quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NO FUTURE 4.





DOIS

- Peep... sssss... Alo ôôô?
- O Editor.
- Momentinho...
- Tá no computer. Stay cool. Mando via aérea registrado, fim de mês.
- E aí, cara? Que prazer... Tás onde?
- Prazer meu. Aonde, em um lugar que Umberto Eco transformaria em delírio semiológico: cabine telefônica em Newark. E aí, o que rola?
- É aquilo, cara. Estão fazendo uma ferrovia que vai do nada a lugar nenhum. Escândalo atrás do outro. Corrupção que não acaba mais...
- Os milicos deram golpe branco?
- Preto no branco, cara. Estou armando a minha saída. Vou para Southern California.
- Estou indo.
- Encontramos lá?
- Estou indo já. Te espero?
- Fica aí. E aproveita pra falar com o Sam Shepard.
- Ele com certeza não largaria o rancho dele, nem Jessica Lange, para tomar um gim tônica em Newark. Vai uma sugestão, enquanto você taí: edita tudo do Martin Amis que os 12 do Olimpo te fazem uma batucada.
- E o som, cara?
- Led Zep em rap com overtones psicodélicos e armada percussiva ao fundo. O som dos 90. Stay cool.
- Não tem outro jeito, cara.


- Momeeeeeento...
- .................
- Alô.
- Nova York urgente. Está para seguir uma entrevista com Mickey Rourke. Favor dar na capa, direito, sem corte, com boa foto.
- Hã...
- Outra: meu pagamento não chegou.
- Tem que ver com o...
- Já sei. Vou ver. Beijos à redação.


- Tu tu tu tu tu tu...


- Peep... ssssss. Pronto.
- Opa!
- Opa!
- Continuo achando Isoldas no metrô.
- Como é que tá aí?
- Embaçado. Bad news. Fizeram “Tristão e Isolda” no deserto de nevada e Las Vegas. Só o “Liebestod”. Puta produção. Deserto ao crepúsculo, última noite de amor sob os néons, cortam os pulsos na banheira, sangue no ralo... everything... but the girl.
- HAH!
- Digo eu. Mas Wagner continua dando banho em todas essas liiiiiindas imagens. Dá pra fazer – e editar melhor. Te falei da “Divina Comédia” de Sollers com um jap samurai e uma Lolita na Firenze do trecento? Grana da NHK? Ridículo tentar fazer filme no Brasil. Tem que vender pra Raí.
- É boa. Viu. Arrumei a steady. A única que tem. O storyboard ta pronto. Pintou cada cenário para a seqüência de “Tristão fou”... E outra concepção para o casamento... Kabuki lisérgico. Saca a linha?
- E grana?
- Cinqüentinha.
- Dollars? Os mesmos? C’est la merde absolue.
- Precisa arrumar produtor. Não arrumou?
- E tive tempo? Você teve tempo! Tem que ser RAI! Filmverlag der Autoren! Lorimar! Co-produção de três, quatro, cinco. Vou ver lá em El Ei. Mas nas dá, tem que mudar esse roteiro todo...
- E a Cannon?
- Os caras vão falir a qualquer momento. E depois do “Rei Lear” de Godard, o go-go boy fried chicken deve tar travadaço... Não dá, ninguém vai buscar esse filme no Brasil.
- Magina! Lenda celta filmada aqui quando o país nem tinha sido descoberto! As imagens estão... ó, vem todo mundo aqui, ó, beijar a mão
-Pré-produção em 1999. Não adianta: vou traduzir para o inglês e tentar vender em El Ei. Com dois anos, consigo. E aí, a barra está pesada?
- Não estou a par. Fui em um congresso de ocultismo em Brasília. Descobri que na vida anterior fui sabe quem? Chuta.
- Deus.
- Perto. Leonardo.
- Os italianos vão adorar saber. Mostrou o roteiro pra alguém? Finanças? Bolsa?
- Tem que mexer nos diálogos.
- É claro. Além disso aí não tem sky-cam.
- Ta aonde?
- Em escala. Crítica. Queriam desviar o avião para Cuba. How boring...
- Encontro em Paris?
- Sim, 89. Vou nessa. Saudações vudu-wasp. Hie...
- Outro forte.

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