco no cenário e ele vai cair...

Click(IN)VERSOS- Quanto tempo você levou para concluir todo o trabalho, da monografia à publicação?

PABLO KASCHNER - Acho que demorei quase 3 anos, desde o final de 2003 que me dedico a esse projeto. Eu não consegui uma editora facilmente, ela desistiu por causa das outras publicações que já existiam sobre o tema e depois voltou atrás. Eu cheguei a ler o outro livro que foi lançando nessa época e notei que o tema não havia se esgotado e que a abordagem era completamente diferente da minha. Então continuei insistindo, mandando para outras editoras. Logo consegui outra, que foi importante para o livro – eles me deram o toque sobre acrescentar o estudo sobre o Chapolin, que até então não existia. Mas acabei fechando com uma terceira editora, a Senac Rio, por questões comerciais.

Click(IN)VERSOS – O que foi mais difícil na sua pesquisa?

PABLO KASCHNER - Acho que o mais difícil foi falar com o Bolaños, que é o criador da série e faz o Chaves. Hoje ele tem 78 anos. Demorou quase seis meses só para a assessora dele responder o meu e-mail. Foi um longo processo. Aconteceu uma cúpula de mídia em 2004 e eu fazia estágio numa produtora, então pude participar do evento. Lá conheci o pessoal da Televisa (os exibidores do seriado) que passaram o e-mail da filha do Bolaños, que passou para a assessora dele e que depois repassou o e-mail para ele. O Bolaños é muito querido no México, o apelido dele lá é Chesperito – que significa pequeno Shakespeare. Mas há intelectuais que o criticam, acham que o México não precisa ser retratado pela pobreza...

Click(IN)VERSOS- Já entregou o livro para o Bolaños?

PABLO KASCHNER - Não, já enviei um e-mail para a assessora dele pedindo o endereço, mas ela ainda não respondeu. Mas já foi divulgado que ele virá ao Brasil ainda esse ano, se ele vier eu vou à caça!

Click(IN)VERSOS- Como foi entrevistar os dubladores da série?

PABLO KASCHNER - Eu os entrevistei em um encontro de “Chavesmaníacos”, há mais de um ano. Foi ótimo. Eles foram super simpáticos, fiz um bate-papo com eles. A Cecília Lemes, que faz a Chiquinha, e o Nelson Machado, que faz o Quico, são de São Paulo. Só tem um que mora no Rio, que é o Carlos Seidli, que faz o Seu Madruga. Uma vez eu pedi que ele gravasse o recado da minha secretária eletrônica, foi engraçado... Ah, teve o caso do Gustavo que é um fã que virou dublador, fez o teste para o desenho e agora dubla o Nhonho.

Click(IN)VERSOS – Qual foi a informação mais curiosa que você descobriu?

PABLO KASCHNER - O carteiro Jaiminho, um velhinho que fala o bordão “Sou de Tangamandapio”, foi o mais curioso. Eu descobri que essa cidade realmente existe. E perto dessa cidade tem outra chamada San Ramon, fazendo referência ao ator Ramón Valdez, o Seu Madruga...

Click(IN)VERSOS- Por que um seriado consegue arrastar uma legião de fãs – crianças e adultos – durante décadas, mesmo as pessoas sabendo que a história é sempre a mesma?

PABLO KASCHNER -Tem a estratégia da repetição, as pessoas gostam de ver aquilo que elas já conhecem. No livro eu até citei o Umberto Eco (teórico de comunicação), sobre a teoria do espelho: o espectador vê aquilo e quando sabe que vai acontecer o que ele estava esperando, se sente satisfeito... Mas eu ainda me surpreendo com os episódios, o roteiro é simples, mas é ótimo. Na verdade, não existe uma fórmula de bolo para explicar o sucesso do Chaves. Se existisse, as pessoas já teriam copiado. Mas no livro eu explico direitinho....(RISOS).

Click(IN)VERSOS- Em quantos países o seriado ainda é exibido?

PABLO KASCHNER - Eu não tenho o número exato. Só na América Latina são 17 países: Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai... Mas isso varia também. Às vezes, o programa sai do ar tanto no México como no Brasil. O Sílvio Santos sempre tira do ar, acho que nem ele sabe o que o tem na programação dele...(RISOS) Mas no Brasil ele é exibido desde 84, em agosto faz 23 anos. E no México ele começou em 71.

Click(IN)VERSOS- Por que o Seu Madruga é personagem considerado cult no Brasil?

PABLO KASCHNER -Talvez pelo lado malandro dele, que lembra o “jeitinho brasileiro”. O fato de não gostar de trabalhar, o aluguel atrasado há 14 meses e também a interpretação que ele faz que é bastante próxima.

Click(IN)VERSOS – Por que as pessoas se identificam tanto com o Chapolin, um anti-herói, um personagem tão avesso?

PABLO KASCHNER - Acho que porque ele é mais humano. Eu até falo isso no livro, o que adianta ser valente se você é indestrutível? Assim é fácil! O Chapolin não, ele é fraco, medroso, mulherengo, é tudo que não se espera de um herói. É contraditório mesmo, pois sentindo medo ele consegue reforçar o heroísmo dele. Ele é humano, as pessoas se identificam porque também têm defeitos.

Click(IN)VERSOS- Quais são os personagens que você mais gosta?

PABLO KASCHNER - Eu gosto muito do Seu Madruga (RISOS) e do Quico. Do Seu Madruga por causa do ator (Ramón Valdez), que eu achava excelente, e do Quico é uma certa identificação: sou filho único, de mãe viúva, sou mimado, quando era criança não gostava de perder as brincadeiras...(RISOS) Mas hoje em dia eu não sou mais assim não, tá! Ah, eu fui criado numa vila também.

Click(IN)VERSOS – Você escreve ficção?

PABLO KASCHNER - Sim, eu escrevo contos. Já tenho algumas idéias, mas no momento estou voltado para esse projeto. O primeiro livro que escrevi foi um diário que fiz durante uma viagem à Europa, aos 7 anos, a pedido da minha avó. Esse é um projeto que tenho vontade de publicar. Mas eu já lancei um livro de contos e crônicas cômicos, em parceria com outros autores. Chama-se Humor, tô vivo! (RISOS). Foi uma produção independente feita por sete autores, a maioria mulheres...

Click(IN)VERSOS – Você também escreve num blog de humor chamado Mico na Rede. Como é isso?

PABLO KASCHNER - É um blog feito por cinco amigos, nem sempre bem humorados...(RISOS) A maioria é da área de comunicação, mas tem um “errado” que estuda Direito. Faz tempo que estou atolado com o livro e em falta com eles, mas estou voltando!

Click(IN)VERSOS – Você pretende tentar publicar em outros países?

PABLO KASCHNER - Eu ainda não sondei isso com a editora, mas mercado não falta! Pelo menos na América Latina... Acho que é só revisar o livro e fazer as adaptações necessárias. Mas no Brasil o livro já está à venda, a distribuição é nacional!

Click(IN)VERSOS – E o recado que você deixaria para galera?

PABLO KASCHNER -Gostaria que lessem o livro! É um trabalho com humor, mas tem seriedade na pesquisa. Eu costumo dizer que, para quem gosta de Chaves, é um prato cheio. E considerando que Chaves sempre está faminto, nada melhor que um prato cheio... (RISOS)



Livro: Seu Madruga, Vila e Obra
por Marco Antonio Bart

Em seu livro Groucho-marxismo, o filósofo anarquista Bob Black prega, sem rodeios, que “ninguém jamais deveria trabalhar (…) Para parar de sofrer, precisamos parar de trabalhar”. Seu Madruga, o desempregado crônico que garante de forma involuntariamente tragicômica a alegria – e o pathos – da vila onde mora o garoto Chaves, nunca ouviu falar de Black. Mas certamente gostaria de seus escritos.

A inusitada ponte entre o subversivo e o malandro mexicano é uma das conclusões a que Pablo Kaschner chega em seu livro “Seu Madruga – Vila e Obra” (Editora Mirabolante). O autor, carioca de 28 anos que já editou outro livro (”Chaves de um sucesso”) sobre o humorístico mexicano exibido pelo SBT, compôs menos uma biografia do que um “livro-homenagem” sobre o personagem, tido como o mais popular do programa entre os fãs brasileiros (e não só eles). Para Kaschner, Madruga, criação do ator Ramón Valdés (1923-1988), desperta tanta identificação por incorporar (com sua aversão ao trabalho, as dívidas eternas, as humilhações e o humor diante das dificuldades) um pouco do caráter do brasileiro típico.

– Mesmo mexicano, Madruga tem o famoso jeitinho brasileiro – constata o autor, diplomado em rádio e TV. – Dos personagens do Chaves, ele é o mais maroto, o que dá voltas nos outros, o mais politicamente incorreto. Basta andar pelas ruas das cidades brasileiras e é possível encontrar sósias do Seu Madruga em todo lugar.

Apesar de não ter um caráter de ampla pesquisa biográfica, “Vila e Obra” traz muita informação e curiosidades sobre Valdés e seu mais famoso personagem, tudo em tom muito bem humorado. Dividido em 14 capítulos (um para cada mês de aluguel que Madruga deve ao Seu Barriga, dívida que nunca será saldada), o volume mostra que Valdés já era um ator de carreira consolidada ao ser convidado para entrar em “El Chavo del Ocho” (nome original do programa Chaves) em 1971.

Madruga, originalmente chamado apenas Don Ramón, era parecido em tudo com o próprio Valdés. A única recomendação que Roberto Gomes Bolaños (criador do programa e intérprete do próprio Chaves) deu ao ator era que Valdés “fosse ele mesmo”. E, confirma Kaschner, através de depoimentos dos filhos do ator, que Valdés realmente se vestia como Madruga (jeans surrados, camisetas básicas) e repetia diante da câmera frases de seu vocabulário cotidiano.

Para o autor, a preguiça e a vocação para o ócio de Madruga o tornaram um ícone latino-americano. Ou, como o próprio Kaschner brinca, “ladino-americano”:

– Ele agora é mais que um ícone pop. Nas ruas, há mais camisetas com o rosto do Madruga do que com a foto do Che Guevara – arrisca. – O interessante é que essa identificação superou um bloqueio histórico que os brasileiros tinham com a cultura mexicana, que aqui sempre foi sinônimo de dramalhão, de coisa brega. Costumo dizer que o Chaves conseguiu unificar a América Latina, algo que o (Hugo) Chavez não conseguiu.

