domingo, 1 de agosto de 2010

INSTINTIO SEVAGEM.



edição 51 de FilmeCultura, Ivan Cardoso listou seus Faróis, os filmes que mais o influenciaram, a partir de um depoimento que deu ao redator Daniel Caetano. No entanto, Ivan fez uma versão Lado B da sua lista – versão que pode ser conferida abaixo:

Abaixo, segue a lista “oficial” de Ivan, publicada na edição impressa da Filme Cultura nº51:

Os dez filmes que mais influenciaram a concepção de cinema de Ivan Cardoso

– Gilda (direção: Charles Vidor)

O Zé Lino Grünewald dizia que o filme bem montado é aquele que te faz dormir tranquilamente, enquanto o filme mal montado atrapalha o sono. Esses filmes americanos antigos eram tão bem feitos, com bons castings, que eles faziam a gente acreditar em tudo. Podiam mostrar até a Roma Antiga com os atores falando em inglês que a gente acreditava. Vou dar uma de colonizado (ou globalizado): cinema tem que ser falado em inglês. Com a Rita Hayworth, então…

– Uma aventura na Martinica (To have and have not, direção: Howard Hawks)
Para mim, é melhor que Casablanca. Humphrey Bogart é o ator que eu mais gosto, e esse é com a Lauren Bacall, que depois virou sua esposa. E ainda tem o Walter Brennan numa inesquecível interpretação: “Você já foi mordido por uma abelha morta?”

– O túmulo vazio (The Body Snatcher, direção: Robert Wise)

O Boris Karloff é o cara, não é mesmo? Não tem ninguém que se compare. Nesse filme ele é um ladrão de cadáveres. Esse é um tabu – houve um tempo em que os cientistas precisavam fazer isso para pesquisar. E nesse filme Karloff faz um cocheiro que nas horas vagas rouba cadáveres para um médico. É produzido pelo genial Val Lewton.

– Sangue de pantera (Cat People, direção: Jacques Tourneur)

Outro filme do Val Lewton. Quem gosta de filme noir poderia dizer que esse foi um sonho que aconteceu no escurinho do cinema.

– A ilha do dr. Moreau (Island of Lost Souls, direção: Erle C. Kenton)

Mais um do Val Lewton. É impressionante como uma fita P/B, dos anos trinta, com apenas 57 minutos de duração, tenha me marcado a ponto de poder afirmar que Um lobisomem na Amazônia é a continuação dela. Aliás, o Paul Naschy me disse que só aceitou vir ao Brasil para não perder a chance de encarnar o diabólico Dr. Moreau.

– Acossado (À bout de souffle, direção: Jean-Luc Godard)

O Godard foi o grande subversivo da história do cinema. Ele revolucionou e acabou com tudo, decretando a morte do cinema. Foi a partir de fitas como essa que eu comecei a gostar de cinema, e isso foi bom, porque eu comecei a gostar a partir da desconstrução. Foi ele que quebrou todas as regras, podia ter câmera balançando, cortar sem continuidade, o ator olhar para a lente – liberou geral, mas ele fazia isso com sofisticação. E o Belmondo não é o Nuno Leal Maia, mas é sensacional!

– Psicose (Psycho, direção: Alfred Hitchcock)

Uma verdadeira aula de cinema, que me deixa em pânico do primeiro ao último minuto. Talvez seja ainda mais moderno que Acossado.

– A marca da maldade (Touch of evil, direção: Orson Welles)

Com o espetacular plano-sequência de dez minutos abrindo o filme. Diz a lenda que nele Welles teria gastado mais da metade do seu orçamento. É melhor até que Cidadão Kane.

– O homem que matou o facínora (The man who shot Liberty Valance, direção: John Ford)

Certa vez, perguntaram ao Orson Welles quais eram os três maiores diretores da história do cinema, e o gênio respondeu: “John Ford, John Ford & John Ford.”

– O grande golpe (The killing, direção: Stanley Kubrick)
É impossível ter a pretensão de fazer uma lista dos Dez Melhores Filmes. Mas de uma coisa você pode estar certo: Stanley Kubrick não estará fora dela.

