segunda-feira, 27 de junho de 2011

ELE SE DIZ ATEU (SIC)!!!

Tem uns elementos neutros que se dizem ATEUs. ?!?!?!
Quando a água bate na bunda (e ela sempre o faz), chamam ¿por quá?
Como dizia o grande Cacique Jacó:
"O verdadeiro MACHãO tem que sentir a JABA entrar. Queres?!"



A estética do ateísmo chocho ou “Justin Bieber não é ateu?”
por francisco razzo

De uns tempos pra cá um tipo de ateísmo vem ganhado força… ok, vou pular o início da história! A questão é bem clara: como esse ateísmo novo é chocho! Não que não haja grandes ateus, mas faz tempo que não desponta um intelectual ateu que faz as colunas do templo balançarem.

Qual o último grande intelectual ateu que temos registro? (não vale os atores da novela das oito!) Claro, eu sei, o risco de colocar uma pergunta como essa é ouvir respostas do tipo: Dawkins!

Não vamos negar, há grandes intelectuais ateus. O que mais me incomoda sem dúvida é Albert Camus. Incomoda-me tanto que às vezes parece que estou lendo um cristão! Mas Camus é das antigas. Tudo bem que suas questões filosóficas permanecem dolorosamente atuais. “Il n’y a qu’un problème philosophique vraiment sérieux: c’est le suicide”.

O que aconteceu é que o ateísmo aderiu a uma estética chorosa. Dos meus doze aos vinte e cinco anos fui ateu. Antes dos doze não há muito o que julgar, a vida de uma criança não pode ser avaliada ou penalizada pelas suas escolhas, no máximo, estudada!

Entrei no ateísmo depois das aulas de ciência, afinal, não era possível Deus ter criado “tudo aquilo” em seis dias e descansar no sétimo, e aquelas história que ouvia na Igreja, de Evas e Marias, Pedro, Paulo João e José, oras, me pareciam coisas pra boi dormir.

Aos quinze estava lendo os malditos, digo os poetas. E o sentimento trágico da vida começou a fazer sentido. Depois, foi lendo Alberto Caeiro que realmente me dei conta que Deus não existia.

Creio que irei morrer.
Mas o sentido de morrer não me move,
Lembro-me que morrer não deve ter sentido.
Isto de viver e morrer são classificações como as das plantas.
Que folhas ou que flores têm uma classificação?
Que vida tem a vida ou que morte a morte?
Tudo são termos onde se define.


Não precisava “sair do armário”, não precisa de “um dia do orgulho ateu”, bastava olhar pra mim mesmo e tomar consciência de homem. Só o ateísmo niilista é digno de ser levado a sério. Primeiro, Nietzsche (o herói de toda garotada metida a “emo”). Brincadeira, Gaia Ciência é quase o melhor livro que já li! E Zarathustra, depois de Flores do Mal, o melhor poema!

Voltando ao ateísmo niilista, e ao sorriso maroto de Alberto Caeiro: ele é o único que realmente perturba todas as nossas convicções. Não é ceticismo de mesa de bar! Isto é simples, mas extremamente perturbador: O universo não é uma idéia minha. A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha… A noite anoitece concretamente. E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso. O que uns caras precisam de pilhas e pilhas de livros e sermões científicos, Fernando Pessoas consegue resumir numa única tacada! Gênio? Pode ser… mas bocó, jamais!

Não sei se é por ter passado dos trinta que esse tipo de ateísmo novo me dá uma impressão de ser chocho perto de “uns caras aí”. Eu já achava demais levar a sério gente como Sagan, Dawkins ou Harris, mas descobri que ainda existe um porão no fim do poço:



Dia do orgulho ateu

É um costume antigo escolhermos um dia do ano para celebrar aquilo que achamos importante. Além das datas de eventos históricos relevantes, existe um extenso calendário de dias com motivos religiosos, além de datas cívicas e comerciais para lembrar pessoas, profissões, atividades e idéias. Como resultado, todos os dias do calendário têm coisas a serem comemoradas, com graus de mérito bastante variáveis.

Reconhecendo esse fato, grupos minoritários há muito vêm lançando datas para marcar sua luta pela igualdade e pelo respeito, e contra o preconceito e a discriminação, como é o caso do dia da Consciência Negra e o dia do Orgulho Gay. À peimeira vista, a palavra orgulho pode parecer fora de contexto, mas ela é uma tradição sólida entre as minorias, ao menos desde que se começou usar a expressão black pride (orgulho negro) nos Estados Unidos, há mais de quarenta anos. A ela se associou um dos slogans fortes da época, "I'm black and I'm proud" (sou negro e tenho orgulho disso), eternizada em 1968 pela homônima canção de James Brown.