Exibido pelo SBT desde 1983, Chaves é certamente um caso único de longevidade na TV brasileira, quiçá mundial. Desde sua estreia, o programa nunca deixou a grade da emissora, apesar do excesso de reprises (o canal de Silvio Santos recebeu seus últimos episódios inéditos em 1992!), sendo transmitido praticamente todos os dias da semana durante esses 27 anos.

Em 1990, chegou aos 36 pontos de audiência, superando a Rede Globo várias vezes, apesar das tresloucadas trocas de horário. A assessoria de imprensa do SBT informa que agora, exibido apenas aos sábados (às 6h e 12h45) e aos domingos (das 9h às 11h), o seriado ainda atinge 7 pontos de média. Mesmo assim, sabe se lá quando você estará lendo esse texto, verifique na grade do SBT para ter certeza dos horários de exibição do programa.

– O brasileiro se mobiliza por poucas coisas. O Chaves é uma delas – conclui Pablo Kaschner.

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Marco Antonio Bart (@BartBarbosa) é jornalista e assina o blog Telhado de Vidro

ANTEPASSADOS TURCOS.

sábado, 28 de agosto de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

UMA ROSA É UMA ROSA.





MÍSTICA CRISTÃ E ZEN: Porque Deus se fez homem? A Rosa!

Palestra proferida pelo Mestre Ryotan Tokuda na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto, em 11 de dezembro de 1985. Promoção do Instituto de Arte e Cultura (UFOP).

Alguém de certa feita afirmou o seguinte: "Ocidente é Ocidente, enquanto que Oriente é Oriente e tão certo quanto estou aqui, nunca haverão de se encontrar."Mas um professor universitário americano, pesquisador de misticismo disse: "No fundo toda experiência mística é uma coisa só, mas quando aquele que teve aquele experiência tenta explicá-la em sua própria língua, se utiliza então de sua própria religião." Eis porque exatamente esta experiência mística, apesar de poder ser expressa com diferenças de língua, religião, cultura, tradições, costumes, países, épocas, etc., apresenta basicamente as mesmíssimas características. Uma destas características justamente é a inefabilidade, isto é, a dificuldade de se encontrar um meio de exprimir e de explicar aquilo que foi vivenciado. Mesmo assim não se pode deixar de transmitir aquela alegria da experiência para as demais pessoas, pois isto não é uma alegria deste mundo no qual estamos vivendo, mas uma experiência divina e sagrada.

Em 1963, através do Concílio Vaticano II., a Igreja Católica começou a procurar uma forma de diálogo com outras religiões, e assim se iniciou o intercâmbio espiritual entre o Cristianismo e o Zen-Budismo. Eu trouxe aqui comigo alguns livros de autores como Durkheim, Alan Watts, Thomas Merton (monge trapista), mas além destes outros padres e teólogos estão também tentando estabelecer pontes entre o Zen e o Cristianismo. Hoje em dia estamos precisando de um grande diálogo entre todas as religiões para tornar possível este entendimento recíproco e possibilitar um entendimento entre os praticantes das diversas correntes e religiões. Hoje realmente nós temos condições para tal. Em 1981, sessenta monges Zen (Rinzai e Soto), foram convidados para um convento na Alemanha, para ali rezar e meditar juntos, pois com este treinamento Zen, dizem, é possível se obter aquela experiência de união com Deus mais facilmente.

Vamos agora tomar os discursos de um Mestre Zen, Joshu e um Místico cristão, Meister Eckhart, para examinarmos os paralelos entre estes dois tipos de pensamento. Daisetz Suzuki afirmou de certa feita: "A experiência de Meister Eckhart está bem próxima do Zen, ele teve a experiência Zen."

Um monge perguntou a Joshu (Mestre Zen chinês, que viveu de 778-897):

"Porque Bodidharma veio à China da Índia?"

Ao que imediatamente Joshu disse:

"O carvalho do jardim da frente."

Meister Eckhart, místico cristão alemão (1260-1327) perguntou:

"Porque Deus se tornou homem?"

Eckhart respondeu a si próprio:

"Deus se fez homem para que o homem pudesse ser igual ao filho único de Deus."

Existem muitos motivos que levam as pessoas a rezar a Deus, mas o primeiro que geralmente pedem é uma solução imediata para seus problemas particulares, suas dificuldades, ou melhoria de saúde, etc. Este contudo não é o trabalho de Deus. Isto, na realidade, neste mundo de Deus, é como se estar ainda no jardim de infância e tal qual uma criança tudo que a pessoa quer é receber o tempo todo. Mas a verdade é que o trabalho de Deus nada tem a ver com isto. Estes que o fazem querem apenas satisfazer seus desejos como seres humanos. O mundo de Deus nada tem a ver com isto, mas a maioria das pessoas procura Deus por esta exata razão: positivamente este não é o autêntico amor a Deus.

Ekhart disse: "Quando Deus fez toda a criação Ele não teve um porque, um objetivo em mente, muito pelo contrário, Ele agiu por agir, sem uma meta qualquer a qual se abstivesse. O fato é que tantas pessoas amam a Deus como se ama a uma vaca, esperando com isto carne e leite, esperando toda espécie de benefícios. Este entretanto não é o verdadeiro amor a Deus."

Quando a pessoa finalmente sai deste jardim de infância, passa em seguida para o segundo colégio que é mais ou menos quando começa a regularizar sua vida para não sair fora, e desta maneira vai segurando, segurando, mas não por sua própria vontade ainda. Pouco depois, já entra no Ginásio ou Científico, e já tem então a capacidade de poder ser grato, muito obrigado por viver hoje com este pão e leite, mas já no Científico começa a assumir aquela postura de crítico, aquela sinceridade do crítico, critica tudo e todos, e de tudo duvida. Já não mais acredita no mestre nem muito menos em seus pais. Neste momento ele simplesmente dá as costas para a luz, talvez que não se encontre longe, talvez esteja bem próximo, apenas tem sua cabeça voltada para trás. Assim entra para a Faculdade numa fase de procura intensa a Deus, e não mais procura algo por medo, querendo mesmo é encontrar a Deus dentro de si mesmo, como dizia um místico cristão, a união com Deus, eu e Deus como uma só coisa, isto é, uma experiência mística.

Todo fundador de Ordem religiosa Cristã passou por este tipo de experiência, e levantou sua Ordem sentindo sua missão, trabalhando para tal incansavelmente. Neste momento é crucial que se volte para dentro de si mesmo, e é necessário se passar por certas purificações, precisa passar por aquela noite escura da alma de São João da Cruz. Em seguida a isto, tem que ter aquela experiência mística, do Zen ou do Cristianismo, ou seja tem que passar por aquela união com Deus, para mais tarde procurar transmitir aos outros aquela alegria e emoção desta experiência, mas tem dificuldades de expressar com meras palavras aquilo que foi visto, procurando então através da poesia, de gestos ou algumas vezes de maneira paradoxal exprimir aquilo que experimentou, para romper as limitações da linguagem. O mundo funciona sempre através daquelas coisas que são reconhecidas por nome e forma, tais como uma mesa, um relógio, etc., e com isto a pessoa entende o que o outro está tentando dizer, mas as palavras trazem na verdade um montão de confusão, com o nome e forma, e desta maneira é que não vemos as coisas exatamente como elas são, porque uma mesa, o que vem a ser isto? A mesa na verdade não existe. Como não existe? Não existe! Isto chamamos de mesa, mas na verdade o que é isto? É madeira, madeira com forma de mesa, então dizemos mesa, mas na verdade não é mesa, e sim tão somente um nome. Na verdade não é mesa, é madeira, tábuas, e mesmo assim a madeira, as tábuas, também por sua vez não existem, são apenas moléculas. Estas por sua vez se dividem em partículas atômicas e subatômicas, hoje em dia são conhecidos mais de cem átomos, tais como hidrogênio, carbono, oxigênio, etc., com aquela força de coesão; por sua vez os átomos se dividem em núcleo, eléctrons, protons e estas partículas por sua vez podem ser subdivididas mais ainda, e assim até onde vamos? O que realmente existe? Não existe nada, tudo é Vazio: Deus criou este mundo do pó, e a verdade é somente esta, é isto aí.

Meister Eckhart, místico cristão indagou: "Por que Deus se tornou homem?"

Eckhart respondeu a si mesmo: "Deus não tem um porque."

Com sua própria experiência mística, Eckhart disse "Deus não tem um porque". Isto nós podemos entender, Deus não tem porque. De certa feita um monge também perguntou: "Porque Bodidharma veio à China?" (Bodidharma foi um mestre Hindu que transmitiu o Budismo para a China). Mestre Dai Bai, que faleceu em 831, respondeu da seguinte forma: "A vinda de Bodidharma à China não teve qualquer objetivo que fosse."Por que isto ocorre assim, algo que não tem qualquer objetivo que seja?

Um outro Mestre Zen, da linha Rinzai acrescentou a este diálogo: "Se tivesse havido qualquer motivo, então Bodidharma sequer poderia salvar a si mesmo." Porque isto? "Quando o Buda Gautama ganhou a iluminação, ao mesmo tempo todo mundo também ganhou a iluminação."

É por esta razão que não existe motivo algum, não precisa vir da Índia, exatamente nós estamos falando daquele mundo no qual não existe ir ou vir, que não tem Ocidente nem Oriente, que não tem Índia nem China, justamente porque o Universo é uma só Mente, e não duas coisas separadas.Assim é a experiência mística, a união com Deus, porque este mundo é unicamente Deus, e fora disto não existe nada mais. Nestas explicações que foram dadas, Deus não tem porque. Então porque Deus se tornou homem? Também não tem porque.

Assim, nós vamos mergulhando, mergulhando, e chegamos muito próximo, muito próximo mesmo ao centro da questão, mas mesmo assim ainda tem um restinho que sobra aqui. Por que? Para chegarmos até aqui, precisamos dar mais um passo à frente.