Um bônus:

– O bandido da luz vermelha (direção: Rogério Sganzerla)

Esse é um raro filme brasileiro que é americano. É bem filmado e montado pra cacete, os atores são sensacionais. É uma tristeza, o cinema brasileiro matou o Sganzerla. E por quê? Porque ele era o melhor de todos; um cara desses só surge a cada cem anos.



Ivan Cardoso – Lista “lado B”

Ao contrário dos meus colegas – imagino eu – não tenho uma formação clássica de cinema. Depois de ver O bandido da luz vermelha, já com 16/17 anos, resolvi ser cineasta.

Na verdade foi meu pai quem me introduziu desde cedo no escurinho do cinema. Aliás, naquele tempo – década de 1950, sou de 1952 – o grande must eram as festinhas de aniversário, em que a melhor diversão eram os projetores 16mm, que passam os aguardados filmes… O meu pai também tinha um projetor 8 mm, me introduzindo na sétima arte, assistindo sempre o mesmo filme que ele tinha do Hopalong Cassidy! Eram filmes projetados num lenço de bolso!…

Além do Hopalong Cassidy (que seria o número 1), minha lista teria:

2 - Filmes de Tarzã com o inigualável Johnny Weissmuler – que passavam nas festinhas de aniversário dos filhos do dono daquela casa em que filmei O segredo da múmia. Dois filmes que passaram no meu aniversário nunca saíram da minha cabeça: Os irmãos corsos & A sombra da guilhotina.

3 - As fabulosas matinês do Tom & jerry

4 - O pirata sangrento/ A volta ao mundo em 80 dias/ Sansão & Dalila/ O maior espetáculo da terra/ 300 de Esparta / Ben hur/ El Cid/ A ponte do rio Kwai

5 - Marcelino pão e vinho – trauma da semana santa, o filme passava no colégio

mostrando o copo de cristo morto fora da cruz antes de ressuscitar… Pior e mais aterrorizante que o Mojica.

6 – telefilmes: Os intocáveis, Danger man, Rota 66, Impacto, Lanceiros de bengala, Cidade nua, Além da imaginação, Os três mosqueteiros, Ivanhoé, Os invasores, O fugitivo, Bat masterson, Zorro, Perdidos no espaço, Mike Nelson, Nacional Kid, Rin tim tim, Wyatt Earp, Agente da uncle, O adorável Tab Hunter.

7 – Vendo uns fragmentos de informações & fotos do que existe na net sobre uma novela do canal 6 tupi, O preço de uma vida, descobri o que deve ter me chamado atenção para o gênero do terror e sempre esteve debaixo do meu nariz e não via: o lendário Dr. Valkur, interpretado pelo não menos legendário Sergio Cardoso!
Obs: essa informação é inédita, nunca antes revelada…

8 - Os filmes do Elvis Presley &, muito mais tarde, o impacto de assistir no cinema mais de trinta vezes Help, dos Beatles

9 - Os filmes de Hércules com o Steve Reeves, com aquelas deusas louras seminuas, talvez tenham me introduzido no voyeurismo do cinema e do meu próprio cinema.

10 - Estreia inesquecível : O satanico dr. No, do 007; sessão inesquecível: Sem Destino (Easy rider), no Copacabana; primeiro filme de arte: Matar ou morrer, no Alvorada; filme que marcou época: Blow up, do Antonioni, em que vi a primeira xoxota no cinema. Aliás, vi & revi várias vezes; também marcou época: 2001, uma odisseia no espaço.

11 – também houve atores q marcaram época; filmes do David Niven, do Burt Lancaster, do Tony Curtis (Anáguas a bordo), do Alberto Sordi, do Alain Delon, do Steve McQuenn, do Charles Bronson.

12 – O bandido da luz vermelha, de novo, e outros filmes brasileiros antigos: O cangaceiro; Deus e o diabo na terra do sol; Terra em transe; Fome de amor; Copacabana me engana; Os paqueras.

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