quinta-feira, 11 de agosto de 2011

CUIDADO.



VAMPIROS DA ALMA

Na edição de Junho de 1996 da revista Planeta publiquei um artigo que, na época, fez furor: “O decálogo dos vampiros”. Tratava de um assunto que depois seria desenvolvido por muitos outros autores, aqui e em outros países, o tema dos “vampiros psíquicos”. Eles são aquelas pessoas, homens e mulheres que, de modo inconsciente ou não, sugam a energia vital dos outros. E não, não me julgo o pai da idéia. Outros, antes de mim, já o tinham feito, a começar pela psiquiatra inglesa Shafika Karagulla, que cito mais abaixo. Dada a perenidade do assunto, decidi refazer o artig, acrescentando novos dados e alguns tipos de vampiros que, nos anos sucessivos, percebi existirem. Bom proveito! E cuidado com os vampiros psíquicos. Eles estão em toda parte. Cuidado redobrado se, após a leitura, você perceber – como eu percebi em mim mesmo - que vez ou outra aprecia o gostinho da energia vital alheia…

Texto de Luis Pellegrini

Você já se sentiu exausto depois de passar horas ouvindo um chato tagarela monologar, dizendo abobrinhas a respeito de si mesmo? E notou como o chato, ao encerrar o falatório, está tão bem disposto que parece ter recém chegado de maravilhosas férias no Caribe? Pois bem: o chato, ou chata, pode muito bem ser um “vampiro de energias”. Talvez um vampiro inconsciente da sua condição. Mas sempre um vampiro. E a energia que ele acaba de sugar é a sua força vital, aquela mesma força que mantém você vivo, ativo, fresco e alegre.

Obrigar as pessoas a ouvir blablablás intermináveis, em geral pouco ou nada interessantes, é uma das formas mais comuns de se sugar a vitalidade dos outros. E as vítimas, em geral por boa educação, ficam lá, passivas, deixando-se violentar pelos ouvidos.

Várias vezes, no passado, caí em arapucas do gênero. Feito um parvo, deixava-me enredar pelos tentáculos falantes desses vampiros, a remoer minha muda revolta por dentro, a enviar mentalmente os piores insultos ao chato boquirroto, mas incapaz de por um basta na situação. E quando a tortura finalmente terminava, sentia-me tão esvaziado que só pensava numa coisa: arrastar-me para a cama.

Aliás, tentáculo é realmente o termo certo para se entender como esses vampiros trabalham. Lendo o livro O destino criativo do homem, da já falecida médica psiquiatra inglesa Shafika Karagulla, entendi o problema e encontrei a solução. Shafika Karagulla era também estudiosa de parapsicologia e, segundo alegava, clarividente. Tinha a capacidade natural de “ver” os campos energéticos sutis – a aura – produzidos pelos seres humanos e por todas as demais criaturas vivas. Num dos capítulos, ela narra uma situação terrível que testemunhou com o uso da sua visão paranormal. Ela estava numa festa, sentada numa poltrona. No sofá, bem em frente, havia um casal. O homem, um tipo até bem apessoado, falava sem parar de si mesmo, exibindo-se como um pavão de cauda aberta. A mulher colocara-se na posição de receptora passiva, fitando o sujeito com olhar lânguido, totalmente entregue ao seu palavrório. De repente, na visão de Shafika, tentáculos de energia luminosa saíram da região do umbigo do homem – do seu plexo solar – e se lançaram em direção à mesma região da mulher. Fixaram-se ali e Shafika Karagulla pode perceber claramente o que acontecia: por aqueles canais sutis a energia da mulher começou a ser drenada em direção ao interlocutor. Até que a pobre, no início dona de uma aura luminosa e brilhante, ficou reduzida a um trapo energético. Sua aura tornou-se débil e opaca, olheiras escuras tinham se formado em seu rosto, e sua expressão agora era a de uma pessoa bem mais idosa e cansada. Mas o homem parecia um sol radiante. Bem disposto e feliz da vida, despediu-se da vítima, levantou-se e foi gastar com outros participantes da festa toda a vitalidade que roubara.

Claro, não se pode afirmar que a visão de Karagulla seja objetivamente verdadeira. Mas, subjetivamente, não há dúvida: ela observou um fenômeno real de vampirismo energético ou, como preferem alguns, “vampirismo psíquico”. O resultado é o mesmo. De um lado um ativo sugador de energia vital, e do outro uma vítima passiva.

Desse episódio já podemos tirar uma primeira conclusão: vampiros não são apenas aqueles literais, os dráculas que vão por aí, pelas noites, em busca de pescoços tenros onde fincar seus caninos pontiagudos para sugar sangue. Embora muitos autores afirmem que eles existam de verdade, é mais provável que a imagem clássica do vampiro bebedor de sangue simbolize e represente, na verdade, o vampiro de energia vital.