Tomemos um outro místico cristão alemão, que foi fortemente influenciado por Meister Eckhart, Angelus Silesius, que disse o seguinte: "A rosa não tem porque, floresce porque floresce, ela não se preocupa consigo mesma, ela não deseja ser vista. A rosa que vocês vêem com seus olhos físicos, em Deus está florida por toda Eternidade."Não é lindo? Considerando agora este poema, tentemos mergulhar mais um pouco além. Aqui nos trópicos, na Amazônia, ou mesmo aqui no fundo da floresta podemos encontrar aquelas maravilhosas orquídeas, que dão aqueles cachinhos; talvez que naquela floresta ninguém até agora tenha chegado, é virgem, e de repente no fundo da floresta se acha esta flor, orquídea, onde ali esteve durante séculos e nunca até agora tinha sido vista, tão bonita, e agora a pessoa a vê e quer levar para casa egoísticamente, arrancando as raízes, e deixando a natureza danificada; somente Deus pode criar estas coisas, mas uma vez mortas nunca mais voltam; assim, quantos animais, quantas plantas morrem com estas queimadas das florestas, com a natureza que é arrasada, mas isto nada tem a ver com este assunto que ora tratamos.

As palavras de Angelus Silesius: "A rosa não tem porque... está florida em Deus por toda eternidade." Seria bonito se nós pudéssemos viver como uma rosa destas, não acham? Mas para nossa vida dependemos de outras pessoas, muitas vezes, e não podemos ser sós. Eckhart disse: "Este mundo é só Deus, único e absoluto, além do qual nada existe. Mesmo um mosquito quando é visto em Deus é mais sublime que um anjo."

Vamos agora mergulhar num perigo, mergulhando dentro deste koan. Perguntemos pois novamente: "Porque Deus se fez homem? A rosa." Não sei se vocês todos concordam com esta colocação, agora a pergunta e a resposta ficam iguais a "Para que Bodidharma veio à China? O carvalho no jardim da frente."Agora sobra apenas uma pontinha, se cortar isto o que acontece? Isto é cristão demais, "Criatura-Criador, Homem-Deus, rosa, mosquito, tudo isto ainda tem duas coisas separadas; se eliminarmos isto, não tem mais Deus criador, não tem mais criaturas, fica uma coisa só, ao mesmo tempo homem e Deus; porque Deus se tornou homem? Com isto quem está perguntando e quem está respondendo são duas pessoas. Existe um koan, "Antes que seus pais tivessem nascido, qual era o seu rosto original?" Porque quando se é concebido existe dentro da pessoa mais de 30 bilhões de vidas passadas, Karma depositado que vem de meu pai e de minha mãe; então para nos liberarmos deste Karma, temos que ir além de nosso pai e de nossa mãe; acontece que pai e mãe também tem pai e mãe, e a Bíblia vai até Adão e Eva. Então, antes que Deus criasse Adão e Eva, qual era o seu rosto original? Antes que Deus criasse este mundo, Deus não tinha nome de Deus, claro, ainda não havia criado, o mundo ainda não existia, então não existia nem o nome de Deus. O Cristianismo fala em Trindade, Deus-Pai, Deus-Filho e Espírito Santo, mas Eckhart fala até em Godheim, isto é, origem de Deus, origem da Trindade, uma coisa além, antes que tivesse sido criado este mundo, antes que céu e terra tivessem se separado, dia e noite, esta dualidade, havia então o mundo do Caos, mas de onde vem Deus? De onde viemos nós? Através da meditação, mergulhando, não como uma simples regressão até o momento em que tivemos o parto com nossa mãe, mas sim mergulhando em regressão de regressão em regressão, até aquele momento do passado sem começo, este é o trabalho da meditação, trabalho da purificação, entrando na noite escura, primeiro intelectualmente, emocionalmente, espiritualmente, abandonando tudo, purificando, purificando, purificando, este é o processo. Enquanto existir experiência religiosa, sagrada, dentro de várias linhas de religião nós podemos encontrar este tipo de meditação, este rezar interno, isto é preparação para receber a experiência religiosa. Existem vários métodos, como os exercícios de Ignácio de Loyola, ou outras práticas de meditação, ou Yoga etc., diferentes processos mas todos mostrando os mesmos aspectos. As vezes os objectivos são diferentes mas até um certo ponto o processo espiritual interno é quase o mesmo e finalmente aparecerão aspectos desta experiência semelhantes, apesar dos países poderem ser diferentes, com línguas diferentes, termos religiosos diferentes, mas é a mesma experiência que está tentando ser expressa.

"Porque Deus se fez homem? A rosa." Como vimos inicialmente, no princípio podemos nos assustar, mas quando vemos uma rosa, mergulhamos dentro desta flor, sentindo aquele odor sutil, então desaparece seu corpo de rosa e o mundo inteiro se torna aquele perfume da rosa, por isto temos isto: "a rosa."Desta mesma forma quando olhamos o Pico do Itacolomy existe um mundo no qual esta montanha tem sua existência, mas aqui são ainda duas coisas separadas, mas de repente, eu e o pico desaparecemos, nos tornando uma só coisa com Deus, e até mesmo esta união desaparece. O treinamento conhecido como "Kojo" consiste nisto, esquecer esta própria união, ir mais além disto, nem mesmo o Uno existe mais, apenas o vazio, mas este vazio não é o nihilismo, é o fundo de nossa existência, de onde vem aquela energia enorme de realização, criatividade absoluta, onde o momento é eterno, absoluto e perfeito.Então, aqui novamente diz Eckhart: "Temos que nos desligar de tudo."

Enquanto que o Mestre diz de sua parte: "Na verdade temos que nos desligar do próprio desligamento."Existe este um, temos que nos desligar deste próprio uno, precisamos abandonar muitas coisas, sujeiras.Um monge perguntou: "Mas eu já me desliguei de tudo, que devo então fazer?" O mestre disse então: "Deixe então este desligamento!". Mas Mestre, eu já disse que a tudo deixei, é sobre isto que desejo que te manifestes." "Então leve embora!""Onde tem Buda não pare; onde não tem Buda, passe rápido.""Quando tivermos fome, devemos comer; quando tivermos sono, devemos dormir."A afirmação surge da negação completa. Justamente esta idéia de que "eu já deixei, já desliguei," ainda é algo que existe na consciência. Temos pois que superar isto ainda, ir mais além. A consciência em nós é muito forte, o apego ao eu é muito forte, por isso tem que esquecer; esquecendo se fica vazio, não existe mais nada, neste momento meu corpo se abre de repente, até o fim do Universo, com isto nós nos tornamos Mahatma, Grande Eu, Eu verdadeiro, esse Eu já não mais é interno nem externo, porque é uma coisa só. Esta é uma experiência religiosa que o Zen procura como primeira experiência. Em seguida dentro da vida quotidiana nós realizamos isto, nos concentrando no nosso próprio trabalho, mesmo que este seja um trabalho considerado inferior, ainda nestas condições realizando o máximo, aquela coisa primorosa e perfeita. Podemos então ser até mesmo faxineiras ou lavadeiras, fazendo tudo perfeitamente. Por isto talvez seja que os Japoneses conseguem este perfeccionismo, não somente em transístores, mas até mesmo na medicina, operações sem perder sequer um copinho que seja de sangue, através do estudo aplicado de anatomia, veias, etc., cortando daquela maneira, sem atingir as veias conseguem fazer cirurgias de precisão, isto não é apenas perfeccionismo, e isto já é criação, trabalho de Deus, glória de Deus. Através de nosso físico, nosso corpo, querendo mostrar aquilo que São Paulo afirmou:

"Não sou eu mesmo que estou vivendo, mas é Deus que está vivendo dentro de mim!"Assim, de nada valem cargos importantes, títulos, ser inteligente, ignorante, dentro de nossas próprias condições, com este corpo, com este físico, esta cara, com estas condições, agora, aqui!"Porque Daruma veio à China? O carvalho do jardim da frente.""Porque Deus se fez homem? A rosa."Meister Eckhart disse ainda: "Criatura, Criador, Deus e homem retornam ao 'Vazio de Deus,' ao fundo de Deus."O retorno ao Nada, não há mais Criatura nem Criador. A união com Deus está no fundo de Deus. Deus disse no Velho Testamento: "Aquele que me vê, morre." (Êxodo 33,20). Isto quer dizer duas coisas separadamente uma da outra, porque tem aquele vê e aquilo que é visto, neste caso, Deus. Vendo Deus com este olho físico, desta maneira, então haverão duas coisas separadas, eu e Deus; não se pode ver Deus desta maneira, a única forma que se pode realmente ver Deus é intimamente, temos que nos tornar Deus. E agora? O Cristianismo não menciona jamais que o homem vire Deus. Por causa deste item, foi que a inquisição perseguiu Meister Eckhart. Depois que Meister Eckhart morreu, o Vaticano proibiu todos seus livros, mas muitos padres, freiras e leigos, adeptos que ouviram seus sermões naquela época, anotaram tudo e guardaram, parte em latim e parte em alemão. Quando ele dava aqueles sermões, apesar de serem de difícil compreensão, com toda sua força, quem os ouvia lhes sentia a energia, e acompanhava, mergulhando no mundo dele, com isto gostavam e anotavam e assim isto permaneceu guardado em várias bibliotecas, possibilitando sua transmissão até hoje. Hoje em dia existem obras completas de Eckhart em língua alemã moderna bem como traduções em francês, inglês e espanhol. Em português só existe um livro de comentários e por isto Meister Eckhart não é tão conhecido dos brasileiros como São João da Cruz ou São Francisco de Assis.Então, o que significa ver Deus intimamente? Intimamente significa uma coisa só e quando uma coisa só existe, não são mais duas coisas separadas. Este reconhecimento é tão íntimo, não tem cerimônia, age por si só e inconscientemente. Então a pessoa se encontra dentro de Deus e Deus dentro dela.

Agora, Meister Eckhart tocou também no assunto de panteísmo. Deus existe dentro de todas as coisas, dos fenômenos deste mundo, seria isto então panteísmo? Contudo enquanto Meister Eckhart era vivo nada puderam provar contra ele. Quando ele faleceu, contudo, todas suas publicações foram proibidas e desapareceram, mas algumas restaram que foram preservadas da destruição. Esta proibição tinha muita a ver com politcagem da época, politicagem religiosa, Dominicanos, Franciscanos, etc... Era um assunto da Igreja, mas era tratado como uma coisa mundana qualquer, de interesses de grupos pelo poder, que nada tinha a ver na realidade com qualquer coisa religiosa, pois estamos aqui lidando com uma coisa sagrada.

Mas, voltando ao assunto, Eckhart expressa aquele estado como um deserto, um lugar onde não havia vida, nem aves no céu, nem animal na terra, nem plantas; deserto, aquele mundo do Caos como antes que Deus tivesse criado este mundo. Então não havia céu nem terra, mundo e Deus, ou seja, não havia ainda neste estado duas coisas separadas.

