sábado, 24 de outubro de 2009

INVOCATION OF MY DEMON BROTHER



Foto de Invocation of my Demon Brother
Do cineasta underground Kenneth Anger
Um filme sobre Charles Manson cuja trilha sonora é assinada por Mick Jagger.


"O tempo deve ter um fim", de Kenneth Anger.


Pense nisso: há cem anos, o público que vai ao cinema tem sido enganado. Seja vendo uma multidão de trabalhadores deixando a fábrica Lumière em 1895, ou ondas quebrando contra rochas, ou um trem chegando a uma estação, a audiência tem sido enganada por uma ilusão de vida, quando tudo o que vê é uma série de fotografias projetadas, com um intervalo de escuridão entre cada uma. A vontade de acreditar e a persistência da visão nos deram o cinema. Como cineasta, ao montar meus próprios filmes, eu sempre estive consciente e me deixei cativar pela sedução das imagens em miniatura, os quadros, fluindo como uma cascata, enquanto a iluminação, a cor e a ação mudavam. No visor de minha mesa de edição eu podia parar o tempo e isolar um quadro representando a essência do evento em movimento. Assim nasceu a idéia dos icons, de Kenneth Anger. [Esses] quadros individuais [foram selecionados] de muitos filmes meus, que achei que poderiam se sustentar por si próprios como imagens cativantes e instigantes. Em alguns casos, ampliei o copião de filme para mostrar vários quadros e capturar a nebulosidade e o fluxo do próprio movimento. Em outros casos, tais como os close-ups de Anaïs Nin ou de Samson De Brier no filme inauguration of the pleasure dome, parei o quadro num sorriso que se esvaía, ou no brilho sardônico do olho. Ah, capturar, desacelerar e deter o tempo – a Ilusão do Mundo. Claro que ele vai escapar de novo – e é necessário que ele escape. A Marcha do Tempo é inexorável. Ele está sempre lá Incitando você, Mais rápido, mais rápido. Você o detesta. o amaldiçoa. O respeita. o adora. É o tempo. E a única maneira De se tornar um mestre mágico É derrotá-lo O tempo deve ter um fim. O que é o Presente? Nada mais é que um ponto sobre a linha do Tempo, onde o infinito Futuro é separado do infinito Passado. Metaforicamente: o quadro de um filme. Indo além, é no instante invisível, no átomo teórico do Tempo, trilhões de vezes mais breve do que os 24 quadros por segundo, onde o inexistente Futuro encontra o inexistente Passado. Podemos dizer que tal ponto – o super-super-super-super quadro de filme – exista? Para o Presente existir é preciso que haja algum tipo de duração, por mais breve que seja. Ele tem de existir por algum momento mensurável de Tempo, um metaquadro, por menor que seja. Pois, se ele não existe por um só momento, por um abrir e fechar de um obturador molecular, não se pode dizer que ele exista. Além disso, esse momento, esse Quadro Cósmico, deve ter uma duração própria, por mais breve que seja. Mas, se um momento tem duração, ele deve ter um Passado e um Futuro, como uma sequência de filme, um começo e um fim. Em nossa Ilha de Edição Cósmica, devemos então subdividir esse momento e eliminar seu Passado e seu Futuro, de modo que isole seu Presente – o congelamento máximo de um quadro –, se é que existe um Presente. Em nossa Ilha de Edição Cósmica, temos de dividi-lo em instantes, e temos de continuar dividindo até chegarmos a um instante tão breve que nenhuma parte fracional de um Passado ou Futuro nele permaneça. Quando conseguirmos isso, teremos chegado ao verdadeiro átomo de Tempo – o quadro máximo –, mas teremos eliminado a duração. Um verdadeiro átomo de Tempo não pode ter duração alguma. Não pode ter em si Passado ou Futuro, pois de outra forma não será um agora puro; estará contaminado pela Então-dade [Then-ness] e pela Ainda-dade [Yet-ness]. Um verdadeiro átomo de Tempo – uma célula do corpo do Deus Cronos – não pode ter nenhuma dimensão de Tempo. Portanto, não pode existir no Tempo, pois, sem duração, a existência é impossível. Agora, o que aconteceu com o Presente? Nosso quadro único, isolado? Ele não pode existir por mais de um instante indivisível, um átomo de Tempo, e esse átomo de Tempo não pode existir de forma alguma. Conseqüentemente, o Presente não pode existir de forma alguma, nem mesmo como um ponto teórico onde o Passado inexistente encontra o Futuro inexistente. O Presente é o tempo mais obviamente irreal e improvável de todos os três; ele certamente não existiu no Passado, ele certamente não existirá no Futuro; e a ele não é permitida duração alguma, por uma fração de um instante, agora. Então está claro que o Presente não existe! Se, como foi “provado” no desenrolar do rolo do Tempo, nem o Passado, nem o Presente ou o Futuro existem agora; e se é impossível provar que qualquer um deles tenha existido ou existirá, então não se pode provar que o próprio Tempo tenha qualquer tipo de existência. Pare o projetor. Corte a corrente. Extinga-se a lâmpada de projeção. O mago proclama: O tempo deve ter um fim.

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