terça-feira, 9 de agosto de 2011

NÃO VOU SER MAIS UM BOBÃO

"Hoje resolvi mudar vou cantar
Juro não ser mais um bobão
Hoje resolvi mudar, vou cantar, vou cantar."

Sampa Crew



A expressão “idiotas úteis”, supostamente de autoria de Lenin, refere-se a ocidentais equivocados ao falarem bem de maus regimes.
No jargão político, a expressão era usada para descrever simpatizantes do regime soviético nos países ocidentais e a atitude do governo soviético em relação a eles.
Idiotas úteis, em um sentido mais amplo, se refere a jornalistas ocidentais, viajantes e intelectuais que davam sua bênção – frequentemente com fervor evangelista – a tiranos e tiranias.
Como a curiosidade intelectual pode se transformar em promoção ativa de uma mentira perigosa? Por que existem tantos “idiotas úteis”?



Os idiotas e as baratas são imbatíveis
Sobreviverão ao próprio planeta

Há um visível recrudescimento na idiotização das pessoas. A mídia é a principal usina de produção em série de idiotas e tolos de todos os calibres. O nivelamento por baixo e o achatamento geral do imaginário médio é a principal contribuição dos modernos meios de comunicação de massas. Hoje, é muito fácil encontrar o que eu chamo de idiota triunfante, aqueles sujeitos que se orgulham da própria ignorância e pobreza de espírito. O tolinho jactancioso tira prazer onanista da sua condição, e se basta.
O espírito de nossa época –o Zeitgeist, como diz apropriadamente o alemão — flutua numa emulsão formada por dois elementos: a ciência (as tecnologias) e a idiotice. Os idiotas de nosso tempo se projetam nos gadgets que encontram pelo caminho. Observem: todo o tolo que se preza porta pelo menos um artefato mecânico ou eletrônico. Não vive sem essas muletas. É a sua forma de se referenciar com o mundo, de comunicar a sua estupidez relativa (“afinal, estou conectado ao futuro!”).
Mas o fenômeno não é original. Gustave Flaubert, o corrosivo crítico da burguesia, ainda no século 19 já havia detectado o fenômeno da tolice social. Para tanto, começou a colecionar os ditos correntes do senso comum e reuniu-os no famoso Dictionnaire des idées reçues (“Dicionário das ideias feitas”, numa tradução livre). O escritor francês comentou — e publicou nesta pequena obra de pouco mais de cem páginas — todas as bobagens ditas pelas pessoas que queriam parecer inteligentes e atualizadas. Aliás, Flaubert seria o descobridor da tolice. Quem garante é Milan Kundera, para quem a tolice é a maior descoberta de um século – o 19 – tão orgulhoso de sua razão científica. Antes de Flaubert não se duvidava da existência da tolice, embora esta fosse compreendida de um modo diferente. A tolice era considerada como uma simples falha do conhecimento, um vazio provisório, passível de ser preenchido pela instrução. Mas Flaubert insiste, e praticamente sustenta a sua obra baseada no tema da tolice e da idiotia. Ema Bovary é uma tola que aspirava ser amada por todos os homens. Bouvard e Pécuchet são dois pequenos idiotas que aspiram conhecimentos enciclopédicos acerca de tudo. Leio agora na Wikipédia que Barthes considerou “Bouvard e Pécuchet” como “uma obra de vanguarda”. A considerar a idiotia galopante de nossos dias, pode ser.
Kundera brinca afirmando que “a descoberta flaubertiana é mais importante para o futuro da humanidade que as ideias mais perturbadoras de Marx ou de Freud”. Pois podemos imaginar o futuro do mundo — prossegue Kundera — sem a luta de classes ou sem a psicanálise, mas não a invasão irresistível das ideias feitas, estandardizadas, pasteurizadas, que, “inscritas nos computadores, propagadas pela mídia, ameaçam tornar-se em breve uma força que esmagará todo o pensamento original e individual e sufocará assim a própria essência da cultura européia dos Tempos Modernos”.
O mais chocante — constatado pelos geniais romances de Flaubert — é que a tolice não se apaga diante da ciência, das altas tecnologias, da pósmodernidade (seja lá o que isso signifique). Milan Kundera ousa afirmar que “ao contrário, com o progresso, ela também progride!”
Arrisco a dizer que os bobalhões e as baratas sobreviverão ao próprio planeta.
“Coisas da vida” – como diria Kurt Vonnegut, outro escritor especialista em tolos e idiotas.

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