Praticantes de Zen procuram regressar a este mundo mergulhando dentro da Oitava Consciência (Alaya Vijnana), para fazerem um total limpeza, e de repente, enquanto fazem isto acontece a Grande Morte e voltando novamente para este mundo depois que isto ocorre, começam a dedicar suas vidas inteiras para ajudar este mundo, exatamente como fez Jesus, sacrificando sua própria vida e como Buda que peregrinava para pregar seus ensinamentos e como todos os grandes santos. No Budismo o deserto corresponde ao círculo, ao Vazio, querendo com isto o praticante Zen expressar que neste mundo não existem duas coisas separadas, nem olho nem natureza, nem vaca nem corda, nem chicote, tudo esquecido totalmente, na verdade neste momento é onde ocorre aquele estado de êxtase da experiência mística.

"Do deserto nasce a rosa, a reencarnação do Nada, a rosa então é tudo, samadi da rosa."

Uma vez morrendo, quando voltamos para a vida somos tudo. Por isto nós precisamos desta negação total, um trabalho doloroso, mas morrendo uma vez, nós nascemos para o Grande Nascimento e com isto nós conquistamos neste mundo a total liberdade, realizando nossa vida e cuidando de cada momento e de cada detalhe; por isto o Zen diz que o importante é apenas o aqui e o agora. Aqui-agora. Agora é eterno, aqui é absoluto, perfeito.

Um monge disse ao Mestre: "Esta flor, esta rosa orvalhada, não crês que isto seja o próprio Buda?"

Ao que o Mestre retorquiu: "Não fale asneiras!"

Porque nós estamos vendo aquela flor de madrugada com orvalho, branca, branca, e com isto cremos:

"Ah, agora entendo, isto é o próprio Buda!"

Por isto o Mestre falou, "Não digas tanta besteira!" Quando temos "rosa" isto mesmo já é o Buda, não precisamos repetir mais uma vez que "a rosa é Buda" pois isto seria como colocar o nome de Buda em cima de Buda. Quando uma flor está desabrochando isto já é Buda, realizando sua natureza, não precisamos apelidar isto de Buda, ou de nada mais, já que realiza sua natureza da maneira em que se manifesta. Se o fizéssemos isto seria como colocar uma cabeça em cima da cabeça. Quando o Mestre fala "Não fique dizendo besteiras!", ele está com isto mostrando a unidade, quando a flor está no seu estado de flor, isto já é Buda, quando estou assim como japonês, careca, sou Buda, não precisa comparar com cara de Brasileiro, cada um está em seu lugar, não existe bonito, feio, nem inferior, nem superior, cada um está em seu estado absoluto, porque você é tudo, isto é importante.

Um monge perguntou a Joshu: "Porque será que Bodidharma veio para a China?"

Joshu respondeu: "O carvalho no jardim da frente."

O monge insistiu: "Mestre, não dê uma resposta tão objetiva, mostrando a verdade através de objetos."

Ao que Joshu respondeu: "Não estou mostrando através de objetos."

O monge disse: "Então porque Daruma veio à China?"

Joshu respondeu, finalizando o diálogo: "O carvalho no jardim da frente."

Da primeira vez, quando ele disse "O carvalho no jardim da frente" o monge ficou olhando para o carvalho e comentou, perdido, "Mestre, não deves tentar mostrar a verdade através de objetos externos!" "Não estou mostrando a verdade através de objetos externos!" Isto é o que temos que entender, no momento em que ele falou isto, o mundo é somente o carvalho. Eu mesmo não existo, eu estou dentro do carvalho. Quando fico olhando o Pico do Itacolomy, naquele momento, o Pico do Itacolomy é tudo, ele é o Universo inteiro. Quando estamos passando por uma crise difícil, então temos todas aquelas dores, então neste momento o mundo é só dores, e este é o sabor da vida. Quando choramos, existe então somente o choro. Quando temos medo, então só o medo existe, não precisamos ter medo de ter medo. Desta maneira estaremos vivendo neste mundo de uma forma total.

Um outro monge perguntou a Joshu: "O carvalho tem a natureza de Buda?"

Joshu respondeu: "Tem."

O monge perguntou então: "Quando irá o carvalho se tornar Buda?"

Joshu respondeu: "Está esperando que o céu caia na terra."

O monge insistiu: "E quando exatamente é que o céu vai tombar na terra?"

Joshu encerrou o diálogo: "Está esperando que o carvalho se torne Buda."

Quando Buda ganhou a iluminação, disse o seguinte:

"Que maravilha, todos os seres vivos possuem esta natureza de Buda."

Estas palavras, "natureza de Buda," não indigitam possibilidade; querem ao contrário dizer que originalmente somos Buda. Buda mesmo, e este mundo é dourado. Se não o estamos vendo desta maneira, isto se deve ao fato que naquele momento devemos estar naquele estado de consciência contaminado, mas na verdade este mundo é maravilhoso, perfeito e absoluto.

Aqui podemos ver que ele está esperando o céu cair na terra e o carvalho se tornar Buda. Isto ocorre exatamente ao mesmo tempo. Num mosteiro no Japão, um mestre meditava durante o inverno e de repente o bambu, pesado com o peso da neve que caia, vergou e quebrou. Muitas vezes ele aguenta o peso e se levanta, mas de repente cai aquele montão de neve, tcháaaa, às vezes a ponta do galho entra dentro da neve e não agüenta mais, então com o peso excessivo o bambu quebra com aquele barulho. Por acaso naquele momento um pássaro qualquer cantou e o bambu quebrou. Este mestre então fez uma poesia com esta experiência, que dizia mais ou menos o seguinte: "Pássaro cantando e bambu quebrando, seu corpo e mente abandonando." Mas estas três coisas não são diferentes. Será que são três coisas diferentes como por exemplo, ao ouvir o passarinho cantando, através disto o bambu quebra, e através daquele barulho a pessoa abandona seu corpo e mente? Não, quando o pássaro canta, o bambu quebra, e nós também quebramos, simultaneamente: este é um momento de iluminação.

Mergulhando dentro da meditação, de repente o mundo inteiro desmorona, e neste momento abandonamos nosso egocentrismo e nossa consciência começa a se expandir até o fim do Universo. O Universo inteiro é nós mesmos e este é o momento da eternidade. Isto nós podemos nitidamente constatar através de nosso corpo. Esta é a iluminação Zen, Satori. Quem quiser experimentar isto, pode visitar lá em cima o Mosteiro do Morro de São Sebastião, mas talvez que isto vá custar um pouco ainda, hein?

Um mestre Zen chamado Kanzan, disse:

"Este caso do carvalho de Joshu tem a função do ladrão."

Hoje em dia a linhagem do Zen Rinzai no Japão quase toda descende deste mestre. Pouco depois desta época, chegou um grande mestre chinês e naquela época o Japão andava meio decadente, fraco, então a força deste mestre começou a se espalhar e quase conquistou todas as demais escolas de Zen Japonesas. Então este Mestre, que se chamava Inge, visitou o Mosteiro Myoshin-ji, querendo transformá-lo em seu Mosteiro. Perguntou: "Quem fundou este Mosteiro?" Responderam: "Mestre Kanzan." "Ele deixou algum livro importante?" "Não, não deixou escrito algum." Então ele começou a achar que seria fácil tomar aquele Mosteiro. "Mas ele deixou uma única frase," lhe disseram. "E que fase seria esta?" "Este caso do carvalho de Joshu tem a função do ladrão." Apenas estas palavras. Quando ouviu isto, Mestre Inge, grande mestre Zen chinês, se surpreendeu, pediu para visitar seu túmulo, fez reverências e se foi. Porque ele se surpreendeu? Porque um grande herói reconhece um outro herói.

Esta é pois uma conhecida técnica de Zen; "Roubar a comida de quem tem fome, roubar as vacas do pastor." "Este caso do carvalho de Joshu tem a função do ladrão." O que é a função de ladrão? Nós temos tantas coisas, tantas coisas que estão se depositando, guardando, e a elas estamos tão apegados. Então vem o ladrão e rouba tudo. Rouba tudo isto, isto é a limpeza total. A função do Mestre é roubar todo nosso primeiro conhecimento, mas isto é muito difícil, quanto mais se é inteligente, mais se retém isto, com ajuda da defesa das palavras e pensamentos. É como se diz, Zen de salão, com cházinho, cafézinho, desta maneira não se chega a lugar nenhum.

Hogen (Um Mestre Zen) perguntou a Kakuteshi, discípulo de Joshu:

"Dizem que seu mestre tem um caso do carvalho no jardim, isto é verdade?"

Ao que Kakuteshi respondeu:

"Meu mestre nunca disse nada disto. Por favor não fale mal dele."

Todo mundo conhecia este caso, porque foi que ele respondeu assim? Se respondesse sim, mestre e discípulo seriam duas coisas separadas. O discípulo teria apenas concordado com aquele história, aquela fofoca. Mas o discípulo tem que estar vivo, aqui, como seu próprio Mestre.

Então Hogen reconheceu:

"Você é mesmo um filhote de leão, ruge exatamente como seu pai."

Vemos pois que esta pergunta de Mestre Hogen não era uma pergunta simples e comum, tinha veneno na ponta da agulha escondida no algodão, era uma espécie de teste do monge. Se ele tivesse caído na armadilha facilmente, e dito por exemplo, "Sim, meu mestre tem este caso do carvalho no jardim da frente", o monge estaria morto. O mundo de Zen é assim. Tem que viver dinamicamente, não é fazendo fofoca de mestres passados, e sim simplesmente vivendo o aqui e o agora.

Alguma pergunta?

Pergunta: O Senhor falou da Rosa e falou da mesa, cadeira e do Buda. Porque o Buda precisou da mesa, porque o Senhor vai do Buda até a mesa?

Resposta: Quaisquer fenômenos deste mundo estão em seu estado completo, e não necessitam tomar nada emprestado, são totalmente independentes. Quando a mesa tem função de mesa, ela é Buda, absoluta, não depende de ninguém. É isto aí. O mesmo ocorre com a rosa. Todo mundo, todas as coisas estão em seus lugares, onde sempre deveriam estar. Por que você se preocupa tanto com esta dualidade, inferior ou superior?

Pergunta: O Senhor fala que neste momento agora tudo está perfeito. Ao mesmo tempo o Senhor fala que precisamos nos desapegar de tudo isto.

