sábado, 24 de outubro de 2009

KENNETH ANGER: LÚCIFER É MEU PADROEIRO

Entrevista Kenneth Anger - por Rodrigo Novaes data: 2007

Rodrigo Novaes — Neste ano se comemora o 60-º aniversário da produção de Fireworks. Em sua opinião, qual a importância desse filme na sua carreira?
Kenneth Anger — Fireworks é importante porque iluminou meu caminho. Não defino como carreira o trabalho que desenvolvi durante toda a minha vida fazendo filmes de arte porque sou um outsider, estou fora do cinema comercial.

Como a sua experiência na Europa no pós-guerra influenciou e/ou ajudou o seu trabalho?
– Por intermédio de Henri Langlois e Mary Meerson, da Cinémathèque Française – me abrigou durante doze anos, a partir da primavera de 1950. Eles foram extremamente importantes para a execução de Rabbit’s Moon. Langlois me convidou para montar as seqüências inacabadas de Que Viva Mexico, de Eisenstein, para o Antibes Film Festival.

Aleister Crowley tem um papel muito importante no seu trabalho. que influência tiveram as idéias dele sobre as suas?
Aleister Crowley entrou na minha vida na minha adolescência, quando seus seguidores me emprestaram seus livros. Desde então, Crowley tem sido meu guru.

A estrutura dos seus filmes mostra uma preocupação diferente, se comparada aos filmes tradicionais do cinema dominante. No lugar de se concentrar em um enredo e seguir uma linha narrativa, os personagens de seus filmes transcendem essa dimensão e penetram o terreno dos sonhos, mitos e rituais. Que papel desempenham os sonhos, os mitos e os rituais na sua vida, e, na verdade, nas idéias por trás do seu trabalho?
Desde a infância, os sonhos têm sido meu norte na trajetória da minha vida. Tomo nota dos meus sonhos, e me lembro deles. Meus filmes registram alguns dos meus sonhos. Os mitos e os rituais reforçam minha arte.

Por que você sempre preferiu trabalhar sozinho na produção, na filmagem e na edição dos seus filmes?
Tenho orgulho de ser solitário. Trabalho sozinho por opção. Que fique claro que Hollywood nunca veio bater à minha porta; por isso, tive que me virar com o que tinha em mãos, liberdade e independência, guiado pelo meu espírito e pelo meu cérebro. A idéia de ter uma equipe trabalhando em conjunto para criar um produto comercial pode ser criativamente divertida, mas nunca me foi oferecida.

Os símbolos que seus filmes contêm, a maneira como você constrói as imagens, sua estrutura, as cores, suas técnicas de edição – todos estes elementos tiveram influência duradoura na cultura visual do cinema dominante. E, ainda assim, você só fez curtas.
Vamos cair na real. Nunca tive apoio financeiro para fazer longas-metragens. A necessidade gerou a virtude. A indústria cinematográfica foi em geral exultante ao elogiar meu trabalho. Nunca me ofereceram um emprego.

Você também escreveu a série de livros Hollywood Babylon, mostrando um bocado da roupa suja de Hollywood. Os livros expressam um desejo pessoal de trazer a “cidade artificial” para o mundo real, descrevendo cada detalhe por trás das fachadas do show business. Qual sua relação pessoal com Hollywood?
Cresci em Hollywood. Nasci em Santa Monica e terminei o colegial em Beverly Hills. Sou afilhado de Edmund Goulding, diretor de O beco das ilusões perdidas [Nightmare Alley]. Desde minha adolescência, fui amigo de Robert Florey e James Whale, diretores de natureza maverick [independentes]. Mais tarde, fui amigo de Nicolas Ray. Eu sabia muitas histórias de Hollywood – diretamente da fonte, a começar pela minha avó – sobre a época que hoje é qualificada como “de ouro”. A única razão de ter escrito os livros Hollywood Babylon foi para ganhar dinheiro e poder continuar na Europa. Para mim, Hollywood sempre foi uma relação de amor e ódio – em partes iguais de ambos.

Você gostaria de dar algum conselho aos que estão começando no campo das artes visuais hoje?
Não façam isso, a menos que sejam ricos ou malucos.

Você teria dito certa vez: “Lúcifer é o padroeiro das artes visuais. Cor, forma – tudo isso é obra de Lúcifer”. Você poderia falar um pouco sobre Lúcifer e as artes? Lúcifer é meu padroeiro. O rebelde original. Todo artista deve encontrar seu próprio Lúcifer.

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