domingo, 12 de junho de 2011

ASSISTA O MIO BABBINO CARO!!!



Provavelmente nunca teria assistido esta perolazinha chamada ROTA DA MORTE, se não estivesse na biblioteca de BOB.
Um road movie trash, 19h30 pra sempre, Married... with Children estilo Stephen Edwin King, bronha sarada e um fino que satisfaz, roupa suja lavada ON THE ROAD, é isso.
Pouco falado por aqui, e não sendo do meu cast principal, deixo aqui as palavras de outrem.


"Fui assistir esta pequena obra-prima chamada ROTA DA MORTE, no começo do ano, por indicação de um dos integrantes do grupo de discussão da Boka do Inferno. Abençoado seja ele! Não fosse sua indicação, eu jamais teria visto duas vezes este filmão que foi pessimamente lançado no Brasil (novidade...), mesmo tendo ganho festivais de filmes de horror no Exterior, onde goza de boa reputação. Lá fora, por exemplo, levou o grande prêmio no Festival de Cinema Fantástico de Bruxelas, o grande prêmio no Festival Cinenygma, de Luxemburgo, e o prêmio de júri de Melhor Filme no Fant-Asia Film Festival.

Por aqui, entretanto, uma distribuidora conhecida por seu desleixo com os filmes lançou a obra com uma capinha das mais fuleiras (que não dá a menor vontade de alugar) e com uma péssima tradução do título original - DEAD END ficaria melhor como FIM DA LINHA ou ESTRADA SEM SAÍDA; ROTA DA MORTE parece nome de filme com caminhoneiros! O próprio resumo do filme, no verso da capinha, desestimula qualquer pessoa com um mínimo de curiosidade de alugá-lo. Lá está escrito bem assim: "Eles começam a ser mortos um a um, como nos bons filmes de terror" (ou seja, como se este não fosse um bom filme de terror!!!).

Logo, está na cara que ROTA DA MORTE é um daqueles filmes que infelizmente só ganhará o devido reconhecimento através da propaganda boca a boca, do tipo: alguém vê, gosta e diz pra todo mundo alugar para conferir como é bom. Foi assim que eu fiquei conhecendo o filme, e agora estou fazendo a minha parte: assistiam, vale a pena! Trata-se de uma produção independente, e qualquer fã de horror e suspense com um mínimo de conhecimento do gênero sabe que aí é que moram as boas idéias. A toque de caixa, foi filmada numa estrada deserta em Los Angeles, na Califórnia, por uma dupla de jovens diretores/roteiristas franceses, Jean-Baptiste Andrea e Fabrice Canepa (anote estes nomes).



Produções independentes normalmente são conhecidas por trabalhar com elencos amadores, mas esta ainda tem o mérito de trazer nomes conhecidos. O principal é a alma do filme: Ray Wise. Mais conhecido como Leland Palmer, o sinistro pai de Laura Palmer na fantástica série de TV TWIN PEAKS, de David Lynch, Wise nunca teve outra boa chance, seja na TV ou no cinema, acabando condenado a papéis secundários em filmes como ROBOCOP e outros de menor projeção. Em ROTA DA MORTE, o ator dá um show de interpretação e rouba o filme como um amargurado pai de família que se vê às voltas com eventos sobrenaturais.

O mais fantástico de tudo é a capacidade de Jean-Baptiste e Fabrice de manter o espectador vidrado, de olho na tela, por 80 minutos, com uma história que se passa TOTALMENTE DENTRO DE UM CARRO EM MOVIMENTO! Ou seja, não há cenários, apenas uma longa estrada deserta e um carro com cinco pessoas dentro, durante 1h20min de filme!!! E mesmo assim, é um daqueles filmes realmente ASSUSTADORES.