Resposta: Exatamente. Isto é como um círculo, não existe o apego, e então já há o desligamento.

Pergunta: O que é isto? Não está tudo bem?

Resposta: Tudo está bem, mas é preciso se desligar do próprio desligamento. Porque apesar de tudo estar maravilhoso, a pessoa na realidade está sofrendo. Então, com grande compaixão, o Buda voltou a este mundo real e por isto Bodidharma veio à China. Originalmente está tudo bem, mas eles vieram para mostrar que está tudo bem (sorri). Porque muita gente está sofrendo por causa da consciência de Alaya, mas no fundo, no fundo, em qualidade e quantidade a natureza do Buda é original, então reconhecer isto é satori. Não é que o Buda descobriu esta teoria, ele redescobriu. Antes de Buda, existia a lei do Universo, ele apenas descobriu e transmitiu.

Pergunta: Esta preocupação com a rosa. Porque a rosa?

Resposta: Uma rosa é uma rosa é uma rosa.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

DICA BOA ゴールデンボーイ.



Conversando com um louco por animes (NARUTO NA CABEÇA) e cultura pop japonesa em geral, descobri essa pérola... mas aos porcos nada.

Golden Boy (em japonês: ゴールデンボーイ, Golden Boy?) é uma série de mangá escrita por Tatsuya Egawa, sobre um jovem de 25 anos chamado Oe Kintaro, que viaja pelo Japão em sua bicicleta. O mangá foi originalmente serializado na revista Super Jump da Shueisha, em 1992. Recebeu adaptação para anime, no formato OVA com 6 episódios, produzidos pela Shueisha em conjunto com a KSS em 1995.

Apesar das cenas de nudez, orgasmo, e masturbação feminina, a série de anime não é estritamente do gênero "hentai", ao contrário do mangá, que se torna pornográfico a partir do segundo volume.

Sinopse

"Kintaro Oe é um rapaz de 25 anos que toma uma estranha decisão. Ao invés de passar sua vida preso em escritórios, tentando estabelecer uma carreira dentro de uma empresa, ele decide viajar pelo Japão pedalando sua bicicleta e fazendo "bicos" aqui e ali. Apesar de ser o primeiro aluno em sua turma na faculdade, Kintaro larga tudo e resolve cair na estrada, tentando aprender com as situações com que se depara no dia-a-dia. Munido de sua inseparável agendinha, Kintaro anota tudo o que lhe parece interessante, pois sente que pode tirar proveito destas situações no futuro."



seguindo temos essa também:




Introdução à Cultura Pop Japonesa

Autora: Cristiane A. Sato, formada em direito pela Universidade de São Paulo, pesquisadora de mangá e animê, presidente da ABRADEMI – Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações, colaboradora de publicações sobre cultura popular japonesa, mangá e animê desde 1996. Palestrante convidada em eventos diversos no Centro Cultural Itaú, Sesi, Sesc, FAU-USP, Fundação Japão, Embaixada, Consulado Geral do Japão, etc.

A “pop art” e a “pop culture” são fenômenos culturais relativamente recentes. Talvez ninguém melhor identificou e expressou esses fenômenos como o artista norte-americano Andy Warhol na década de 60. Ícones que representavam valores e referências de uma nação que se solidificava na liderança político-econômica mundial, estavam sendo divulgados numa velocidade nunca antes presenciada pela humanidade, por todos os meios de comunicação de massa que a tecnologia podia oferecer. O rosto insinuante de Marilyn Monroe em painéis colorizados, a lata de sopa Campbell's e os heróis fantasiados com poderes sobrenaturais dos “comics” foram só alguns dos inúmeros ícones e clichês que, no século XX, viraram sinônimo de Estados Unidos para pessoas nas mais diversas partes do globo, das mais distintas culturas, idiomas, crenças e hábitos. Esses “produtos”, frutos de vários tipos de indústrias que eram direcionados prioritariamente ao público interno norte-americano e que refletiam hábitos, gostos e valores daquela nação, aos poucos tornaram-se veículo de transmissão daquela determinada cultura para outros povos, muitos dos quais,mesmo sem a mesma origem cultural, acabaram adaptando ou até mesmo assimilando aqueles valores. Assim ocorreu com a produção cinematográfica de Hollywood, produzindo diversão e fantasia acessível até ao mais humilde dos americanos, e que acabou ditando a moda, os valores e aspirações de platéias no mundo inteiro, transformando a própria fábrica de sonhos e os sonhos que ela cria num sinônimo, ainda que irreal, de Estados Unidos. O Japão, nação oriental cuja história acumula 2 mil anos de realizações e transformações, permaneceu por mil e quinhentos anos quase intocado por sua localização geográfica e pelo fato de ser uma ilha. As poucas influências culturais e tecnológicas externas, via de regra vindas de outras nações orientais, fizeram com que crenças e hábitos locais evoluissem para manifestações culturais muito particulares. Quando Marco Polo alcançou a China, ele trouxe ao ocidente informações muito superficiais sobre a existência de uma ilha com tesouros desconhecidos, que Kublai Khan tentou conquistar com uma mal-sucedida investida naval, destruída numa tempestade com fortes ventos que deram origem à expressão “kamikaze”. Mais de cem anos depois, no século XVI, quando os primeiros ocidentais que chegaram ao Japão pelas ainda recentes rotas marítimas comerciais, e relataram o que haviam descoberto na Europa, o impacto foi surpreendente. Os ocidentais estavam descobrindo uma civilização que, naquela época, já possuia mil e quinhentos anos de existência, e que em quase nada se comparava a outras culturas que já conheciam ou haviam ouvido falar. Esse primeiro contato do ocidente com o Japão, mais especificamente com Portugal e com a Holanda, durou apenas um século. O advento do shogunato Tokugawa no início do século XVII, expulsou os ocidentais do Japão e isolou o arquipélago culturalmente até a segunda metade do século XIX. Com a Restauração Meiji, a necessidade de desenvolver a economia e a industrialização do país resultou na abertura dos portos e na receptividade a novas tecnologias e influências culturais do exterior. Assim como ocorreu dois séculos e meio antes, não demorou muito para que o ocidente “redescobrisse” o Japão. Desta vez, entretanto, a troca de informações ocorreu com mais velocidade e o choque cultural foi inevitável. Esse fluxo de informações, infelizmente, não se manteve constante ao longo deste último século e meio. Durante a Segunda Guerra Mundial, tendo o Japão formado o Eixo junto com a Alemanha nazista e a Itália fascista, suspenderam-se as relações diplomáticas com vários países que apoiavam os Aliados, e a cultura japonesa ficou por mais alguns anos confinada ao arquipélago. Restabelecida a paz, novamente a cultura japonesa tornou-se motivo de curiosidade e fascínio. A imagem tradicional do Japão, ligada à ética do bushido, dos samurais e katanas, kimonos de seda, geishas, bonsais, templos e cerejeiras em flor, aos poucos foram dando lugar a uma imagem mais atual, porém não menos curiosa, de um Japão voltado à reconstrução do pós-guerra, cada vez mais ocidentalizado em forma, mas revelando aspectos tão antigos quanto os das imagens tradicionais. Não são mais as gravuras ukiyo-e que trazem essas imagens ao ocidente, mas histórias em quadrinhos com personagens caricatos, de corpos magros, grandes olhos e cabelos espetados. Não são mais os filmes de Akira Kurosawa e seus cativantes épicos de samurais e ronins, mas filmes de qualidade discutível com monstros gigantes destruindo Tokyo, que trazem ao ocidente uma curiosa amostra do que é popular nas salas do outro lado do mundo. Foi a TV, na segunda metade do século XX, que trouxe aspectos de um Japão menos aristocrático e histórico a lares de diferentes culturas no mundo inteiro. Sem qualquer intenção premeditada, produções japonesas de animação foram sendo exportadas e televisionadas em vários países a partir da década de 60, como mera alternativa de diversão despretensiosa. Personagens com nomes como Mitsuo, Saori, Tetsuo, Kaoru e Yukito passaram a ser tão comuns aos ouvidos como nomes em inglês. A estética dos olhos grandes e cabelos espetados foi se tornando familiar, e passou a ser sinônimo de estética japonesa, embora esse visual em nada corresponda à realidade física dos orientais. Hábitos como comer bolinhos de arroz com palitinhos, usar uniformes escolares parecendo roupas de marinheiro, ver placas e letreiros escritos em japonês e pratos chamados “okonomiyaki à moda sulista”, aparecem todos os dias na TV, diante de crianças e adultos que raramente têm idéia de que tais coisas existiam, e que a partir desse inusitado meio descobrem a existência de um povo com tradições e hábitos diferentes. Por se tratar de um fenômeno muito recente, haja vista que a popularização dos desenhos animados japoneses no ocidente ocorreu da década de 80 para cá, é interessante observar que ainda hoje existe certa relutância nos meios acadêmicos em considerar a animação como manifestação da cultura japonesa. Provavelmente isso decorre do fato de que os próprios japoneses acreditam que boa parte das chamadas manifestações de cultura pop não passam de modismos. Entretanto, é inegável que através da animação, difundiu-se internacionalmente aspectos de valores e referências culturais exclusivamente japoneses, assim como o cinema americano serviu de difusor dos valores, do estilo de vida e da estética americanos. Isso se verifica não apenas na constatação pacífica de aspectos curiosos ou exóticos que aparecem nessas produções, como também em situações que geram interpretações às vezes equivocadas e culturalmente conflitantes com cultura local onde os desenhos japoneses são exibidos.

FONTE: www.culturajaponesa.com.br – autora: Cristiane A. Sato

sábado, 21 de agosto de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

LIVROS FANTASMAS 2





Apareceu do nada, leitura bem rápida, vários fatos interessantes, passagens com os reis da música e futebol, atrizes gringas, grandes atores no armário, e outros.
Caso David Cardoso fosse americano, poderia ter tido sua carreira ressuscitada por um Tarantino da vida.



Capítulo II - A Força de Mogambo

"Desde criança que gostava de cinema, mas um filme me marcou na infância. Eu tinha uns nove anos, estava em São Paulo, quando um tio meu, que depois foi diretor da revista Visão, me levou ao Cine Metro para assistir Mogambo, com Clark Gable, Grace Kelly em começo de carreira, e Ava Gardner que para mim é a mulher mais bonita que já apareceu no cinema. Direção de John Ford. Mas naquela época, claro, não me prendia ao nome de diretor. Gable com aquele charme aos 54 anos de idade. Assisti à primeira sessão e fiquei impressionado com o filme. Aquela forma de fazer Cinema me tocou muito.Voltei para casa onde o meu já estava lá, dizendo que tinha que voltar para o Mato Grosso no dia seguinte. Mas pedi mais um dia para voltar ao Metro e ver Mogambo de novo. Entrei ao meio dia e sai as oito da noite... Isso porque menor não podia ficar depois dessa hora. Cheguei a chorar diante do filme. Uma emoção incrível.

