sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

BY VICE



Eu pensei em tentar escrever a abertura dessa entrevista do jeito que um jornalista imparcial escreveria. Mas que se foda. O Lemmy é o meu herói, e tentar esconder isso seria um saco. Quando encontrei, fotografei e entrevistei o Lemmy recentemente no camarim de um show em Nova York, me senti uma criança outra vez, sentado na mesa da cozinha com meu avô e ele me contando suas histórias. No começo eu estava nervoso, mas logo nas primeiras palavras o Lemmy me desarmou. Aí ele deixou rolar e contou suas fábulas. Como um fã do Motörhead, não consigo imaginar nada melhor.

Lemmy é de longe um dos caras mais pé no chão que tive a sorte de conhecer. Ele é educado pra caralho, e também não é nada mal para um cara culto como ele. Assim como sua música, ele é bem bruto. Mas ofender aqueles que são fracos é só um subproduto da sua completa honestidade. Lemmy nunca mudou para tentar ganhar aplausos ou suavizar as críticas. O próprio fato de ele existir fala muito sobre o que significa não arredar o pé. Não existem altos astronômicos ou baixos abismais na história do Motörhead. O que existe é simplesmente a trajetória de uma banda cavando com ousadia através de uma nevasca sem fim de shows, mulheres, tendências, puxa-sacos e os porcos da indústria.

Vice: O que te fez dizer: “Eu quero ter uma banda”?
Lemmy: As mulheres.

As mulheres?
Sem dúvida, as mulheres. Ver elas na TV se aglomerando em volta de cantores de rock. Cresci nos anos 50, sabe, e isso era meio que um clássico da época. Ganhei meu primeiro disco em 1958. Eu era bem jovem, e vi esse cantor inglês, Cliff Richard, que ainda está por aí, mas hoje em dia ele é bem diferente do que era. Ele estava na TV, cercado por garotas tentando arrancar suas roupas. Eu disse, “Isso aí é pra mim. Nem parece trabalho”. Mais tarde descobri que era, mas tem mais vantagens do que trabalhar na fábrica de máquinas de lavar.

É, eu diria que sim.
Então foi o que me fez ir atrás disso. Minha mãe tinha uma guitarra havaiana. Mas não pegava muito bem, sabe o que quero dizer? Mesmo assim coloquei cordas nela e levei para a escola depois da semana de provas, quando você não tem nada pra fazer.

Aquela época que você só fica lá sentado.
Isso. E eu fui cercado por garotas imediatamente. Funcionou como um encanto, e eu nem conseguia tocar aquela porra.

Quanto tempo demorou até você pensar “é melhor eu aprender a tocar”?
Ah, umas duas horas. Eu acho bem fácil tocar acordes, é o que eu sempre fiz. Nunca quis ser um guitarrista solo. Demorou para eu saber que existia uma coisa chamada baixo.

Entendi.
Então eu era um bom guitarrista base, mas eu era um merda solando. Muito medíocre, cara.

Mas você tentou tocar guitarra solo?
Sim. Eu toquei guitarra solo durante dois anos em uma banda chamada Rockin’ Vicars. Eu enganava, entendeu? Eu colocava o fuzz no máximo e movia meus dedos pra cima e pra baixo bem rápido, e eles achavam que isso era um solo.

Bandas boas geralmente implodem depois de uns três discos, mas você faz o Motörhead funcionar há muito tempo.
Vai fazer 35 anos agora.

O que as outras bandas estão fazendo de errado?
Eles não acham que a música é importante o suficiente para afogarem as diferenças pessoais em favor dela. Eu sempre achei que nenhum problema pessoal fosse grande o suficiente a ponto de terminar a banda. Quer dizer, teve gente que saiu da banda, mas eu sempre continuei. Eu nunca pensei em fazer outra coisa. É isso que tenho que fazer. Tenho que ficar na porra do camarim dando entrevistas. É a minha vida.

Isso.
Não é mais um emprego.

Eu quero te perguntar sobre o Hawkwind, onde você tocava baixo antes de começar o Motörhead. Como você entrou no Hawkwind?
Vi eles tocarem uma vez antes de entrar na banda. Todo mundo estava tendo um ataque epilético coletivo—a plateia inteira, 600 pessoas. Pensei, “Caralho, tenho que entrar nessa banda”.

Quais eram os prós e os contras de fazer parte do Hawkwind?
O que eu gostava é que era a primeira vez em que eu tocava baixo, e descobri que eu podia ser um bom baixista. Quer dizer, eu virei baixista e era muito bom naquilo, sabe? Isso foi incrível pra mim—meio que abriu os meus olhos—e também havia muita liberdade na banda pro baixo. Eu podia fazer um monte de firulas e outras espertezas atrás do Dave, que tocava guitarra solo. Sabe como é, eu ficava me exibindo, como sempre.

Para as minas.
Qual é a graça se você não pode se exibir? Isso é rock ’n’ roll.

Quais eram as coisas que te enchiam o saco de verdade?
No Hawkwind? A postura deles. Cara, eles nunca me disseram que eu era da banda.

Porra. Você ficou lá cinco anos.
Cinco anos. Eles me despediram e eu disse: “Vocês não podem me despedir, seus babacas, vocês nunca disseram que eu fazia parte da banda!”

Quem mandava na banda?
Dave Brock, o guitarrista solo. Era tudo dele.

Eu sempre pensei, de assistir a entrevistas, que ele parecia um cara bem razoável.
Ele era, mas naquela época éramos muito bem-sucedidos na Inglaterra—número um das paradas e tudo mais. E isso mexe com as pessoas de jeitos diferentes. Eles nunca me perdoaram de verdade por ser o cantor da única música deles que fez sucesso. [risos]

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