Nesse contexto, falar em orgulho não é uma maneira de se dizer superior, apenas uma maneira de afirmar que não somos inferiores. Falar em orgulho é importante quando existe uma idéia socialmente difundida de que a sua identidade é intrinsecamente negativa e deve ser motivo de vergonha. Esse é o caso dos negros, é o caso dos homossexuais, e também o caso dos ateus. Falar em "orgulho ateu" é dizer que temos orgulho de sermos quem somos. É dizer que nosso ateísmo é uma parte integrante de nossas posições perante o mundo, e que é uma vergonha que muitos de nós se sintam obrigados a esconder sua identidade para serem plenamente aceitos em seu círculo familiar, social ou profissional. É dizer que os ateus também são cidadãos e merecem, sim, respeito.

Cabe lembrar aqui uma importante distinção entre pessoas e idéias. Muitos ateus entendem que algumas crenças religiosas, ou todas elas, não merecem respeito. E isso é um direito deles. Há idéias que simplesmente não são respeitáveis, como a de que negros são inferiores, ou a de que a Terra é plana -- embora possamos, é claro, discordar de quais idéias exatamente não são respeitáveis. Da mesma maneira, os religiosos podem crer que o ateísmo não é uma posição respeitável, no sentido de que ela não se sustenta, não corresponde à verdade ou coisa similar. Mas isso é coisa muito diversa de dizer que os ateus não merecem respeito, o que é tão errado quanto dizer que os cristãos não merecem respeito.

Já existe uma comunidade no Orkut dedicada ao dia do orgulho ateu, onde se votou por estabelecer o dia do ateu em 12 de fevereiro, aniversário de nascimento de Charles Darwin, o eminente biólogo que deu uma das mais significativas contribuições isoladas ao conhecimento humano, que ao mesmo tempo o impeliu do cristianismo ao agnosticismo. É claro que essa escolha pode ser criticada, e há várias outras opções. Mas isso não importa. Em última análise, a escolha de um dia é perfeitamente arbitrária e qualquer parte do calendário é tão boa quanto as demais.

O importante é trazer o assunto à discussão, na sociedade e na imprensa. É termos um dia para refletirmos e fazermos refletir, para falarmos com amigos e lhes enviarmos mensagens de email, para sair do armário e parar de sentir vergonha, para lembrar que você não está sozinho e que existem pessoas como você lutando por um mundo melhor.

Ações de calendário

Assim como o dia do orgulho ateu, há outras propostas ligadas ao calendário para as pessoas que não têm religião. Judeus e muçulmanos, por exemplo, têm seu próprio calendário, e não é difícil entender por que é difícil de aceitar um calendário que celebra a crença de que o universo surgiu magicamente há menos de dez mil anos, como é o caso da cronologia judaica. Esse é um erro de um milhão de vezes, semelhante a imaginar que a distância daqui ao Sol é de 150 quilômetros, ao invés de 150 milhões de quilômetros. Mas isso não os impede de continuar celebrando, e a mídia de continuar cobrindo o fato regularmente sem qualquer menção crítica.

Por que então não deveríamos criar o nosso próprio calendário? Essa é a idéia do Universal Atheist Calendar, que propõe como zero o início real do universo como o conhecemos, há cerca de 13 bilhões de anos. Existem outras propostas como a Darwin Era, que se baseia no ano de publicação da primeira edição da Origem das Espécies, em 1859. Há muitas outras alternativas, é claro.

Seja qual for o calendário, ele pode comportar as mais diferentes celebrações seculares. Uma das possibilidades é o Newtal, a comemoração do nascimento de Newton, no dia 25 de dezembro. Podemos continuar usando a árvore, mas pendurando maçãs para nos lembrarem da lenda sobre a formulação da lei da gravitação universal. E deixar uma cópia da sua obra-prima, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, aberta logo abaixo, para nos lembrar de grandes conquistas intelectuais da humanidade. Já existe até uma comunidade do orkut dedicada à data, que surgiu originalmente em países de língua inglesa como Newtonmas.