Passados uns três anos, estava de férias em Maracaju que não tinha cinema. O meu pai me mandou à estação de trens pegar uma encomenda. E lá fui eu, aproveitando para comprar a Cinelândia que era quinzenal. Na estação, encontrei o Jair, um amigo meu, bem chucro, típico de fazenda, mas que gostava de Cinema e que sabia também desse meu gosto. Ele me convidou para assistir um filme. Estranhei, afinal Maracaju não tinha cinema, mas o Jair disse que ia ter exibição em um clube, por sinal um clube bem tosco. Concordei em ir e perguntei qual era o filme. “Mogambo”, respondeu. Fiquei pasmo. A cópia estava chegando naquele trem, vinha de Ponta-Porã e deveria chegar às 11h29. Por quê 11h29 e não 11h30? Eu nunca entendi esses horários da Noroeste, era tudo assim, 17h23, 9h18... Fiquei em um estado de excitação total, não pensava em mais nada. E o trem das 11h29 chegou com quase uma hora de atraso. Peguei a encomenda para meu pai, deixei com ele e corri para a casa do Jair, para abrir as latas com a cópia e o cartaz... Certifiquei-me que era Mogambo e fiquei emocionado de almoçar ao lado do filme. Fiz questão de ir ao clube e fiz questão de colocar aquele cartaz. Peguei uma tinta branca e dei um realce em volta. No salão, coloquei as cadeiras em forma de cinema.

A sessão estava marcada para as 8 da noite. Tinha ser naquela hora porque a partir das 10 da noite, não havia mais energia em Maracaju, o único gerador era desligado e a luz acabava. Lá pela sete da noite dá uma reviravolta no tempo. Começou a chover, uma chuva que foi ficando torrencial. E eu em casa que ficava a uns 500 metros do clube. Meu pai não queria me deixar sair, mas coloquei toalha na cabeça, galochas e lá fui. Não tinha ninguém no clube. O Jair chegou e disse que não ia mais passar o filme... Sai na chuva lá pelas sete e meia e convoquei umas pessoas, implorei, e acabei juntando uns cinco gatos pingados. Mesmo assim, o Jair foi irredutível, por contrato ele precisava ter um mínimo de 50 pessoas para assistir. “Eles ficam com 25 ingressos e eu fico com os outros 25. É a lei”, explicou. “E se alguém comprar esse resto de ingressos?”, perguntei. O Jair riu, perguntou quem seria louco. Sai, fui até minha casa, a minha mãe já dormia e de forma sorrateira abri uma gaveta do meu pai e surrupiei o dinheiro necessário. Quando volto para o clube, entrego o dinheiro e... Um black-out geral. Que desespero. Naquela escuridão, eu pedindo para o Jair passar o filme assim que a luz voltasse. E voltou. Mas fraca. O projetor não alcançava a velocidade necessária. Daí a pouco a voltagem se normalizou e surgiu na tela esplendoroso o Leão da Metro. Eu chorava... Conto isso agora porque meus pais nunca souberam desse meu ato ilícito. Deram por falta do dinheiro, mas pensaram que um parente pegou, jamais desconfiaram do filho. Me arrependo de nunca ter contado... E eles já se foram, sem saber a verdade. Mas era tamanha a minha paixão por cinema. E por Mogambo."

Dica de filme: Corpo Devasso

Este é o "Midnight Cowboy" tupiniqum



Este filme é exemplar em relação à produção da Boca do Lixo, por vários motivos. Primeiro, por representar uma época que originou várias obras hoje antológicas, como "A Mulher que Inventou o Amor", de Jean Garrett, e "Império do Desejo", de Carlos Reichenbach, sem falar nos blockbusters "Giselle" e "Mulher Objeto".

Em segundo lugar, Alfredo Sternhein chamou para trabalhar consigo uma equipe que era uma seleção do que a Boca tinha de melhor. Ody Fraga o ajudou no roteiro, Claudio Portioli fez fotografia e câmera, e a produção é da DaCar, de David Cardoso, que faz o protagonista. O elenco traz mais umas dez figurinhas carimbadas da Rua do Triunfo.

Por fim, "Corpo Devasso" é um dos exemplos mais bem-acabados da tentativa de se unir apelo popular (sob a forma de erotismo) a uma certa militância política e de costumes no cinema brasileiro.

No início, você acha que está vendo um filme típico de David Cardoso: Beto é um atleta sexual simplório, explorado por uma enorme sequencia de mulheres: a filha do patrão (Evelise Olivier), uma fotógrafa tarada (Neide Ribeiro), uma advogada fazendeira (Meiry Vieira), a filha dela (Nádia Destro) etc... Mesmo a jornalista militante (Patrícia Scalvi) que se apaixona por ele acaba por largá-lo na primeira dificuldade.

Em meio a estes desencontros, Beto cai na prostituição. É quando conhece Raul (Arlindo Barreto, que fez o Bozo nos anos seguintes), que se apaixona por ele. É então que a obra se distingue e passa a integrar o panteão dos melhores momentos da Boca do Lixo.

O diretor não teve medo de mostrar o "rei da pornochanchada" em cenas de sexo com outro marmanjo. Mas vários outros filmes fizeram algo semelhante. O que é inovador aqui é que os gays de Sternhein, se não fogem inteiramente dos estereótipos, são, por outro lado, complexos, podem ter facetas diversas. A homossexualidade não os torna, necessariamente, melhores ou piores. Vistos sem preconceitos e sem paternalismo, tornam-se simplesmente humanos. Imagino que seja um caso único, na época.

Beto, por sua vez, não é apenas um rapaz do interior explorado pela luxúria e pelo "desamor" da cidade grande. Ele se mescla a essa megalópole, torna-se confuso e contraditório como ela própria, é capaz de encantar-se e de enojar-se com sua própria sexualidade. Esta, se proporciona dinheiro a seu bolso e prazer a seu corpo devasso, também domina tiranicamente seus passos, do dia em que foge da roça àquele em que sai da prisão. Para mim, a melhor atuação da carreira de David, justamente em seu papel mais desafiador.

A obra traz ainda uma ansiedade gostosa, típica dos tempos da abertura, quando se começava a poder falar de política sem (muito) medo de represálias. Fala-se de socialismo, democracia, greve, corrupção, tudo de uma forma atropelada, caótica e inconclusiva. Quem gosta de achar defeito dirá que é filosofia de botequim; eu prefiro ter consciência histórica e notar que isso é próprio de quem ficou amordaçado muito tempo.

É quase certo que este discurso poderia se refinar e se organizar com o tempo, principalmente nas mãos de diretores como Sternheim (cujas obras muitas vezes trazem este conteúdo político). Porém, por motivos de força maior, a Boca tomaria o rumo do sexo explícito poucos anos depois, o que acabaria por levá-la a uma irreversível decadência e ao colapso final, por volta de 1987.

Entre as cinzas, "Corpo Devasso" resgata um dos momentos mais críticos, criativos e ousados daquela produção. Uma bela amostra do que o cinema brasileiro de extração popular tinha de vigor, potencial e ousadia.

domingo, 15 de agosto de 2010

EMPRESTA AÍ ?!


Foto de Tomás Rangel

Robert Crumb, ao som de blues e Pixinguinha
Por Bruno Dorigatti

“Com licença, poderia lhe dar estes vinis?” Robert Crumb estava em sua pousada, em Paraty, após a coletiva de imprensa e a assessora da Conrad, editora que publica seus álbuns no Brasil, havia me dito que talvez conseguisse entregar a ele os LPs e dois 78 rotações que havia trazido do Rio de Janeiro. Como Crumb, também aprecio o som dos anos 1920 e 1930, o blues e jazz dos norte-americanos e o nosso choro e samba. Pensei que o quadrinista, autor de Blues (Conrad, 2004) – livro sobre obscuros blueseiros como Charley Patton, capas de vinis e revistas retratando os velhos músicos daquele tempo e histórias onde transparece sua irritação com o barulhento rock’n’roll – pudesse se interessar pelo som de gente como Pixinguinha, Altamiro Carrilho, Canhoto, Noel Rosa, Jacob do Bandolim e Época de Ouro, Aracy de Almeida, Paulo Moura. Encontrei os LPs com certa facilidade no centro do Rio, alguns álbuns clássicos desta turma acima, como São Pixinguinha, com a histórica foto de Walter Firmo do flautista e saxofonista na capa, sentado em sua cadeira de balanço no quintal de casa. Mas os 78 rotações, aqueles antigos discos um pouco menores que os LPs, e muito mais frágeis porque feitos de porcelana, são difíceis de achar no Rio. “Em São Paulo, você encontra com mais facilidade, mas aqui…”, me disse um dono de uma loja de vinis em frente ao Mercado das Flores, no centro. Mas dei sorte e acabei achando dois discos que poderiam interessar Mister Crumb, um do flautista Altamiro Carrilho e outro com um choro e um baião de Canhoto.

Crumb me disse que, entre estes, conhecia Pixinguinha, e ainda Lupércio Miranda e ficou curioso para ouvir os 78. E topou bater um papo, onde falou sobre as músicas que ouvia em casa, quando criança, no rádio da mãe, como conheceu essas velhas músicas nos antigos filmes do início século e como era difícil achar esse som nos anos 1950, logo após a explosão do rock, quando pela primeira vez a juventude americana foi vista como um mercado consumidor em potencial. A música de duas, três décadas antes havia desaparecido, não existia em LPs, e tampouco existiam livros que contassem aquela história. Crumb então esbarrou com alguns 78 e viu que ali, escondidas, estavam os obscuros músicos e cantoras que ele tanto admirava. Foi o começo desta fixação que dura até hoje, e ele já reuniu milhares de 78 e LPs, guardados em um quarto em sua casa em Souve, um vilarejo no Sul da França, com 1.500 habitantes, onde vive com a mulher, também quadrinista, Aline Crumb.