Não, não duvide. O assunto é sério. Há inclusive especialistas em psicologia e comportamento humano que dizem ser nossa sociedade moderna constituída em boa parte de vampiros. Essa boa parte é feita de gente incapaz de se nutrir em fontes de energia natural, e que por isso vive sugando a força de vida dos outros.

O que é nutrir-se em fontes de energia natural? Todo ser vivo, seja ele humano, animal ou vegetal, não se alimenta apenas de comida sólida e líquida, daquele franguinho ao molho pardo e das bramas de cada dia. Nutre-se também de comida gasosa, através do ar que se respira, e de comida energética, representada pelas energias e vibrações que absorvemos e que são produzidas pelo telurismo do planeta terra; pela natureza – florestas, rios, mares, animais, minerais -; por outros corpos celestes como o Sol e demais planetas, e pelo próprio cosmos.

Cada um de nós é um microcosmo bio-psico-energético, um complexo sistema de energias que interage constantemente com uma miríade de outros sistemas. De forma permanente, trocamos energias com esses sistemas externos, absorvendo deles cargas energéticas necessárias à nossa subsistência, e descarregando neles cargas desnecessárias, os nossos “detritos” energéticos. Ao mesmo tempo, cada um de nós interage com os outros seres humanos que com nós se relacionam, estabelecendo com eles as mais variadas combinações de campos energéticos, influenciando-os e por eles sendo influenciado.

Para isso serve o nosso “corpo energético” ou “corpo de energia sutil”: para possibilitar todos esses enlaces de energia responsáveis pela manutenção e desenvolvimento da vida. De modo análogo ao corpo físico, feito de matéria densa, o corpo sutil possui também uma anatomia e uma fisiologia. Possui órgãos – os chacras – para captar e armazenar energias externas e eliminar energias internas espúrias, e para processar essas energias, da mesma forma que o aparelho digestivo absorve, processa e armazena o alimento sólido e líquido, e o aparelho respiratório capta, processa e armazena o alimento gasoso.

O processo de nutrição energética acontece em geral de modo inconsciente, automático, orientado e regulado pela inteligência instintiva do nosso corpo. Mas esse processo também pode ser incrementado de modo consciente e voluntário. Para isso existem muitos métodos desenvolvidos ao longo das eras pelas diferentes culturas e civilizações. Exemplos de métodos voluntários de nutrição energética são certas iogas, como a hatha ioga indiana, certas artes marciais, como o tai chi chuan, certas técnicas de respiração como as do sistema oriental dos pranaiamas.

Pessoas equilibradas e sadias – tanto no aspecto físico quanto, principalmente, no psíquico – nutrem-se diretamente das fontes naturais de energia. Da energia das árvores, do ar, das águas doces e salgadas, do Sol, etc. Mas pessoas desequilibradas, que por terem perdido o contato com a sua própria natureza interna mais profunda perderam também a capacidade de absorver e processar o alimento energético natural, muitas vezes precisam, para sobreviver, lançar mão de um expediente horrível: sugar a energia vital de outras pessoas. São eles os “vampiros de energias”. Na nossa sociedade moderna seu número aumentou de modo alarmante devido a vários fatores, entre eles a perda do contato direto e quotidiano com o mundo natural.

Os vampiros energéticos são de dois tipos principais: os conscientes e os inconscientes. Os primeiros são mais raros e menos perigosos. Exatamente por serem conscientes, sabem das conseqüências nefastas que a prática do vampirismo energético acarreta para o próprio vampiro. Sabem também que essa prática significará para eles próprios uma angustiante situação de dependência, na qual não mais poderão viver distantes de suas vítimas. E muitos deles conhecem uma lei elementar da magia, a “lei do retorno”, pela qual todo aquele que rouba será, mais cedo ou mais tarde, roubado. Mas os segundos, os vampiros inconscientes da sua condição, são muito mais numerosos e perigosos. Na verdade, quase todos nós, num momento ou outro de nossas vidas, sobretudo quando nos encontramos num estado de desequilíbrio neurótico, acabamos nos comportando como vampiros da energia vital alheia.

A principal característica psicológica de um vampiro é o egocentrismo. Quanto mais a pessoa estiver voltada para si mesma, concentrada em si mesma, mais terá dificuldade em estabelecer contato com fontes naturais de nutrição energética, e mais tenderá a sugar a energia vital das pessoas que lhe estão próximas.

