sábado, 6 de agosto de 2011

PRA NÃO SER UM BO(A)BÃO.



Evitando gafes em debates
O ato de participar de debates, hoje, faz parte da guerra intelectual (em maior ou menor escala, é claro). A sociedade e suas decisões são compostas por indivíduos com idéias. Conforme o tipo de idéia de um indivíduo, uma decisão diferente será tomada.
E quando me refiro a debates, não falo apenas de redes sociais. Debates ao vivo, duelos intelectuais acadêmicos, publicação de artigos ou até mesmo a conversa com amigos ou dentro da sala de aula e etc. também servem de exemplos para o que estou falando.
Nesse contexto, é importante para nós, seja no âmbito político (com a rejeição na crença de um “homem bom” conseguido através da promoção do Estado intervencionista que vai regular de consciências para baixo), seja religioso (apologética e obtenção de respeito perante jovens neo-ateus) participar de eventos e demonstrar que nossa posição é respeitável e racionalmente aceítável. E mais importante AINDA é evitar gafes intelectuais nesses duelos. Afinal, uma pessoa mal preparada acaba construindo o efeito inverso: não só não convence os outros, como também PREJUDICA a imagem do grupo perante a platéia de ouvintes/leitores.
Podemos dizer que gafes intelectuais, facilmente evitáveis, são simplesmente imperdoáveis com a situação delicada que temos hoje.
Pensando nisso, aí vão algumas dicas que podem lhe ajudar a passar melhor sua mensagem e não cometer erros que servirão para um ganho político do adversário:
1) Prepare seu discurso “logicamente”:
O primeiro passo para um debate é CONHECER o assunto. A menos que esteja falando com verdadeiros idiotas (e essa técnica bastante aplicada por professores, eu diria), conversar sobre o que não sabe vai levá-lo a ser desmascarado mais cedo ou mais tarde. Estude em autores consagrados e com pessoas próximas para aumentar sua sabedoria. Tire dúvidas também com os mais experientes – isso sempre é útil.
Depois de conhecê-lo, não deixe os conhecimentos dispersos na sua mente. PREPARE o discurso que irá falar, organizando as idéias em uma sequência lógica que permitirá também o entendimento de outras pessoas (e o seu próprio, caso ele fique mais fraco na memória com o passar do tempo). “Comparar Deus com Fada do Dente. O erro disso é: inversão de planos (falsa analogia). Uma discussão se dá no plano empírico, outro é metafísico”… etc. É necessárioNesse sentido, William Lane Craig é um sujeito exemplar. Sua organização para debater é simplesmente notável o que lhe ajuda a ganhar tempo e pontos contra os adversários. Assisti-lo debater nos dá uma boa base para saber como devemos nos comportar.
2) Delibere consigo mesmo como estivesse falando com um auditório universal:
Quando estiver na fase de preparação do discurso, não tente convencer a “você mesmo”, mas imagine algo como um “auditório universal”, composto por vários tipos de pessoas. Motivo? Você já tem uma série de crenças básicas nas quais as outras se sustentam. Mas essas bases não são compartilhadas por todos – muitos acreditam ainda que é possível uma igualdade absoluta em uma sociedade revolucionária, ignorando que as diferenças são inevitáveis pela própria natureza humana, por exemplo – e por vezes tem que ser explicadas.
Então, não pense “O que eu acharia?”, mas sim “O que os outros não entenderiam ou no que eles não concordariam?” para poder direcionar a mensagem nesse sentido.
Um fato que tenho notado é que as pessoas tem um esquema mental de dúvidas mais ou menos parecido. Por exemplo: quase toda vez que você falar do Argumento Moral para um ateu, a objeção dele vai ser algo como: “Mas Deus fez [evento aleatório “X”, como o Dilúvio] na Bíblia, que é horrível. Esse é o seu parâmetro de moralidade?”
Observe que isso não tem nada a ver com o argumento. Não passa da técnica do “Criticismo Bíblico”. Qual das premissas do Argumento Moral essa objeção refuta? A primeira ou a segunda? Na verdade, nenhuma. Isso nos faria no máximo desistir da inerrância bíblica, não aceitar o ateísmo. No momento em que um ateu faz a afirmação de uma verdade moral objetiva (como seria a da objeção – se ele estiver simplesmente afirmando uma verdade moral subjetiva como “Eu não gosto”, isso não serve de base para refutar NADA, só deixar claro que se sente emocionalmente mal com tal fato. O que passa longe, é claro, de refutar qualquer coisa….), ele está logicamente comprometido com a existência de Deus. Então críticas para a Bíblia (que é uma outra parte da discussão, POSTERIOR aos argumentos) são um exemplo prático de aplicação de red herring, nesse caso.
E depois ainda seria um erro catalogar Deus na mesma escala ontológico dos seres humanos. É a velha história de colocar a moral de Deus pautada pelas ações feitas entre humanos. É um outro erro filosófico, já discutido em um post anterior (Moralidade de Deus é julgada pela moralidade dada aos humanos).
Tendo isso em mente, você já poderia se “antecipar” e ter a resposta pronta para quando. Para você, pode até ser risível alguém pensar em criticar a Bíblia para refutar a Filosofia. Mas para outro pode não estar tão óbvio assim. Pense nele, não em você quando for argumentar.
3) Exponha o discurso de forma simples:
Querer dar uma de “gostosão intelectual” traz antipatias e evita que a idéia, que é o centro principal (e não a sua pessoa) se dissemine entre a PLATÉIA, que deve ser o foco. Afinal, como eu sempre digo: não se debate com um neo-ateu para CONVENCÊ-LO que está errado. Debate-se para que o público perceba claramente a sua picaretagem intelectual. O pecado da vaidade também pode ser atratativo, mas o KISS (“Keep it simple, stupid!”) é um conselho irreparável ainda hoje.
É claro que eu não estou dizendo para cortar a parte “intelectual” ou “sofisticada” da fala. Mas tente deixar isso de uma maneira compreensível. Por exemplo: a idéia de mundos possíveis é um conceito “sofisticado”. Tentei explicá-la didaticamente no post sobre o Problema do Mal. E isso ajudou o entendimento.
Então, cumpra quatro passos e fique pronto para debater:
(1) CONHEÇA o assunto;
(2) ORGANIZE esquematicamente, criando uma “cadeia lógica” para suas idéias;
(3) Pense nas objeções que os OUTROS irão fazer;
(4) Quando for falar, fale de forma SIMPLES, tornando a mensagem acessível;
Esses conselhos podem parecer óbvios?
Para alguns sim. Mas eu mesmo sabia dessas coisas e não as coloquei em prática até um bom tempo. Um “puxão de orelha” que o lembre de fazer isso e passar a colocar em prática AGORA pode ser sempre de grande ajuda.

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