domingo, 7 de agosto de 2011

SEJA FELIZ!!!



Uma personagem da nossa história, Gavrila Ardaliónovitch Ívolguin, pertencia a outra categoria; pertencia à categoria de pessoas "bem mais inteligentes", embora estivesse contagiado, da cabeça aos pés, pelo desejo de originalidade. Mas essa categoria, como já observamos, é bem mais infeliz do que a primeira. O problema é que o homem "comum" inteligente, ainda que de passagem (e talvez até durante toda a sua vida) tenha se imaginado um homem genial e originalíssimo, mesmo assim conserva em seu coração o vermezinho da dúvida, que chega a tal ponto que o homem inteligente às vezes termina em absoluto desespero; se fica resignado, já o faz totalmente envenenado pela vaidade interiorizada. Pensando bem, quando mais não seja tomamos um extremo: na imensa maioria dessa categoria inteligente de pessoas, a coisa não se dá de maneira tão trágica; ao término dos anos estraga-se mais ou menos o fígado, e é só. Mas, não obstante, antes de aplacar-se e resignar-se, essas pessoas às vezes levam tempo demais fazendo das suas, começando pela mocidade e indo até a idade da resignação, e tudo pelo desejo de originalidade. Verificam-se inclusive casos estranhos: devido ao desejo de originalidade, um homem honesto se dispõe até a cometer um ato vil; acontece até que um desses infelizes, não só honestos mas até bons, providência de sua família, sustenta e alimenta com seu trabalho não só seus familiares mas até estranhos, e o que acontece? Passa a vida inteira sem encontrar a paz! Para ele não é nem um pouco tranquilizadora nem consoladora a ideia de que ele cumpriu tão bem com suas obrigações humanas; ocorre inclusive o contrário, ela até o irrita: "Eis, dir-se-ia, por que eu desperdicei toda a minha vida, eis o que me atou de pés e mãos, eis o que me impediu de descobrir a pólvora, ou a América -- ainda não sei com certeza o quê, só sei que forçosamente teria descoberto!". O mais sintomático nesses senhores é que, ao longo de toda a vida, de maneira nenhuma eles efetivamente conseguem saber ao certo o que exatamente precisam tanto descobrir e o que exatamente passam a vida inteira já prontos para descobrir: a pólvora ou a América? Mas os sofrimentos, as nostalgias do objeto do descobrimento, palavra, estariam à altura de um Colombo ou Galileu.

Fiódor Dostoiévski, em "O Idiota".

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