Todos nós, por outro lado, somos naturalmente dotados de mecanismos de defesa contra a perda de energia vital. De todos esses mecanismos o mais poderoso e eficaz é o da manutenção do equilíbrio interno. Quando nosso ponto de gravidade interior está em seu lugar certo – no centro do nosso ser biológico-psicológico-energético-mental -, isso cria um estado de harmonia no corpo sutil capaz de impedir e até mesmo rechaçar qualquer tentativa de invasão externa com finalidades predatórias. Mas, quando perdemos a posse do nosso centro de gravidade, quando o projetamos para fora de nós mesmos, isso altera e debilita a estrutura do corpo sutil, tornando-o permeável àquela invasão. “Fulano está fora de si”, diz a voz popular, significando que o sujeito está doido. Além de doido, ele se torna presa fácil de vampiros de energia vital.

Os vampiros são sagazes e sabem disso. De modo consciente, ou instruídos pelo seu instinto rapace, sabem que para melhor sugar alguém devem, antes, desestabilizar as defesas da vítima. Devem “tirar a vítima do seu eixo interno”. Lançam mão, para isso, de vários estratagemas, todos eles com o objetivo de fazer com que a vítima perca o contato com o seu centro interno e, dessa forma, escancare as portas de entrada do seu corpo sutil à sanha do predador.

Quais são as técnicas dos vampiros para fazer você sair do seu eixo? Muitíssimas. Além daquela já descrita do vampiro grilo falante, as mais comuns são:

Vampiro lamentoso – Ataca pelo lado emocional, sentimental e afetivo. Faz tudo para despertar comiseração. Sua vida é um mar de lágrimas, gemidos e prantos. Cheio de mágoas, coloca-se sempre na posição de vítima sofredora para quem o mundo é um carrasco.
Defesa: diga logo a ele que você detesta lamentos porque queixumes nunca resolveram nenhum problema. Se ele insistir, diga que conhece um livro onde o autor descreve vários métodos de eutanásia. Quem sabe algum dentre eles não resolverá seus problemas de forma definitiva. Enfim, não dê moleza ao lamentoso. E se quiser saber mais sobre esse tipo de vampiro, leia aqui mesmo no blog, na categoria Comportamento, meu artigo anterior, intitulado “Os Lamentosos”.

Vampiro inquisidor – Dispara uma pergunta atrás da outra. Se você tenta responder, ele corta sua resposta fazendo outra pergunta, talvez de assunto completamente diverso. Esse vampiro não tem nenhum interesse em respostas. Quer apenas desestabilizar o equilíbrio da mente da vítima, perturbando o fluxo normal dos pensamentos dela.
Defesa: Corte-lhe as investidas reagindo com perguntas, de preferência idiotas, absurdas ou contundentes. Por exemplo: “Você já transou com pessoa do mesmo sexo?”

Vampiro exigente – Cada fala ou gesto desse vampiro contém uma reclamação implícita ou explícita. Opõe-se a tudo, exige, reivindica, protesta sem parar. Mas como suas reclamações têm pouco ou nenhum fundamento, ele raramente dispõe de argumentos sólidos para defender e justificar os seus protestos.
Defesa: Mande logo ele parar de torrar a paciência.

Vampiro cobrador – Cobra sempre, principalmente aquilo que não lhe é devido. Apresenta-se como credor do mundo; acha que tem direito a tudo, e que não precisa dar nada em troca. Ao cruzar com você na rua, um vampiro desses não irá lhe dizer: “Oi, que bom te ver. Como vai, tudo bem?” Ele vai de imediato cobrar-lhe alguma coisa, tipo: “Você esqueceu que eu existo? Há meses espero um telefonema seu”.
Defesa: Não vista a carapuça de culpado de desatenção pessoal que o vampiro quer lhe enfiar na cabeça. Não fraqueje. Cobre de volta. Responda rápido: “Tinha decidido nunca mais lhe telefonar antes de você me ligar para saber se estou vivo”.

Vampiro crítico – Seu lema é: maldizer sempre, elogiar sinceramente nunca. Critica negativamente a tudo e a todos. Transmite para a vítima uma visão feia e negativa das coisas, das pessoas e do mundo. A crítica impiedosa e negativa cria no ouvinte um estado de alma escuro e pesado, e isso é outro jeito fácil de abrir uma jugular energética e se banquetear com os fluidos da vítima.
Defesa: Diga ao vampiro, sem medo de parecer ridículo: “Coitado, como você está infeliz! Veja que dia (ou noite) lindo! O Sol (a lua-cheia, as estrelas) brilha no céu e você só vê escuridão! Vá se benzer”.