O quadrinista de 67 anos também falou dos tempos em que começou a publicar suas histórias, em São Francisco no final dos 1960, no momento em que a contracultura norte-americana explodia. Crumb folheava o recém-lançado Meus problemas com as mulheres (Conrad, 2010) - ele ainda não havia visto a edição brasileira) - e o papo começou com os comentários sobre aquelas histórias e retratos dos 1960, 1970 e 1980.

Robert Crumb. Que homem doente…

Você se vê como um doente?

Crumb. É, claro, mas todos eram meio loucos.

E como é fazer esses desenhos?

Crumb. É um prazer, um grande prazer desenhar essas coisas. É uma espécie de masturbação. Sempre tive muito prazer em colocar essas fantasias no papel. Era algo que tinha necessidade de fazer. Hoje nem tanto mais, estou muito velho agora.

E poderia falar de suas primeiras memórias musicais? Ouvia muita música quando criança?

Crumb. Claro, mas a maior parte da música que eu ouvia, era ruim. Aquela música popular que minha mãe ouvia no rádio, dos anos 1940 e começo dos 1950. A pior música popular, de cantores que vocês talvez não conheçam aqui, como Frank Sinatra.

Ele é bem conhecido aqui…

Crumb. Doris Day, Patty Como, coisas horríveis. Ela me falou mais tarde que gostava de ouvir polca no rádio. E quando surgiu a televisão, no começo dos 1950, eu assistia aqueles velhos filmes de 1931, 1932 e eu realmente gostava da música que tinha lá, por alguma razão que nem sei. Comecei a procurar aquela música no rádio, em discos, e não conseguia achá-la. Até que encontrei aqueles discos de 78 rotações bem velhos, quando tinha 16, 17 anos. Descobri que as músicas daqueles filmes estavam nestes discos. Aí me tornei completamente viciado em procurar essas gravações. Eu apenas tinha que ouvir aquela música, não sei por quê. Uma espécie de intoxicação com aquela velha música. Eu ainda sou intoxicado por ela.

Por outro lado, você é associado com a música dos anos 1960, o rock e a contracultura, mas você odeia aquilo.

Crumb. Meus quadrinhos fizeram parte daquela cultura hippie, Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Doors, Jim Morrison. Então relacionavam minhas histórias hippies com aquela música, mas aquilo não me interessava. Não convivia com eles. Conheci Janis Joplin, ela me pediu para fazer aquela capa de Cheap Thrills. Mas não tinha conexão com eles. Estava fora daquilo, desenhando o tempo todo, era o que fazia, desenhava.

E por que esse período da música lhe fascina?

Crumb. Não sei, mas essa música americana como o jazz, a partir dos 1930, não me interessou mais, tirando algo de country e do blues. E me interesso pela música de outros países, alguma coisa dos 1950. E eu gosto de algo dessa época, aqueles velhos rockabillies. É estranho, pois não tenho aquele sincronia com o meu tempo, é muito estranho, desconfortável, mas quando eu escutava aquela música em casa, sozinho, era e é profundamente prazeroso. É mais autêntico para mim, mais real, uma coisa engraçada, sou preso àquilo, que é de antes de eu ter nascido. Minha mãe gostava de Benny Godman, Glenn Miller, Art Shaw, mas a música que eu gostava era do tempo dos meus avós. E termina no começo dos 1930.

E você também desenhou histórias sobre aqueles músicos obscuros como Charley Patton (ao lado) e aquela época.

Crumb. Fui fazer isso mais tarde, até porque quando era jovem e descobri aquilo não havia informação a respeito. Tinha poucos livros sobre jazz, mas coisas sobre Patton você não encontrava. As pessoas estavam começando a pesquisar aquilo, tinha alguns amigos da minha idade que também curtiam aquilo no começo dos 1960, iam pro Sul, Mississippi, Louisiana, Alabama e Kentucky, procurando os discos e pesquisando sobre as pessoas que faziam aquelas músicas.

Tem uma história em Blues, que alguém vai batendo de porta em porta, perguntando se aquelas pessoas têm em casa os 78 e gostariam de se desfazer daquilo. Você chegou a fazer isso?

Crumb. Sim, eu fiz aquilo e achei bons discos assim. Li um livro sobre jazz, de 1939, que tinha um capítulo, “Procurando discos”, e falava sobre bater nas portas da vizinhança negra. Eu vou tentar isso, eu pensei. Tinha 18, 19 anos a primeira vez que saí batendo nestas portas, em Delaware, onde morava. E aquelas pessoas ainda tinham os velhos gramofones em casa e os discos da década de 1920. E perguntava se queriam me vender aquilo, e na maioria das vezes eu conseguia. E como não tinha muito dinheiro, pagava 10 centavos por cada um deles. E achei discos incríveis assim. E os nomes eram na maioria desconhecidos ou esquecidos e me perguntava quem era Big Bill, Salty Dog Sam, Joe Evans e Buddy Boy Hawkins, The Famous Hokum Boys. Aquela música era incrível.

Ainda esta semana, você lê aqui a íntegra do longo papo com Mister Robert Crumb, onde ele fala mais sobre Janis Joplin, porque resolveu ilustrar o livro do Gênesis e o novo álbum que prepara com a mulher, Aline, também quadrinista

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

OH SISTER !!! SISTER !!!



Acima de minha cabeça

Acima de minha cabeça, eu escuto música no ar
Acima de minha cabeça, há uma melodia assim brilhante
E feira
Eu posso escutar quando eu estou totalmente só
Até mesmo naqueles tempos quando eu sinto que toda esperança foi
Eu escuto joybells tocando
Eu escuto anjos cantando
Lá deve ter um Deus, em algum lugar
Lá deve ter um Deus, em algum lugar

Eu escuto música no ar
Eu escuto música em toda parte
Lá deve ter um Deus, em algum lugar

Lá deve ter um Deus, em algum lugar
Lá deve ter um Deus, em algum lugar
Lá deve ter um Deus, em algum lugar

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

LIVROS FANTASMAS





Estava vagando na biblioteca e esse livro me achou. Como assisto ao programa FLASH do Amaury faz tempo, resolvi pegar para dar uma conferida.

Show de risos na madrugada (27 de setembro de 1999)

Amaury Jr. lança livro com as histórias mais divertidas de seus 18 anos de colunismo eletrônico

Alessandra Nalio

Em 1975, o jornalista e apresentador Amaury Jr. tinha 24 anos e apresentava um programa na TV Rio Preto, no qual promovia gincanas entre faculdades. Em uma das tarefas, exigiu que levassem uma sósia da atriz Brigitte Bardot. Uma das equipes levou uma loira deslumbrante. Encantado com a moça, ele a convidou para ser sua assistente. "Era a Ana Maria Braga. Eu a descobri em Rio Preto", afirma Amaury, 48 anos. Essa e outras histórias foram colhidas desde o início de sua carreira, iniciada aos 14 anos como ra-dialista na emissora PRB-8 Rádio Rio Preto, e durante os 18 anos à frente do programa Flash, na Rede Bandeirantes. Estão no livro Flash - Fora do Ar, que será lançado na segunda-feira 27, em uma festa no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo.

Depois de uma diversificada carreira jornalística em São José do Rio Preto, sua cidade natal, onde foi locutor, apresentador de tevê e dono de jornal, Amaury veio para São Paulo a convite do publicitário Mauro Salles para ser repórter da extinta TV Tupi. No início dos anos 80, criou o Flash, inaugurando o colunismo eletrônico na TV Gazeta – com cinco minutos diários. O programa passou pela Record e está na Bandeirantes há 16 anos. Hoje, Amaury tem duas atrações diárias, Amaury Jr., ao vivo, das 15h30 às 17h, e o Flash, durante a madrugada. No primeiro, o apresentador entrevista famosos e desconhecidos com histórias interessantes. O segundo acontece em festas de empresários e de gente famosa. "Além das curiosidades, meu livro também é um manual para jornalistas iniciantes", conta ele. "Tem gente interessada em indicá-lo para estudantes de jornalismo."

O livro reproduz algumas situações vividas pelo apresentador. Uma vez, no começo dos anos 80, Pelé o puxou para um canto durante uma festa e pediu uma ajuda para uma modelo que namorava. "Ele me mostrou as fotos e pediu que eu desse uma força", conta Amaury. Era o começo da carreira da hoje superestrela Xuxa. Outra história foi relatada pela atriz Marisa Orth. Enquanto se preparava para a sessão de fotos para a Playboy, a atriz ouviu de um homem a frase: "Ela é bonita, mas o problema é que está com as tetas meio castigadas". Antes de descobrir que o comentário era sobre a cadela pastor alemão que posaria com ela numa foto, Marisa quase arrumou uma briga.

Apesar da experiência como entrevistador, Amaury já engoliu desaforos. Durante uma festa numa casa na avenida Rodeo Drive, em Los Angeles, ao avistar o ator Charles Bronson, Amaury se identificou para o astro americano como jornalista brasileiro.
– Onde fica o Brasil? É um país? O que é? – indagou Bronson.

– Não, Mr. Bronson, o Brasil é aquele país que engordou sua conta bancária muitas vezes, assistindo a seus filmes canastrões. Só que agora temos um novo Brasil que já decretou a sua decadência. Queria lhe dar oportunidade de recuperar seu prestígio – devolveu Amaury.
"Ele ficou tão furioso que se conteve para não me agredir. Saí de lá feliz", conta o apresentador, que confessa ter sido vítima de suas próprias armações. Também nos anos 80, durante o lançamento do Ford Escort, na boate Gallery, sob a condição de que ganharia um modelo do carro, conseguiu que a então primeira-dama Dulce Figueiredo posasse, sem que ela soubesse, como garota-propaganda da Ford. Antes, pediu dois carros ao publicitário que intermediava a manobra "marketeira". Na hora, inventou que o carro seria doado à Legião Brasileira de Assistência e conseguiu atraí-la até o veículo. A primeira-dama faturou um carro, mas Amaury não ganhou o segundo da combinação. "Até hoje, nunca vi o cheiro do carro", diz.

Apesar do estilo refinado, ele já protagonizou o que chamam de "barraco". Em 1991, o empresário Wagner Canhedo o convidou para o vôo inaugural da Vasp entre São Paulo e Los Angeles. Durante o jantar para empresários brasileiros e americanos, Amaury gravou passagens para seu programa. "Cheguei com minha equipe e ligamos a câmera. Uma relações-públicas disse que estávamos atrapalhando. Mudamos de lugar várias vezes, mas ela nos perseguiu a festa inteira. Disse algumas bobagens e continuei", conta. Mais tarde, ao entrar numa cabine telefônica do hotel, o apresentador foi agredido por um homem. "Bati nele também e ele acabou fugindo. Depois descobri que era o namorado da relações-públicas", relembra Amaury. O caso foi abafado. E o apresentador omitiu essa passagem em seu livro.

sábado, 7 de agosto de 2010

MEU GRANDE HERÓI!!!



