sábado, 24 de outubro de 2009

XANADU, A WEB DE UM GÊNIO ESQUECIDO


O nome Ted Nelson lembra-lhe o quê? Talvez, um cantor de música country. Parece mesmo mas não é. Ted Nelson ou mais precisamente Theodor Holm Nelson, 60 anos, é sociólogo, formado pela Universidade de Harvard.

Até aí, nada demais. O que o coloca em destaque – e pouca gente sabe – é que, em 1960, ele teorizou um sistema de base de dados e nomeou-o Xanadu Docuverse, em homenagem à cidade mítica onde ficava o palácio do imperador mongol Kubla Khan, cantada em versos pelo poeta inglês Samuel Taylor Coleridge.

A Xanadu de Ted Nelson era algo mágico também: uma espécie de biblioteca universal, construída em um espaço virtual, onde qualquer um poderia navegar, a partir de textos com vínculos (hipertextos), e pegar livros, enciclopédias, revistas, jornais e imagens sem se incomodar com direitos autorais. Para tanto, os escritores receberiam uma determinada quantia, automaticamente, sempre que alguém copiasse seus textos.

Dá para perceber que a idéia levaria mais tarde à criação da mídia que revolucionou os meios de comunicação: a Web. Portanto, Ted Nelson é seu precursor. Tem mais: ao contrário do que se pensa, não foi Tim Berners-Lee quem pela primeira vez usou o termo hipertexto mas sim Ted Nelson, inspirado numa concepção de Vannevar Bush, ex-presidente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e ex-director do Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico dos Estados Unidos, durante a Segunda Grande Guerra.

Bush tinha escrito, em julho de 1945, um artigo na revista The Atlantic Monthly, de Boston, sob o título de As we may think (Como Deveríamos Pensar), em que ele falava de sua máquina Memex (Memory Extension ou Extensão da Memória, em português), capaz de produzir referências cruzadas entre arquivos microfilmados, através de um processo de código binário, de fotocélulas e de fotografia instântanea – uma versão rudimentar do moderno microprocessador.

Ao longo do tempo, a Memex influenciaria muitos cientistas de peso, inclusive Doug Engelbart (o inventor do mouse). Nos anos 60, ele inventou um espaço de trabalho colaborativo a que chamou de Online System. Ted Nelson também ficou fascinado pela Memex. E, baseado nela, apresentou, em 1965, seu conceito de hipertexto ao universo acadêmico, quando sequer se sonhava com computadores pessoais. "Este sistema permite ir de um documento a outro, por meio de elos de palavras", ele explicou na época, durante uma conferência da Association for Computing Machinery (Associação para Dispositivos de Computação), que reunia (e ainda reúne) a fina flor da comunidade da informática.

E Tim Berners-Lee, como fica nessa história toda? Com o mérito de ter colocado em prática os pensamentos de seus antecessores. Ele mesmo admite isso: "Vannevar, Ted e Doug estavam demasiado avançados para a sua época. Coube a Tim casar as idéias deles", afirma em seu livro Weaving the Web (Tramando a Web) .

A exemplo de Samuel Taylor Coleridge, que não acabou seu poema porque estava sob efeito de ópio, Ted Nelson não concluiu sua Xanadu. Deixou-a de lado, temporariamente, e enveredou por outro caminho: bolou um software que resultaria no festejado pacote de ferramentas para escritório da Lotus.

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