A estética do ateísmo chocho II – A Banalidade do Banal
por francisco razzo

Comentei no post anterior que o ateísmo novo é chocho! E por uma razão simples, promove um modo de vida banal cuja espessura é… nula. Como medir a espessura de uma proposta de weltanschauung? Afinal, o ateísmo novo é uma proposta radical de “visão de mundo”.

Se adotarmos um critério puramente estético e, nesse sentido, relativista, a única coisa que podemos afirmar a respeito do ateísmo novo é o quanto sua proposta é banal e de péssimo gosto! Comparado com a literatura o ateísmo novo seria algo do tipo “auto-ajuda”, comparado com música, algo como “Restart”.

O critério para se medir a espessura de uma boa proposta de visão de mundo só pode ser um, o quanto ele nos aproxima da realidade. Aliás, esse é a finalidade última da boa filosofia. E resgatar a realidade não pode ser uma tarefa banal.

Claro que na maior parte do tempo, nossos diálogos reais e cotidianos nos botecos da vida, ou até mesmo em chiques auditórios de grandes universidades, com muito esforço, parimos boas banalidades. O problema é quando se começa a levar muito a sério tais banalidades, aí parimos coisas como o ateísmo novo, forró universitário, multiculturalismo, pós-modernismo…

É na vagueza de uma conversa de bar que revelamos o pior de nós mesmos. Na pior das hipóteses construímos um sistema de mundo, e no porão do fim do túnel, agimos segundo os princípios de tal sistema.

Por que não é possível filosofar do zero? Nossas banalidades não permitem, somos definitivamente pessoas mais para bobas que dizem excessivamente coisas bobas do que para gênios. Quando propomos um novo “sistema de crenças”, é inútil não dialogar com a tradição. Não se é conservador por capricho, mas por suspeita!

Como diz Rémi Brague, na sua impecável defesa da história da filosofia: “Uma situação de diálogo realmente bem-sucedida é um fenômeno extremamente artificial. E parceiros de diálogo realmente interessantes são demasiadamente raros. Poderiam ser obtidas coisas muito mais excitantes se pudéssemos falar com pessoas como Aristóteles, Kant etc. Ora, é exatamente isso que a história da filosofia torna possível: ao nos tornar acessíveis os pensamentos desses gigantes [...] ela fornece à discussão filosófica o mais indispensável de todos os seus ingredientes, a sabe, parceiros dignos, parceiros muito mais interessantes que nós mesmos, pequenas pessoas simples.”

O novo ateísmo é expressão máxima da banalidade do banal justamente porque acredita piamente na novidade da sua proposta. Acredita piamente que tal banalidade é coisa séria! Escondido num falatório até bem articulado, oras divertido, muitas vezes bem sucedido em sua retórica, exigente em seus direitos, enfim, que vão conquistando fãs tal como o novo grupo de pseudo-pop-rock-punck-rebeldes-coloridos conquista moçinhas mais jovens. “E isso realmente é uma puta falta de sacanagem!”

Um dos bons testes para saber a espessura de uma boa visão de mundo é a sua durabilidade, o quanto supera um modismo. A medida da veracidade de uma proposta de cosmovisão, de um sistema de crenças, é aquele que consegue superar a asfixia da montanha da linguagem ideológica, dos lugares comuns, dos conceitos parasitas de uma época.

Um exemplo, que me despertou a atenção, pelo grau de servilismo political correctness, foi o comentário que recebi a respeito do meu texto anterior: “É uma resposta tentando não ser preconceituosa e educada, mas as minhas coisas são bobagens e as suas não. Assim que nasce um Hitler.”

Além, evidentemente desse argumento, batizado por Leo Strauss (olha só, um filósofo ateu!), de ad Hitlerum, minha resposta não poderia ser outra: “Não, pode ter certeza que Hitler não acha a questão judáica uma bobagem! O problema foi ele ter levado a sério demais questões das quais ela não tinha menor capacidade de compreender. Um Hitler não nasce das nossas bobagens, um Hitler nasce diante da incapacidade de um número considerado de pessoas perceberem quando se tem um imbecil “comandando” ou dizendo o que é melhor pra elas.“

É por isso que eu fecho esse pequeno solilóquio com a última do Bule Voador, que mais uma vez nos brinda com um inestimável material para nossas pesquisas “pneumopatológicas”. Pra não perderem tempo, ir direto ao minuto 14. (é, sério, uma hora de Bule ninguém merece!) Bulecast nº1 – Humanismo Secular from Bule Voador on Vimeo.

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