Os sábados na minha infância eram de cachorro quente e desenhos maravilhosos.



No Brasil, as primeiras tiras da Turma do Charlie Brown sairam na revista Pingo de Gente, Editora O Cruzeiro, cuja adaptação e projeto gráfico eram feitos pelo cartunista Ziraldo, que nos brindou com pérolas nas traduções: Charlie Brown virou João Barbosa (uma homenagem ao letrista da revista Pererê), Linus virou Lino, Snoopy ganhou a tradução literal de Xerêta, e Schroeder virou Essenfelder. Do nome original em ingles, Peanuts, também veio o apelido do Charlie: Minduin. Pingo de Gente teve vida curta, mas a primeira edição está aqui para recordar. A edição tem data de 10 de Março de 1963.



Esse aqui é alegria garantida, o pianista Vice Guaraldi ficou famoso pela trilha dos especiais para a TV da turma dos Peanuts, Snoopy, Charlie Brown, Linus, Patty Pimentinha, etc, de Charles Schultz. Quando criança eu adorava os desenhos, e agora to pirando aqui com esse discasso que traz algumas faixas clássicas cheias de groove. Ótimo pra ouvir no trampo e para desestressar em qualquer situação.

Vince Guaraldi Trio - A Boy Named Charlie Brown (1964)

01 - Oh good Grief
02 - Pebble Beach
03 - Happiness is
04 - Schroeder
05 - Charlie Brown Theme
06 - Linus & Lucy
07 - Blue Charlie Brown
08 - Baseball Theme
09 - Freda (With the Naturally Curly Hair
10 - Fly Me To The Moon



quinta-feira, 5 de agosto de 2010

EU TAVA LÁ.



Comprei esse LP quando saiu, faz tempo... escutei e dancei muito com ele.
Assisti o show da banda no Radar Tan Tan, era o tempo das danceterias em SP.
Bons tempos.





PASSOS NO ESCURO
Faixas
Lado A
1.Cada Fio um Sonho
2.Agora eu sei (this is the music)
3.Formosa
Lado B
1.Os olhos Falam
2.Passos no escuro
3.Quero te contar

Ontem:



Hoje:

domingo, 1 de agosto de 2010

INSTINTIO SEVAGEM.



edição 51 de FilmeCultura, Ivan Cardoso listou seus Faróis, os filmes que mais o influenciaram, a partir de um depoimento que deu ao redator Daniel Caetano. No entanto, Ivan fez uma versão Lado B da sua lista – versão que pode ser conferida abaixo:

Abaixo, segue a lista “oficial” de Ivan, publicada na edição impressa da Filme Cultura nº51:

Os dez filmes que mais influenciaram a concepção de cinema de Ivan Cardoso

– Gilda (direção: Charles Vidor)

O Zé Lino Grünewald dizia que o filme bem montado é aquele que te faz dormir tranquilamente, enquanto o filme mal montado atrapalha o sono. Esses filmes americanos antigos eram tão bem feitos, com bons castings, que eles faziam a gente acreditar em tudo. Podiam mostrar até a Roma Antiga com os atores falando em inglês que a gente acreditava. Vou dar uma de colonizado (ou globalizado): cinema tem que ser falado em inglês. Com a Rita Hayworth, então…

– Uma aventura na Martinica (To have and have not, direção: Howard Hawks)
Para mim, é melhor que Casablanca. Humphrey Bogart é o ator que eu mais gosto, e esse é com a Lauren Bacall, que depois virou sua esposa. E ainda tem o Walter Brennan numa inesquecível interpretação: “Você já foi mordido por uma abelha morta?”

– O túmulo vazio (The Body Snatcher, direção: Robert Wise)

O Boris Karloff é o cara, não é mesmo? Não tem ninguém que se compare. Nesse filme ele é um ladrão de cadáveres. Esse é um tabu – houve um tempo em que os cientistas precisavam fazer isso para pesquisar. E nesse filme Karloff faz um cocheiro que nas horas vagas rouba cadáveres para um médico. É produzido pelo genial Val Lewton.

– Sangue de pantera (Cat People, direção: Jacques Tourneur)

Outro filme do Val Lewton. Quem gosta de filme noir poderia dizer que esse foi um sonho que aconteceu no escurinho do cinema.

– A ilha do dr. Moreau (Island of Lost Souls, direção: Erle C. Kenton)

Mais um do Val Lewton. É impressionante como uma fita P/B, dos anos trinta, com apenas 57 minutos de duração, tenha me marcado a ponto de poder afirmar que Um lobisomem na Amazônia é a continuação dela. Aliás, o Paul Naschy me disse que só aceitou vir ao Brasil para não perder a chance de encarnar o diabólico Dr. Moreau.

– Acossado (À bout de souffle, direção: Jean-Luc Godard)

O Godard foi o grande subversivo da história do cinema. Ele revolucionou e acabou com tudo, decretando a morte do cinema. Foi a partir de fitas como essa que eu comecei a gostar de cinema, e isso foi bom, porque eu comecei a gostar a partir da desconstrução. Foi ele que quebrou todas as regras, podia ter câmera balançando, cortar sem continuidade, o ator olhar para a lente – liberou geral, mas ele fazia isso com sofisticação. E o Belmondo não é o Nuno Leal Maia, mas é sensacional!

– Psicose (Psycho, direção: Alfred Hitchcock)

Uma verdadeira aula de cinema, que me deixa em pânico do primeiro ao último minuto. Talvez seja ainda mais moderno que Acossado.

– A marca da maldade (Touch of evil, direção: Orson Welles)

Com o espetacular plano-sequência de dez minutos abrindo o filme. Diz a lenda que nele Welles teria gastado mais da metade do seu orçamento. É melhor até que Cidadão Kane.

– O homem que matou o facínora (The man who shot Liberty Valance, direção: John Ford)

Certa vez, perguntaram ao Orson Welles quais eram os três maiores diretores da história do cinema, e o gênio respondeu: “John Ford, John Ford & John Ford.”

– O grande golpe (The killing, direção: Stanley Kubrick)
É impossível ter a pretensão de fazer uma lista dos Dez Melhores Filmes. Mas de uma coisa você pode estar certo: Stanley Kubrick não estará fora dela.

Um bônus:

– O bandido da luz vermelha (direção: Rogério Sganzerla)

Esse é um raro filme brasileiro que é americano. É bem filmado e montado pra cacete, os atores são sensacionais. É uma tristeza, o cinema brasileiro matou o Sganzerla. E por quê? Porque ele era o melhor de todos; um cara desses só surge a cada cem anos.



Ivan Cardoso – Lista “lado B”

Ao contrário dos meus colegas – imagino eu – não tenho uma formação clássica de cinema. Depois de ver O bandido da luz vermelha, já com 16/17 anos, resolvi ser cineasta.

Na verdade foi meu pai quem me introduziu desde cedo no escurinho do cinema. Aliás, naquele tempo – década de 1950, sou de 1952 – o grande must eram as festinhas de aniversário, em que a melhor diversão eram os projetores 16mm, que passam os aguardados filmes… O meu pai também tinha um projetor 8 mm, me introduzindo na sétima arte, assistindo sempre o mesmo filme que ele tinha do Hopalong Cassidy! Eram filmes projetados num lenço de bolso!…

Além do Hopalong Cassidy (que seria o número 1), minha lista teria:

2 - Filmes de Tarzã com o inigualável Johnny Weissmuler – que passavam nas festinhas de aniversário dos filhos do dono daquela casa em que filmei O segredo da múmia. Dois filmes que passaram no meu aniversário nunca saíram da minha cabeça: Os irmãos corsos & A sombra da guilhotina.

3 - As fabulosas matinês do Tom & jerry

4 - O pirata sangrento/ A volta ao mundo em 80 dias/ Sansão & Dalila/ O maior espetáculo da terra/ 300 de Esparta / Ben hur/ El Cid/ A ponte do rio Kwai

5 - Marcelino pão e vinho – trauma da semana santa, o filme passava no colégio

mostrando o copo de cristo morto fora da cruz antes de ressuscitar… Pior e mais aterrorizante que o Mojica.

6 – telefilmes: Os intocáveis, Danger man, Rota 66, Impacto, Lanceiros de bengala, Cidade nua, Além da imaginação, Os três mosqueteiros, Ivanhoé, Os invasores, O fugitivo, Bat masterson, Zorro, Perdidos no espaço, Mike Nelson, Nacional Kid, Rin tim tim, Wyatt Earp, Agente da uncle, O adorável Tab Hunter.

7 – Vendo uns fragmentos de informações & fotos do que existe na net sobre uma novela do canal 6 tupi, O preço de uma vida, descobri o que deve ter me chamado atenção para o gênero do terror e sempre esteve debaixo do meu nariz e não via: o lendário Dr. Valkur, interpretado pelo não menos legendário Sergio Cardoso!
Obs: essa informação é inédita, nunca antes revelada…

8 - Os filmes do Elvis Presley &, muito mais tarde, o impacto de assistir no cinema mais de trinta vezes Help, dos Beatles

9 - Os filmes de Hércules com o Steve Reeves, com aquelas deusas louras seminuas, talvez tenham me introduzido no voyeurismo do cinema e do meu próprio cinema.

10 - Estreia inesquecível : O satanico dr. No, do 007; sessão inesquecível: Sem Destino (Easy rider), no Copacabana; primeiro filme de arte: Matar ou morrer, no Alvorada; filme que marcou época: Blow up, do Antonioni, em que vi a primeira xoxota no cinema. Aliás, vi & revi várias vezes; também marcou época: 2001, uma odisseia no espaço.

11 – também houve atores q marcaram época; filmes do David Niven, do Burt Lancaster, do Tony Curtis (Anáguas a bordo), do Alberto Sordi, do Alain Delon, do Steve McQuenn, do Charles Bronson.

12 – O bandido da luz vermelha, de novo, e outros filmes brasileiros antigos: O cangaceiro; Deus e o diabo na terra do sol; Terra em transe; Fome de amor; Copacabana me engana; Os paqueras.