quarta-feira, 17 de agosto de 2011

POIS É TUDO DA LEI.

Se é arte então pode
por Francisco Razzo


The Lovers, do pintor belga Magritte

Em nome da arte tudo parece ser permitido. Se um dia você precisar matar alguém e não quiser passar pelo constrangimento de ter de viver um tempo atrás das grades, orsa, é só afirmar que seu ato não passou de uma performance artística.
Precisa insultar alguém? Simples! Diga que foi pura manifestação da sua sensibilidade, outrora reprimida, de artística. Está com vontade de jogar merda na cara do seu colega de trabalho? Não perca mais tempo: arte nele!
Depois de Duchamp o artista virou uma espécie de Midas, o que toca é arte! Basta você assumir moralmente e responder pelo seu ato, cuja intenção é expressão máxima da sua sensibilidade, que num passe de mágica ele se torna arte! Duchamp foi um gênio ao ampliar o conceito de arte, mas nunca imaginou a quantidade de bobagens e insanidades produzidas em nome da arte. Os artistas da The Vienna Actionists que o digam!
Mas não estou aqui para fazer julgamentos a respeito de artistas. Afinal, eles vivem numa esfere protegida e longe da moralidade e só querem chamar a atenção. Por moralidade chamo apenas a conduta fundamenta num ato de bom senso. Nada de “nossa, eles vão para o inferno”, “que pecado, meu Deus”.
Uma notícia me chamou atenção: o “beijaço” contra homofobia.
Cerca de 150 pessoas participaram do “beijaço” contra a homofobia marcado para o final da tarde desta a sexta-feira em frente à Catedral de Florianópolis.
Alunos de Artes Cênicas, da Udesc e Ufsc, promoveram a ação, chamando vários casais homossexuais, bissexuais, brancos e negros para que se beijassem ao mesmo tempo.
A organizadora do beijo coletivo, aluna de Artes Cênicas da Udesc, Renatha Lino, reiterou que o movimento foi pacífico e não se tratou de um protesto mas de uma performance artística. Na avaliação da organização 250 pessoas participaram do evento.
Claro, e o fato de ser em frente à Catedral de Florianópolis foi uma mera coincidência, típica da experiência artistica, onde a idiossincrasia e o acaso regem de forma decisiva o fluir do gosto! Concordo, pacífico, artísitico e…? E, protegido de qualquer possibilidade de crítica! Quer dizer, você pode apenas não gostar, criticar é indiferente.
Quando as palavras e os atos assumem pra si apenas um valor estético, a pergunta é, como julgar? Eric Voegelin chamou esse tipo de “jogo da linguagem” onde “as palavras são soltas dentro da lógica da arte” de filosofia Humpty-Dumpty da linguagem.
A atitude de definir os sentidos das palavras é uma prerrogativa de quem as usa, então não podemos submetê-las as devidas críticas. “Quando uso uma palavra, ela significa o que eu quero que ela signifique”, diz Humpty, personagem recuperado por Lewis Carroll em Através do Espelho.
Como vamos criticar uma manifestação dessa natureza se a própria artista já assumiu pra si a prerrogativa de que sua manifestação foi pacífica, porquanto não se tratou de um protesto mas de uma performance artística? Ah, tivesse Bolsonaro se manifestado artistiticamente contra o Movimento Gay!

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