Desde ENCURRALADO, de Steven Spielberg, que mostrava um motorista sendo perseguido por um enorme caminhão durante 1h30min, até o recente VELOCIDADE MÁXIMA, onde Keanu Reeves passa o filme inteiro dentro de um ônibus em alta velocidade, o cinema de suspense já mostrou que é possível criar tramas envolventes que se passam dentro de carros em movimento. Claro, também há muita bobagem dentro deste estilo, como o pavoroso CARRO DESGOVERNADO, telefilme dirigido por Jack Sholder que passa mensalmente na TV, onde um grupo de pessoas fica preso dentro de um carro sem freios!



ROTA DA MORTE começa com a feliz família Harrington dentro de seu carro, dirigindo por uma estrada escura na véspera de Natal. Na frente estão o pai Frank (Ray Wise) e a esposa Laura (Lin Shaye, outro nome conhecido, que já apareceu em mais de 70 filmes, de CRIATURA 2 a O NOVO PESADELO - O RETORNO DE FREDDY); no banco de trás vão os filhos Richard (Mick Cain) e Marion (Alexandra Holden), mais o namorado desta, Brad Miller (Billy Asher). A primeira cena mostra o papai zangado com o atraso da família, graças à demora dos filhos em ficar procurando "seus CDs da Marilyn Bronson". Quando Richard corrige o pai, dizendo que o nome do cantor é Marilyn Manson, e é um homem, não uma garota, Frank sacode a cabeça e lamenta: "Aonde esse mundo vai parar?".

Entram os créditos iniciais e o filme prepara-se para jogar o espectador em um pesadelo de proporções assustadoras. Sabe-se que a família Harrington está indo para a festa de Natal na casa da mãe de Laura, como fazem há décadas. A diferença é que Frank, desta vez, resolveu pegar uma estrada secundária ao invés da interestadual, como sempre, pois já é noite e ele queria fazer um caminho diferente para não pegar no sono no volante. Mas a mudança é inútil, porque ele adormece de qualquer jeito, e o carro dos Harrington escapa por muito pouco de um acidente.

Recompostos com o susto, eles seguem viagem, com Brad e Richard brigando no banco de trás, Frank e Laura se alfinetando no banco da frente, enfim, como toda boa família indo a uma festa de Natal! Mas subitamente, de relance, enquanto passa por uma parte escura do bosque, Frank acredita ter visto o vulto de uma garota vestida de branco, segurando um bebê no colo, no meio das árvores. Ele pára o carro bruscamente, e enquanto tenta convencer a família do que viu, a assustadora moça de branco passa ao lado do carro.



Trata-se de uma loira sinistra que leva um bebê embrulhado em trapos. Ela tem um grande ferimento na cabeça e não fala nada. Assustados, os Harrington decidem levá-la até um posto da polícia florestal que passaram alguns quilômetros antes. É quando o sobrenatural toma conta da viagem...

A moça de branco, como um fantasma, passa a aparecer e desaparecer. Membros da família também começam a desaparecer, um a um, levados por um sinistro carro preto, sendo encontrados mortos de forma pavorosa momentos depois. E, para piorar ainda mais a viagem, Frank descobre que a estrada que eles pegaram parece não ter fim: há horas eles não vêem outros carros além do assustador veículo preto que os persegue, nem cidades, povoados, outras estradas secundárias, luzes... Enfim, nada! Somente uma misteriosa placa escrita MARCOTT, que teima em aparecer de hora em hora - uma cidade da qual ninguém nunca ouviu falar.

Eu moro numa cidade do interior e sei bem como são sinistras estas escuras estradas secundárias, ainda mais quando passamos por elas de madrugada: sem trânsito e sem iluminação, apenas com árvores nas margens da pista, é bem fácil começar a enxergar fantasmas para todos os lados. Por isso, ROTA DA MORTE consegue ser assustador sem ser explícito. Não vemos fantasmas nem demônios feitos em CGI, apenas a interminável estrada, iluminada pelos fracos faróis do carro dos Harrington. A sensação de solidão, de que não existe ninguém para se pedir ajuda e de que aquela estrada pode não ter fim, é verdadeiramente apavorante. Ainda mais quando os diretores usam cenas aéreas, mostrando os faróis do carro praticamente perdidos no meio da floresta escura, engolidos pela negra escuridão.