Vampiro puxa-saco – É um adulador. Amacia o ego da vítima, cobrindo-a de falsos elogios. Lembra-se de O corvo e a raposa, fábula de La Fontaine? O corvo, no alto da árvore, carrega no bico um belo naco de queijo. A raposa esperta diz ao corvo que sua voz é magnífica, e pede a ele que cante. Lisonjeado, o corvo abre o bico, emite um grasnado horroroso e… deixa cair o queijo. A raposa abocanha o petisco, e ainda faz sermão ao tolo corvo: “Aprenda que todo adulador vive às custas de quem o escuta”. Cuidado com os aduladores. Dentro de cada um deles está um vampiro à espreita.
Defesa: Não caia na conversa de puxa-saco. Se ele insistir, conte-lhe a fábula de La Fontaine.

Vampiro fuxiqueiro – A fofoca é uma das armas mais perversas dos vampiros de energia. Ele se achega, com ar sacana, e conta segredos da intimidade dos ausentes. Fala como quem lhe dá um presente. Mas, na verdade, planta na sua alma as sementes da maledicência, da traição e da calúnia – demônios muito perigosos para a sua estabilidade energética.
Defesa: não se divirta com as falsas prendas do fuxiqueiro. Mande ele cantar em outra freguesia.

Vampiro pegajoso – A porta de entrada que ele procura arrombar é a da sua sensualidade e sexualidade. Aproxima-se como se quisesse lamber você com os olhos, com as mãos, com a voz. Fuja rápido dessa situação. Esse vampiro é muito perigoso. Ele irá sugar suas energias seja conseguindo seduzi-lo com seu jogo perigoso, seja provocando em você repulsa e náusea. Em ambos os casos você estará desestabilizado e ele irá alcançar seu intento.
Defesa: Diga que você é uma pessoa neurótica e detesta ser tocado. Se ele insistir, diga algo capaz de cortar qualquer tesão indesejado: “Preciso ir urgente ao banheiro”.

Vampiro hipocondríaco – Cada dia aparece com uma doença nova. Diz que é vítima constante daquela dor que anda pelo corpo, e que cada hora está num lugar. É o seu jeito de chamar a atenção dos outros, despertando neles preocupação e cuidados. Deleita-se em descrever nos mínimos detalhes os sintomas dos seus males e todo o seu penar. Quando termina o relatório está ótimo. E quem lhe deu ouvidos está péssimo.
Defesa: Dê a ele o telefone de um bom homeopata. Esses médicos têm uma paciência de Jó para tratar de hipocondríacos.

Vampiro encrenqueiro – Para ele, o mundo é um campo de batalha onde as coisas só podem ser resolvidas na base do tapa. Polemiza sobre tudo e qualquer coisa, mas não quer, ao contrário do que possa parecer, minar as defesas da vítima insuflando nela os sentimentos do medo e da insegurança. Quer contaminar a alma da vítima com a raiva, a ira e a agressividade. Provoca para obter uma reação, para que a vítima compre a briga. Com isso ele a desestabiliza e pode suga-la à vontade.
Defesa: Esse vampiro tem, sobretudo, uma personalidade infantil. Ofereça para ele uma mamadeira, ou algo que tenha o mesmo significado. Ou conte-lhe uma piada de papagaio. Se ainda assim insistir em polemizar, ofereça-lhe – mas sem que ele perceba – um café adoçado com Lexotan.

Vampiro professoral – Não contem pra ninguém, mas foi nessa categoria de vampiro que eu percebi me encaixar, de vez em quando, no passado. Ia numa festa ou jantar e, quando aparecia algum assunto que eu dominava bem, começava empolgado a fazer um discurso interminável, monopolizando a atenção dos presentes. Inevitavelmente, depois de um certo tempo, percebia com surpresa estar torrando o saco dos amigos, os quais, só por muita gentileza e boa educação, não me mandavam fechar a matraca, lembrando que estávamos numa festa e não numa sala de aula. Hoje, faço um esforço para me conter.
Defesa: Se você estiver na presença de um vampiro professoral em ação, e sentir que sua energia vital está indo embora, faça aquilo que alguns dos meus melhores amigos não hesitaram em fazer comigo em algumas das ocasiões em que, sem perceber, incorporei o professorzinho: levante-se do sofá sem dizer uma palavra e vá para um outro canto da casa.

Sobretudo, não brinque com os vampiros. Eles são sagazes. E famintos. Melhor ficar longe deles. Não esqueça, para desencargo de consciência, de fazer uma autocrítica honesta para ver de que lado você está. Lembre-se de que toda a vítima tem seu dia de algoz. Se perceber que está do lado errado, corrija sua rota. Ser vampiro, no final das contas, é tão ruim quanto ser vítima de um deles…

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