Mantendo o suspense do início ao fim, ROTA DA MORTE deixa o espectador tomado pelo nervosismo na primeira vez que se assiste, mas não resiste a uma análise mais crítica na segunda vez. Fica óbvio que a duração é muito longa para um roteiro curto, e às vezes o roteiro enrola um pouco demais. O "final-surpresa" também não é tão chocante, ainda mais depois dos filmes de M. Night Shyamalan, que nos ensinaram a ser mais céticos - não é mais tão fácil enganar o espectador. E o roteiro tem algumas incoerências que dão raiva, como a cena em que Richard entra no meio da floresta escura para fumar maconha e ouvir rock no walkman, mesmo sabendo que a família está sendo perseguida por alguém ou por alguma coisa! Em comparação, é uma burrice tão grande quanto ir para Crystal Lake e fazer sexo ao ar livre no meio do bosque!

Mas tudo isso é perdoado quando percebemos que ROTA DA MORTE cumpre o seu objetivo, que é o de assustar fazendo uso apenas de sons e sombras, sem efeitos especiais mirabolantes. Um dos momentos mais chocantes é aquele em que a moça de branco dá seu bebê para Brad segurar. "Mas como ele respira embrulhado nestes trapos?", pergunta o rapaz, ao que a fantasmagórica garota responde, com a maior calma do mundo: "Não respira. Ele está morto!". Outras duas cenas verdadeiramente horripilantes, de deixar roendo as unhas, e que valem a locação, mostram um dos rapazes tendo seus lábios arrancados a dentadas (um efeito muito bem realizado) e a dramática jornada dos sobreviventes em meio à floresta escura, com uma pequena lanterna iluminando troncos e folhas secas - resquícios de A BRUXA DE BLAIR, mostrando mais uma vez como bosques, à noite, são sinistros.

No fim, ROTA DA MORTE ainda nos brinda com alguns diálogos bem divertidos. Além do tal sobre "Marilyn Bronson", ainda tem o desabafo de Frank, dizendo que quando tudo aquilo acabar, vai comprar um Atari e um monte de jogos para se divertir (hahahaha), mostrando estar só um pouquinho defasado em relação aos videogames domésticos. Também vale a pena ressaltar que a moça de branco é interpretada pela linda Amber Smith, uma loira deliciosa que fez pequenos papéis em filmes como BELEZA AMERICANA e LOS ANGELES - CIDADE PROIBIDA – e talvez a partir de agora tenha mais chances no cinema.



Realizado por uma mixaria, o filme é um atestado da criatividade da sua dupla de realizadores que, se o mundo de repente se tornar um lugar justo, vai longe. A produção foi realizada graças à teimosia de ambos. Jean-Baptiste tem 33 anos e criou-se em Cannes, na França; para bancar este seu debut cinematográfico, guardou a grana que ganhava com a tradução de livros!!! Já seu colega Fabrice tem 29 anos e nasceu em Paris, na França, com o mesmo amor pelo cinema de Jean-Baptiste. A julgar pela estréia, a dupla tem condições de surpreender o espectador novamente.

Poucas vezes uma estrada escura foi tão assustadora quanto neste primeiro filme dos dois. E fale a verdade: quando foi a última vez que você se assustou realmente num filme de terror, ainda mais em um onde APENAS cinco personagens passam O TEMPO TODO dentro de um carro na estrada??? Nestas horas, eu invariavelmente me pergunto: quem, além dos cineasta medíocres, precisa de CGI e milionários orçamentos para fazer bons filmes???"

HISTÓRIA: 4
GORE: 2
EFEITOS: 3
DIVERSÃO: 5

Felipe M.Guerra

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